Natural de Rabo de Peixe e movido por um profundo sentido de justiça e pertença, Rúben Pacheco Correia mergulhou numa profunda investigação, que o levou da Ilha de São Miguel até à Sicília e ao Brasil e resultou no livro “Rabo de Peixe: Toda a Verdade”. Com prefácio de Luís Marques Mendes e posfácio de Valter Hugo Mãe, esta obra revela testemunhos inéditos, que traçam um retrato real da polémica história da “droga do italiano” e da verdadeira Freguesia de Rabo de Peixe, desmistificando os estigmas associados a esta vila açoriana. Depois das apresentações em Lisboa e na sua terra Natal, será Vila Nova de Gaia a acolher, no próximo dia 16 de maio, a apresentação do novo livro do rabopeixense, que será conduzida por Teresa Guilherme, no El Corte Inglés Gaia Porto.
Como surgiu a ideia de escrever “Rabo de Peixe: Toda a Verdade”?
Sou natural de Rabo de Peixe. Nunca o escondi e até afirmo-o com muito orgulho. Nasci, cresci e vivo em Rabo de Peixe, embora agora passe algum tempo em Lisboa, tendo em conta o meu regresso à Faculdade. Cresci a ouvir que ser de Rabo de Peixe era ser diferente e que esta diferença não era positiva. Cresci a ler e a ouvir notícias que davam conta de um Rabo de Peixe que eu não revia nas ruas por onde passava. Ao crescer, percebi que Rabo de Peixe sofria um estigma que não correspondia à realidade. Pensei que este estigma tivesse terminado. Mas, infelizmente, estava enganado. A série “Rabo de Peixe”, da Netflix, veio ainda alimentar mais histórias que fazem sentido à ficção e que não fazem de todo à realidade. Chamar “Rabo de Peixe” a uma série e dizer que é inspirada em acontecimentos reais, é uma responsabilidade muito grande. É colocar o nome de uma comunidade em jogo e atribuir a esta, toda a ficção que se possa criar a partir daí. Quando lemos que é apenas inspirada na realidade e quando estamos a ver a série, não nos é dito o que é inspirado na realidade e o que é produto da ficção. Portanto, é legítimo o espectador pensar que toda a história é inspirada em acontecimentos reais e atribuí-la a Rabo de Peixe. De certa forma revoltado com isso, decidi iniciar a investigação à volta do único acontecimento em que a série se inspirou de verdade, a droga que deu à costa um pouco por toda a Ilha de São Miguel, reforço a ideia “por toda a ilha”. Se Rabo de Peixe serviu de barriga de aluguer para contar uma história de traficantes, que a si não correspondia, então usei a história da droga do italiano para contar a verdadeira história de Rabo de Peixe e cheguei onde nunca pensei chegar, aos protagonistas de toda a história real que teve lugar na Ilha de São Miguel, em 2001. Descobri histórias incríveis que demonstram que a realidade, afinal, é bem mais dura do que a ficção.
Para escrever este livro, realizou várias viagens, nomeadamente a Itália e ao Brasil, e fez uma extensa investigação. Pode falar-me sobre o percurso por detrás de “Rabo de Peixe: Toda a Verdade”?
Entrevistei todos os protagonistas reais da história que assombrou São Miguel no ano de 2001. A cada conversa, novas revelações e novos nomes surgiram. Fui seguindo as pistas que me levaram até à Sicília, onde entrevistei membros da família criminosa que trouxe a cocaína até aos Açores e, mais tarde, até ao Brasil, onde entrevistei, na prisão, o protagonista de toda esta história, que é capa do livro, e que andou desaparecido durante estes mais de vinte anos. Depoimentos exclusivos deste livro. Não escondo que foi, para mim, muito emocionante ver este projeto no papel.
O que revela esta obra, que nunca foi mostrado?
Vai-me perdoar, mas terei de convidá-la a si e aos leitores a lerem o livro e tirarem as suas próprias conclusões. Mas, posso garantir algo: a história real é bastante mais estimulante.
O que representa o facto de ter prefácio de Luís Marques Mendes e posfácio de Valter Hugo Mãe?
O doutor Marques Mendes foi um dos oradores convidados, em 2024, nas comemorações de elevação de Rabo de Peixe a Vila. Tenho a honra de ser seu amigo e fui assistir à sua intervenção. Gostei tanto da forma como falou da minha terra que decidi, naquele momento, convidá-lo para escrever o prefácio deste livro, que ainda era apenas um sonho. Aceitou e, para mim, é uma enorme honra poder contar com o seu nome neste projeto. Quanto ao Valter Hugo Mãe, um dos maiores escritores portugueses, contemporâneos, no meu entender, como escritor que também sou e apaixonado pelas letras, tê-lo neste livro é, para mim, um carimbo que certifica a qualidade deste projeto, que agora entregamos aos leitores.
Foi o amor à sua terra e a sua paixão pela escrita que o fez partir à descoberta, com o desígnio de fazer justiça à verdade e a Rabo de Peixe?
Completamente. De contar a verdade sem sensacionalismos, desse por onde desse. Creio que este livro é uma bonita homenagem a Rabo de Peixe, mas é, sobretudo, um excelente trabalho de investigação. Para quem viu a série e gostou, tem mesmo de ler este livro, porque tenho a certeza de que irá ficar fascinado, como também fiquei, com todas as revelações aqui feitas.
Este livro foi apresentado em Lisboa, por José Eduardo Moniz, nos Açores por Manuel Luís Goucha, e em Vila Nova Gaia será apresentado por Teresa Guilherme. Qual é o sentimento e o que representa ter tão ilustres personalidades nacionais a associarem-se a esta obra?
Em Lisboa, a apresentação foi feita na Câmara Municipal de Lisboa, no dia 7 de maio. Em Rabo de Peixe, foi no dia 9 de maio, na Igreja de Rabo de Peixe e, em Gaia, será no dia 16 de maio, pelas 21 horas, no El Corte Inglês de Gaia. Ter estes nomes a apresentar o livro é, para mim, motivo de enorme orgulho. Sinto que a minha missão está cumprida.
Quais são as suas ânsias para o futuro deste livro? Nascerão novos projetos a partir de “Rabo de Peixe: Toda a Verdade”?
Espero, sinceramente, que chegue ao maior número de pessoas possível e também espero que possa ser publicado noutros países. Vamos ver. Os próximos meses irão ditar se o livro foi um sucesso ou um fracasso. Está tudo nas mãos dos leitores. Quanto a novos projetos, creio que o livro poderá dar origem a algo mais, aguardem.
Qual é a mensagem que gostaria de transmitir?
Queria apenas sugerir que venham a ler o livro. A maior homenagem que podem fazer a Rabo de Peixe, neste momento, é lendo o livro e percebendo toda a história. E no final, quando terminarem a leitura, tenho a certeza de que se irão juntar a mim neste sentimento de “revolta” para com os estigmas falaciosos que tantas vezes são criados à volta do nome desta terra de gente boa e lutadora.