“PARA SERMOS DIVULGADOS TEMOS DE APARECER E AQUI NÃO CONSEGUIMOS APARECER”

Composto por Maria Melo e Pedro Botelho, o “Explosão Radical” é um grupo musical oriundo da cidade da Ribeira Grande mas que tem como objetivo crescer muito mais e divulgar as suas músicas e atuações não só em Portugal mas também no estrangeiro.

Numa entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, o grupo, criado há seis anos, admitiu sentir pouco apoio mas garante continuar a lutar.

 

Como nasceu este nome?
Maria Melo: Foi de um momento para o outro, através de brincadeiras, eu e o Pedro juntamo-nos e começamos a cantar nas festas do Espírito Santo e nas festas da freguesia, até montar o grupo e, hoje em dia, animamos as festas aqui em São Miguel.

 

E isso foi há quanto tempo?
Maria Melo: Há seis anos.

 

E antes de se juntarem e criarem este grupo, já tinham alguma experiência na música?
Maria Melo: Não, nunca tivemos experiência, mas já vem de criança, da altura em que participávamos em eventos, em karaokes, etc. Até chegamos a ganhar um 1º lugar na altura e também na escola participávamos em eventos musicais.

 

O que cantam especificamente?
Pedro Botelho: O que cantamos, normalmente, são músicas populares, mas temos também temas nossos originais, com letra e música feita por José Carlos Monteiro, que é de Águeda. Estamos a fazer este projeto juntamente com ele e com algumas pessoas que nos apoiam.

 

E como surgiu essa participação de alguém de Águeda?
Maria Melo: Há muito tempo que conheço o José Carlos Monteiro no Facebook e fui acompanhando os trabalhos dele durante anos, as músicas e letras que compunha para vários artistas. Fomo-nos conhecendo e falei com ele, tive a ver os orçamentos para gravar e marcamos um dia no estúdio dele, há dois anos, com três temas originais para gravarmos.

 

Entretanto, já participaram em programas de televisão, nomeadamente aqui nos Açores e em alguns espetáculos. Como têm sido estes seis anos?
Pedro Botelho: Têm sido anos de muito trabalho, claro. Se queremos algo mais temos de trabalhar imenso e as pessoas veem em nós valor, e daí requisitam-nos. E é muito bom representar a Ribeira Grande nesses eventos, até porque traz uma mais valia ao concelho.

 

Ainda não têm nenhum disco gravado, pois não?
Pedro Botelho: Ainda não mas estamos a trabalhar nisso. Brevemente haverá novidades nesse sentido. Este ano não sei, até pode ser que sim, tudo depende das ajudas que tivermos, ainda é um orçamento que não temos nível de vida para isso, mas estamos a trabalhar para isso.

 

A Maria Melo é de uma família que tem outros projetos musicais, isso é uma ajuda?
Maria Melo: Sim, a minha irmã é vocalista do grupo Capital, em Aveiro. Sempre aprendemos músicas uma com a outra.
Pedro Botelho: A irmã dela começou com as músicas mais tradicionais, os bailes, as desgarradas, depois foi evoluindo com o tempo, daí decidiu evoluir ainda mais na carreira e foi para fora. Tanto é que nós também, não se sabe futuramente, se também queremos evoluir mais um pouco e pode acontecer que também nós partimos para o continente.

 

Quer dizer que na ilha de São Miguel não é possível evoluir?
Maria Melo: Não. É um meio muito pequeno, precisávamos agora era de um CD e depois a televisão, a rádio para transmitir as nossas músicas e poder, um dia mais à frente, apresentar ao povo português.
Pedro Botelho: Os meios de comunicação aqui nos Açores não ajudam muito os artistas açorianos como deveriam ajudar. Deviam proporcionar mais eventos, assim como a televisão e rádios para poder divulgar o trabalho dos artistas açorianos e acho que em Portugal continental ajudam mais nesse sentido de lançar os artistas nos programas de televisão aos domingos à tarde, e à semana também nos programas diários, o que ajuda nas saídas dos artistas. Para sermos divulgados temos de aparecer e aqui não conseguimos aparecer.

 

Sentem-se abandonados?
Pedro Botelho: Nesse sentido sim, porque não há programas aqui que divulguem os artistas, antes havia o programa que dava ao fim de semana, se não me engano, que era o Café Central, programa que não deveria ter acabado porque ajudava muito os artistas de cá e dava divulgação. Era o único que havia cá.
Maria Melo: Pelo menos um, para divulgar o nosso trabalho seria bom.
Pedro Botelho: E faz muita falta cá.

 

O grupo é só composto pelos dois ou há mais alguém?
Maria Melo: Temos duas bailarinas, a Vanessa Sousa e a Cristina Vieira.

 

 

Qual a reação do público quando estão em palco? O que sentem?
Maria Melo: No palco sentimos emoção, alegria de ver aquele povo todo a aplaudir-nos, a maneira como cantam connosco, e transmitimos a mesma alegria e emoção para eles.

 

Nestes seis anos, qual foi o momento mais empolgante?
Pedro Botelho: Não há um momento, é sempre. Todas as atuações que fazemos ficamos sempre empolgados e também nervosos, o que é normal, qualquer artista fica. Por isso, não podemos dizer que um é melhor que outro, temos é de fazer o nosso trabalho e em todos eles fazer com alegria e emoção e transmitir um bom ritmo e um bom ambiente de festa.

 

Quais os nomes dos originais que têm?
Maria Melo: Os temas são “Estou Enamorado”, “Zumba Comigo” e “Sempre que ela dança”. Todas as letras e música são de José Carlos Monteiro.
Pedro Botelho: Nós ajudamos também, não podemos aceitar algo sem gostar ou até dar palpites, o que também ajuda a construir a letra. Pelo menos a letra, porque a melodia já se sabe que é completamente com ele.
Maria Melo: Sim, mas mesmo assim damos sempre a nossa opinião sobre o ritmo da música.
Pedro Botelho: Os próximos temas que, eventualmente, estamos a trabalhar, estamos a dar os nossos palpites, sempre em conjunto com o José Carlos Monteiro que tem sido uma pessoa impecável e está-nos a ajudar nesse rumo. E é muito importante conhecer alguém que está a par da música.

 

São da Ribeira Grande, por isso, o que gostavam que a Ribeira Grande fizesse por vocês, já que fazem o que podem, que é cantar. Como gostavam que a Ribeira Grande retribuísse?
Maria Melo: Talvez, com mais eventos e atuações de verão. A Câmara faz festas de comércio, durante o verão inteiro, faz muitos eventos e nós gostávamos que nos dessem oportunidade. Raramente somos convidados. Acho que deviam dar mais valor ao povo aqui da Ribeira Grande, à gente que canta.
Pedro Botelho: Não só a nós, mas a todos os artistas da Ribeira Grande. Havia de haver mais eventos de verão, principalmente, eventos de verão.

 

Parece que eventos existem, não existem é convites.
Maria Melo: Sim, o que eu vejo é que convidam mais pessoas de outras freguesias e do exterior, não dão muita importância aos de cá. O que nos deixa um bocadinho de parte.

 

Não tem a ver com o cachê ou tem?
Maria Melo: Não, não tem nada a ver com o cachê. Se fossemos por aí era outra coisa. Não tem nada a ver.
Pedro Botelho: Sinceramente, o que eu gostava era que o povo dos Açores apoiasse mais os seus artistas. É normal ver um artista de outro país, ou até mesmo do continente, em que fica tudo em euforia, e acho que deviam apoiar mais o pessoal de cá porque têm de dar valor às pessoas que aqui trabalham, isso é importante. Se formos mandar vir tudo de fora, as festas acabam por morrer porque nem todas as festas têm orçamento para pagar os artistas que vêm do continente ou de outro país qualquer. Não sei se é devido às crises, mas as pessoas parece que ficaram mais tristes, não compreendo. Vemos a diferença de anos anteriores, as pessoas parece que ficam mais em casa, já não apoiam tanto as festas, e isso é muito importante para quem faz as festas, tem de se sentir apoiado. E para que essas festas continuem têm de ter o apoio dessas pessoas, porque sem apoio não há nada, não se consegue pagar aos artistas, não se conseguem produzir eventos maiores. Por isso, era importante que as pessoas ajudassem e que compreendam que não é fácil, tanto para as festas, como para quem faz a festa e quem vai fazer o evento como nós artistas. Aqui nos Açores as tradições estão a acabar porque, infelizmente, há esse direito de autor que as pessoas pagam sem necessidade nenhuma, antes não havia nada disso. Por cada noite paga-se mais de 100 euros e isso não é fácil. Estas são festas pobres, festas religiosas, que não têm dinheiro, o que ganham é para pagar as despesas, e não dá para mais nada. E o governo também não ajuda porque se é uma tradição, como a festa do Espírito Santo, porque cobram direitos de autor? Não acho justo nem correto, as festas em si não têm dinheiro para isso. Há festas aqui que estão a acabar e outras que já nem querem por artistas porque só o dinheiro que se paga, desde som, licenças de ruído, e ainda terem de pagar mais este extra dos direitos de autor, é surreal. Estamos num meio muito pequeno e pobre.

 

Sendo a Ribeira Grande uma terra de emigrantes, nunca tiveram um convite para irem junto das comunidades, nomeadamente Canadá, EUA?
Maria Melo: Não, nunca tivemos divulgação para lá, por isso nunca fomos convidados. Temos ido é para outras ilhas, ainda este ano já temos dois espetáculos marcados para São Pedro Gonçalves de Santa Maria e Associação de Cristo também. Mas claro que era um gosto enorme de ir, por exemplo, aos EUA mostrar o nosso trabalho que, com certeza, acho que teríamos muitas atuações lá.
Pedro Botelho: Acho que temos é de pedir aos nossos emigrantes para que apoiem os artistas dos Açores, isso é muito importante. e também para nos evoluirmos precisamos disso, precisamos de ir para o exterior.

 

Já têm espetáculos, mas ainda há espaço para mais?
Maria Melo: Sim, claro. Não vamos dizer que temos a agenda cheíssima porque para a ilha que é já estamos a ver uma quebra por causa dos direitos todos que as festas estão a pagar. Já estão a reduzir nos dias também e faz com que, como São Miguel tem várias pessoas a cantar, não haja espaço para todos. E vai haver sempre aqueles que compensa mais o valor, para dar para as festas, mas estamos a trabalhar a fazer ensaios para as festas da freguesia até maio.