RIBEIRAGRANDENSES DA NOVA INGLATERRA REUNIRAM-SE EM ALEGRE CONFRATERNIZAÇÃO

No passado sábado, 19 de outubro realizou-se em Fall River o vigésimo oitavo convívio ribeiragrandense da Nova Inglaterra, no qual participaram cerca de trezentas pessoas.

   O evento aconteceu no salão de festas da Banda de Nossa Senhora da Luz, e contou com a presença de uma forte comitiva vinda do torrão natal, composta pelo presidente da Câmara, Alexandre Gaudêncio; os presidentes das juntas de freguesia de Ribeirinha e Conceição, respectivamente: Marco Furtado e Gisela Rodrigues Paz.

   Por sua vez, a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Ribeira Grande foi representada pela senhora secretária daquela instituição, Dona Maria José Brum Bento, acompanhada pelo marido, sr. Antero Bento.

   Além destas entidades, honrou-nos com a sua presença o senhor Prior da igreja Matriz, Padre Manuel Galvão.

   Os lugares de honra destinaram-se ao “Mayor” Gaudêncio  e ao Prior Galvão.

   Muita gente da nossa geração não gosta de chamar-lhe pelo nome de Manuel, para não se confundir com o prior Manuel Medeiros Sousa. Tal como a geração anterior nunca se acostumou a chamar Prior ao Padre Manuel, porque para ela o Sr. Prior era só um: o do presépio, da juventude, aquele que encantou a Ribeira Grande inteira, e justamente, só faltou iniciar-lhe um processo de beatificação.   Sim, o Sr. Prior Evaristo Carreiro Gouveia.

   Mas acontece que, por tradição, ou por decreto da Diocese de Angra, todos os párocos da Matriz de Nossa Senhora da Estrela têm o título de priores, que no caso do Padre Evaristo calhou na ordem do sétimo prior da Matriz, coincidindo com o título de sétimo vigário, atribuído ao doutor Gaspar Frutuoso, no século dezasseis.

   Dário Bernardo, presidente da Junta de Freguesia da Lomba de São Pedro, que confirmara a sua presença no evento, por razões mais fortes cancelou a sua deslocação aos Estados Unidos a, praticamente, duas semanas da festa. Ao princípio, quando trocou correspondência com os Amigos da Ribeira Grande, a sua preocupação era encontrar convivas naturais da sua freguesia. Então foi-lhe dito que até estes convívios de naturais e amigos do concelho da Ribeira Grande já foram bastante apoiados por um grande natural da Lomba de São Pedro, o Manuel Pacheco, conhecido em New Bedford por Manuel da Virgínia, o qual chegou a ser convidado de honra numa destas confraternizações.

   Como estas festas são realizadas a nível concelho e não a nível cidade, lá estavam a decorar a sala as catorze bandeiras das respectivas freguesias. Que nos desculpem os Rabopeixenses, porque devíamos ter dito: “treze freguesias e uma vila”. Aproveitando a dica, devemos destacar que para nosso espanto, o “mayor” da junta de freguesia daquela vila, este ano deu resposta ao convite que lhe foi endireçado, confirmando a sua ausência. Mais um milagre do Senhor Bom Jesus!

   Agora, se nos permitem, em forma lamentosa, temos a dizer que é uma pena olhar para a bandeira da Matriz (aquela que foi oferecida aos Amigos da Ribeira Grande) e “desfalecer” com as suas cores. Tanto pouparam nas tintas para gastar nas cintas! Não tem cor nenhuma, coitada! e os fusos quase não se consegue ver. Valeu-nos estar encostada, praticamente quase colada à parede. De outra forma não sobresaía.

   Porquê tantas bandeiras e a preocupação em dizer concelho e não cidade?

   Se bem que o número de participantes nestes eventos é oriundo da Matriz e da Conceição, a Ribeira Grande é rica pelo seu concelho, e estas festas anuais destinam-se a juntar uma vez por ano oriundos e amigos de todas as freguesias e lugares que constituem o município ribeiragrandense. Já várias vezes os convidados de honra foram de diversas freguesias; e este ano esta maneira de pensar foi coroada nas gravações dos ojectos para servir de oferta aos convidados, como recordação do convívio de 2024, com esta quadra, da autoria de Erdalfo ad Entop:

Por onde quer que se ande

Não há terra d’alegrias

Como a Ribeira Grande

E as suas freguesias.

   Por Dinis Paiva estar ausente da Nova Inglaterra, a função de Mestre de Cerimónias foi desempenhada por Irene Alves, membro da comissão organizadora, da qual já foi presidente, e que merece uma salva de palmas pela qualificação do poder de palavra e pelo dinamismo na sequência dos protocolos.

   João Pacheco, no uso da palavra deu as boas vindas a todos, e enalteceu, como presidente da organização, a vontade e esforço dos membros da sua equipa em levar a efeito mais esta reunião ribeiragrandense.

   É que, se a pandemia não nos tivesse visitado, este teria sido o trigésimo segundo convívio.

   Recorde-se que até ao vigésimo sétimo, que teve lugar em 2019, estes encontros anuais foram consecutivos. Em 2020 todos os “ajuntamentos” foram cancelados, e o mesmo aconteceu no ano seguinte; e depois, a coisa ainda não estava para brincadeiras…

   Para fazer a estória curta: cinco anos depois, aqui estamos; e compartilhámos em comunidade a mesma alegria que estas festas proporcionam.

   O entretenimento e todo o sistema de som esteve a cargo de José Maurício – o bem conhecido vocalista e fundador do conjunto SAILORS, dos anos oitenta, que tanto alegrou as festas e arraiais das comunidades lusófonas na América do Norte. José Maurício é natural do Porto Formoso, e sempre foi um grande participante nos convívios ribeiragrandenses. Além disso, fez parte do grupo Estrelas da Diáspora, que foi aos Açores cantar às estrelas em 2019.

   A hora social teve início às dezoito horas e foram dadas as boas-vindas às dezanove. Executados os hinos, seguiu-se a bênção, pelo Senhor Prior, e as sopas foram servidas.

   das 18 às 19 horas, seguindo-se o jantar, que consta de sopa, salada, peixe, carne, com os respectivos acompanhamentos, vinho, refrigerantes, café e sobremesa.

   Gisela Rodrigues Paz, presidente da Junta de Freguesia da Conceição, no uso da palavra manifestou a sua alegria de estar presente no meio de tantos amigos. Foi a primeira vez que se deslocou aos Estados e estava encantada com a forma que foi recebida, e como tem sido tratada durante a sua estadia em terras da América do Norte.

   Por sua vez, Marco Furtado, presidente da Junta de Freguesia da Ribeirinha, encantou os presentes com o seu indiscutível senso de humor, e fez vibrar toda a sala.

   Assinalável é o facto de nenhum convidado ter abusado  em termos de médios e longos discursos. Todos eles foram como aqui se diz, “nice & Short”, o que muito se aprecia aqui, por estas bandas.

   Dona Maria José Bento deixou transparecer emoções por ver tanta cara conhecida, muitas das quais os seus olhos não via há muito tempo. Para nosso espanto, trouxe da Ribeira Grande os deliciosos biscoitos cobertos com açúcar, que foram servidos com a sobremesa. Aproveita-se a dica, acrescentando que a bandeira da associação humanitária que Dona Maria José representava estava como pano de fundo, logo abaixo do estandarte do município ribeiragrandense. Como todos sabem, os bombeiros da Ribeira Grande têm levado o nome da sua terra além-fronteiras e são um orgulho de todos nós.

   O senhor Prior, nas suas palavras, deixou bem claro que esta vinda aos Estados Unidos foi para pagar uma dívida. Pagou; e com este pagamento expressou ao máximo a sua gratidão aos ribeiragrandenses da diáspora, e a todos aqueles que contribuíram para os fundos de recuperação da igreja matriz.

   Por último, usou da palavra o presidente da câmara, Alexandre Gaudêncio, que sempre, todas as vezes, cativa os seus ouvintes, pela forma como se expressa. É claro que, a pouco tempo de terminar o seu último mandato, não deixaria de convidar toda a gente a visitar a Ribeira Grande. Estamos a falar geográficamente. Porque palavras em contraste foram ditas por João Pacheco, no seu discurso de boas-vindas defendendo que aquela confraternização era a forma mais barata de visitar a Ribeira Grande. Para os que vivem mais distantes de Fall River custava cinco dálares de gasolina, mais o preço do bilhete de entrada na sala, ao passo que para ir a São Miguel, a SATA leva couro e cabelo!

   Como tem sido tradição nestes encontros, foram atribuídas duas bolsas de estudo a dois jovens estudantes, que este ano ingressaram no ensino superior. Trata-se de Avery Carvalho e de Aiden Pacheco. São quinhentos dólares que podem ser aplicados em material escolar e outros afins. Recorde-se que o programa das bolsas de estudo dos Amigos da Ribeira Grande-USA foi criado no ano de 1995, por ocasião do terceiro convívio ribeiragrandense. Destinam-se a incentivar os jovens estudantes com raízes ribeiragrandenses (entenda-se do concelho da Ribeira Grande).

   O senhor Jacinto Rego, com noventa e nove anos contados, e residente em New Bedford, durante estes cinco anos que festa não houve cansou-se dela perguntar. Foi visto na sala, e a sua presença foi denunciada quando ao palco foi chamado, tendo sido identificado como a pessoa mais idosa na sala e um participante do encontro anual desde a sua fundação. Mereceu uma grande salva de palmas, e foi-lhe oferecido um mimo, como recordação do vigésimo oitavo convívio.

   Por sua vez, Erdalfo ad Entop foi apanhado de surpresa quando foi chamado ao palco, e num gesto de gratidão foi-lhe ofercido uma lembraça do encontro, pelos serviços prestados aos Amigos da Ribeira Grande-USA, ao longo dos anos.

   Houve uma pequena rifa, com valiosos prémios de donativos particulares, que veio auxiliar o fundo de bolsas de estudo, e a música não parou de tocar, pondo o pessoal a dançar até à meia-noite.

   A festa do convívio acabou, mas as vivências fusas continuaram no dia seguinte:

   O majestoso, mais que centenário templo do Senhor Santo Cristo dos Milagres em Fall River vibrou com as emoções de alguns fiéis no decorrer da celebração da missa do meio dia. O Prior Manuel Galvão foi o celebrante, e nela participaram muitos dos convivas da noite anterior, aonde muito bem se encaixou a embaixada visitante. Até o Sr. Presidente da Câmara subiu os degraus da capela-mór para ler a Epístola de São Paulo aos Hebreus. Foi uma Eucaristia cem por cento fuseira, muito vivida, e daquela igreja saímos de alma cheia.

   O livro-programa da vigésima oitava confraternização ribeiragrandense contém 60 páginas. Recorda-nos o convívio anterior, regista alguns acontecimentos de relevo na Ribeira Grande durante este ano de 2024, e dá a conhecer, ou a lembrar, algumas curiosidades daquele concelho nortenho da Ilha de São Miguel.

   Se haverá ou não continuação na realização de eventos como este, só Deus sabe, e o tempo dirá. Entretanto, registamos os parabéns aos Amigos da Ribeira Grande-USA por mais um sucesso, e também à Ribeira Grande, pelos filhos e amigos que tem.

Haja saúde!

Fall River, Massachusetts, 20 de outubro de 2024

Alfredo da Ponte