O concelho da Ribeira Grande está a emergir com uma “expressão crescente” no turismo, além de ser um “expoente” nas áreas da construção e também dos laticínios. Quem o afirma é o presidente da Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada (CCIPD).
De acordo com o empresário, o grande desafio que o cargo de presidente da CCIPD exige é ter uma “visão clara” do que deve ser feito em benefício das empresas, para que a consequência seja a prosperidade da sociedade açoriana.
Na qualidade de presidente da Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada, quais os maiores desafios exigidos pelo cargo?
Os maiores desafios deste cargo são: identificar os principais constrangimentos da economia dos Açores para um maior desenvolvimento empresarial e social; apresentar estes constrangimentos aos decisores políticos e fazer “lobby” para a sua resolução; marcar posição em todas as políticas públicas de interesse para as empresas e para os negócios; defender as empresas na sua ação corrente; negociar contratos coletivos de trabalho… No fundo o grande desafio é ter uma visão clara do que é importante que seja feito, em cada momento, para que as empresas prosperem e contribuam, assim, para a prosperidade da sociedade açoriana.
Recentemente a CCIA (Câmara do Comércio e Indústria dos Açores) reuniu com o Governo Regional. Que conclusões podem ser tiradas desse encontro, em particular para a fração que representa?
Para cumprir o desafio referido atrás, a CCIA apresenta, regularmente, uma agenda de trabalho elencando assuntos que considera urgente serem resolvidos. Este ano esta agenda focava em quatro tópicos principais: turismo, transportes, formação e redução fiscal. Foi esta agenda, com algum desenvolvimento de detalhe, que foi abordada com o Sr. Presidente do Governo e depois mais escalpelizada em reunião do FORUM CCIA2018 que decorreu na Terceira no fim de semana seguinte. A agenda é vasta e tem alguns aspetos nos quais se reuniu consenso e outros em que não, num processo dialético que decorre com avanços e recuos, na nossa perspetiva, mas que tem vindo a produzir alguns resultados positivos. Foi neste contexto que conseguimos que fosse feita a liberalização do transporte aéreo para S. Miguel, com os resultados positivos que estão à vista para o turismo.
Para os leitores, explique que benefícios têm os sócios da Câmara do Comércio.
Os sócios da CCIPD têm disponíveis serviços de apoio na área jurídica e na área económica (incentivos, nomeadamente), bem como ações de formação e participação em seminários e feiras. Podem sempre recorrer à associação para se orientarem. Para além disso recebem uma “newsletter” que vai dando informação atualizada sobre regras e regulamentos da atividade económica. Chegados aos períodos de negociação dos contratos coletivos de trabalho é a CCIPD que os trata. Para além disso é este órgão associativo que representa as empresas na concertação social e é a entidade que, nas múltiplas perspetivas defende as empresas. Não fossem as Câmaras de Comércio os seus interesses seriam, naturalmente marginalizados relativamente a todos os outros como o dos setores das pescas, agrícola, laboral, entre outros. As empresas ficariam sem voz nos processos de decisão sobre a economia.
Que importância têm os associados do concelho da Ribeira Grande na Câmara do Comércio?
Os associados da Ribeira Grande têm muita importância porque este é o segundo maior concelho da área de intervenção da CCIPD. É, de resto, um concelho fortemente empresarial uma vez que tem um peso mais reduzido de áreas da administração regional do que, por exemplo, Ponta Delgada. É um expoente na área da construção e dos laticínios, por exemplo, e emerge, cada vez mais, com uma expressão crescente no turismo. Os associados da Ribeira Grande representam cerca de 15% de todos os associados da CCIPD.
Com que desafios se debatem atualmente, e quais os próximos?
Atualmente as empresas da Ribeira Grande recuperam de uma crise sem precedentes na área da construção civil, prosperam na área dos laticínios e sonham, com legitimidade, na área do turismo. A queda construção evidenciou-se muito neste concelho porque era aqui que se concentrava grande parte da indústria. Será aqui que se sentirá agora os maiores efeitos de alguma recuperação. Nos laticínios, os desafios são contínuos e internacionais, tal é a dimensão do setor e os fatores que o afetam. No turismo, certamente a gazela do crescimento do concelho, o desafio é conseguir um contexto positivo e propício para que este setor assuma uma importância crescente na abertura para o mar, na perspetiva de exploração económica na área do turismo, sem esquecer o potencial geotérmico e termal também nesta área. Falando de geotermia, não podemos esquecer que, por esta via, é o concelho da Ribeira Grande que produz a maior parcela de energias renováveis em toda a Região. É uma bandeira, também.
Em que é que apostam os novos empresários? Turismo?
Turismo, certamente, incluindo a restauração, a animação, os desportos náuticos, o comércio, enfim, uma quantidade variada de atividades que individualmente pode ser de pouca monta mas que todas juntas fazem uma economia mais vibrante.
O que ainda falta fazer para apoiar os associados?
O apoio aos associados é um processo contínuo. No pico da crise da construção civil fizemos múltiplas reuniões para amenizar o impacto da crise, hoje envolvemo-nos muito nas negociações com os sindicatos na área do turismo, todos os dias respondemos a solicitações que nos vão chegando e todos os dias tentamos perceber quais são as decisões críticas para criar um bom contexto para a atividade económica. É o que esta associação tem vindo afazer desde a sua fundação, há 183 anos.
Por último, mas não menos importante, quais os números existentes quanto ao concelho da Ribeira Grande? Pelo menos aqueles que lhe parecem de maior importância
Não existe muita informação estatística desagregada por concelhos, por isso não é possível, como seria desejável, apresentar um número significativo de dados de caráter económico sobre a Ribeira Grande. Há, no entanto, alguns elementos que revelam a importância que o concelho da Ribeira Grande tem no contexto regional. Na realidade, em relação ao Volume de Negócios e ao Valor Acrescentado Bruto (VAB), o Concelho da Ribeira Grande é o segundo com maior preponderância na Região Autónoma dos Açores (RAA), representando 13,5% e 14,5% respetivamente.
Desde 2013, tem havido um aumento do número de empresas no concelho, que, em 2016, representava 7,9% das empresas da RAA. No que se refere à mão de obra do concelho, esta representa cerca de 12,2% da mão-de-obra da RAA.