A poluição atmosférica na costa portuguesa provocada pelo tráfego marítimo representa cerca de 20 por cento da poluição causada pelos óxidos de nitrogénio (NOx), um dos poluentes mais nocivos à saúde humana e ao meio ambiente. Este valor vem de um estudo da Universidade de Aveiro (UA) que, para ajudar a reduzir esta contribuição, aponta uma lista de medidas que urgem ser colocadas em prática.
“As emissões marítimas, que compreendem sobretudo os poluentes NOx e o dióxido de enxofre (SO2), têm impacto máximo junto às rotas internacionais, mas este impacto chega à zona costeira, com contribuições que vão de 10 a 20 por cento no caso dos NOx e acima de 20 por cento para o SO2”, aponta Alexandra Monteiro, investigadora do Departamento de Ambiente e Ordenamento e do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar, uma das unidades de investigação da UA.
A coordenadora do estudo garante tratar-se de um “cenário preocupante” que é urgente combater: “É muito importante colocar no terreno as medidas propostas pela investigação, algumas promovidas pela própria regulação europeia, sobretudo face ao contínuo e esperado aumento do tráfego marítimo”.
Os investigadores estimam que atualmente cerca de 90 por cento (75 por cento na Europa, e com tendência a crescer) de toda a troca de mercadorias e bens em todo mundo é realizada por via marítima, o que torna este meio de transporte preocupante em termos de impacto ambiental, sobretudo devido à sua grande dependência no que diz respeito ao uso de combustíveis fósseis, com emissões atmosféricas associadas e potencial impacto na qualidade do ar.
Coordenado por Alexandra Monteiro, o projeto AIRSHIP, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e que terminou recentemente, visou avaliar o impacto na qualidade do ar das emissões do transporte marítimo em Portugal e, com maior detalhe, ao nível local/portuário, tendo como caso de estudo o Porto Leixões e a área urbana envolvente.
Os resultados revelaram que estas emissões têm um impacto na qualidade do ar máximo junto às rotas marítimas, chegando até às zonas costeiras onde se verificam contribuições de 10 a 20 por cento para as concentrações de NOx e inferior a 10 por cento no caso das partículas, dois dos poluentes mais críticos em Portugal, com excedências aos valores limite legislados.
Relativamente aos cruzeiros, as estimativas revelam que as emissões associadas correspondem apenas a cerca de 5 por cento do total do transporte marítimo. Os estudos que os apontam como grandes poluentes, referem-se principalmente às emissões de SO2 (um poluente que apresenta valores residuais em termos de qualidade do ar em Portugal), já que é verdade que os cruzeiros emitem 28 vezes mais SO2 que o transporte rodoviário (mas 17 vezes menos NOx).
Os estudos feitos no projeto AIRSHIP, quer ao nível regional, quer local (caso de estudo Porto de Leixões), envolveram ainda a investigação de medidas estratégicas mitigadoras para as emissões associadas ao transporte marítimo (focadas sobretudo no uso de combustíveis alternativos e práticas sustentáveis) e à atividade portuária, e elaboração de linhas de orientação para a sua implementação.
Entre as dezenas de medidas apontadas, os investigadores sublinham a importância da redução da velocidade dos navios enquanto estão em operação através da redução das rotações por minuto do motor e a utilização de combustíveis alternativos, de modo a diminuir o uso dos combustíveis mais tradicionais no transporte marítimo. Alterações nos motores do navio, de forma a torná-los mais limpos, e a implementação nos navios de um sistema de limpeza de gases de exaustão são outras das muitas medidas propostas.
“Esperamos que estes resultados possam ser particularmente importantes e úteis na gestão e ação política na área do transporte marítimo e dos seus impactes ambientais, colocando assim a ciência e a investigação ao verdadeiro serviço da sociedade”, diz Alexandra Monteiro.
Para além de Alexandra Monteiro, também Sandra Sorte, Michael Russo, Carla Gama, Myriam Lopes e Carlos Borrego, todos investigadores do CESAM, e André Neves, aluno do Mestrado Integrado de Engenharia do Ambiente, assinam o estudo.