“SANTA BÁRBARA É A MINHA FREGUESIA, É A MINHA TERRA”

Há 22 anos no mundo da política local, Miguel Sousa está a cerca de dois anos do fim deste que é o seu primeiro mandato, depois de ter estado, de 2005 a 2017, à frente dos destinos da Freguesia de Santa Bárbara, na Ribeira Grande. Fazendo uma retrospetiva sobre a sua viagem pela vida autárquica e as conquistas alcançadas, o edil assegurou que anseia ver construído um parque infantil, um pavilhão polidesportivo, em benefício dos clubes e das coletividades do concelho, uma zona verde, assim como a reabilitação do pavimento das artérias desta localidade.  Assumindo que são inúmeros os desejos para este território, mas que estão dependentes do apoio da Câmara Municipal da Ribeira Grande e do Governo Regional dos Açores, o autarca não escondeu, relativamente ao futuro, a incerteza acerca da sua recandidatura, mostrando-se disponível para ajudar, seja quem for, na prosperidade de Santa Bárbara.

 

 

Senhor presidente, estamos a meio do seu primeiro mandato, que assinala um retorno, depois de ter assumido a liderança dos destinos da Freguesia de Santa Bárbara de 2005 a 2017. O que o levou a regressar a esta autarquia, após quatro anos de ausência?

Realmente, já lá vão 22 anos desde que eu me aventurei nestas andanças, pois nem tenho um perfil muito político, embora digam que eu sou político, mas pronto. Eu comecei em 2001, como tesoureiro, ao lado do meu grande amigo Nelson Costa, que era o presidente, e da amiga Patrícia Costa, secretária. Mais tarde, em 2005, o Nelson quis deixar a Junta e seguir a sua vida de outra forma e eu encabecei, nessa altura, juntamente com a Patrícia e com o Manuel António, que ficou como tesoureiro e se candidatou contra mim nas últimas eleições, em 2021. Portanto, eu fiquei como presidente de 2005 a 2017 e, depois, tive de sair por limitação de mandatos. Nessa altura, eu fui convidado pelo Fernando Sousa para fazer parte da lista dele, candidata à Câmara Municipal da Ribeira Grande. Perdemos e eu fui vereador da oposição, juntamente com ele, com muito gosto, pois foi uma experiência muito agradável, durante quatro anos. Nessa altura, quem venceu as eleições em Santa Bárbara foi o José Henrique Botelho, que, posteriormente, pediu-me para concorrer com ele numa lista, em 2021, e eu voltei a aceitar este desafio, porque ele é uma pessoa com quem realmente vale a pena estar, uma vez que é um amigo de trabalho e uma pessoa que se dedica à causa social e ganhamos. Como disse, e bem, já passaram dois anos e as coisas, atualmente, estão muito mais difíceis, porque as obrigações e as burocracias são mais exigentes e ainda bem por um lado, para que as coisas sejam mais claras e transparentes, o que não quer dizer que não fossem no passado, mas, por vezes, torna-se difícil, não porque não queremos cumprir aquilo que é suposto fazer, mas porque é preciso não esquecer que a Junta de Freguesia obriga-nos a tirarmos da nossa vida pessoal e profissional muitas horas do nosso dia, não temos fins de semana, nem feriados, porque quando é preciso, nós temos de estar lá e um autarca que se digne e que preze a sua freguesia tem de estar sempre disponível. As Juntas de Freguesia gostam muito de dizer que somos a linha da frente, mas, depois, é preciso que haja alguém atrás de nós a suportar as coisas, porque não temos financiamento ao nível das exigências e das responsabilidades que temos, pelo que temos de depender de uma Câmara Municipal ou de um Governo Regional e as pessoas às vezes esquecem-se disso e acham que fazemos o que queremos e as coisas não são assim. Os nossos orçamentos são limitados e baseiam-se, praticamente, no Fundo de Financiamento de Freguesias. Felizmente, as transferências da República e da Câmara Municipal da Ribeira Grande, que apoia uma certa percentagem julgo que são 65% do Fundo de Financiamento de Freguesias às Juntas, têm vindo a aumentar, mas não o suficiente para termos funcionários.  Algumas Juntas, com alguma dimensão, têm funcionários, mas, em Santa Bárbara, apenas existem pessoas, que estão ao abrigo de programas de emprego, a quem pagamos a Segurança Social e o remanescente do vencimento que auferem, para que possamos ter alguém que nos ajude. Portanto, não houve nenhuma razão específica, para eu regressar, apenas um convite por parte do anterior presidente, porque não queria encabeçar mais.

 

O que é que Santa Bárbara tem de em especial, que o motiva a estar aqui, uma vez que não é natural desta localidade? O que o prende a esta freguesia?

Eu nasci na Bermuda, em 1973 e os meus pais são de Santa Bárbara, nascidos nesta freguesia. Eu vim viver, definitivamente, para São Miguel em 1983, com 10 anos, portanto cresci e passei toda a minha juventude, aqui, onde casei e, depois, infelizmente, fiquei viúvo, porque a minha esposa Nélia também era natural desta freguesia. Como tal, eu vivi a minha vida toda em Santa Bárbara e fui um dos músicos fundadores da Filarmónica de Santa Bárbara, depois tive um problema de saúde e não pude tocar mais instrumentos de sopro e fui aprender a tocar piano, tendo cantado e tocado este instrumento, durante vários anos, no Grupo Coral de Santa Bárbara. Também, dei catequese. Portanto, eu tenho, felizmente, razões ou justificações para dizer que Santa Bárbara é a minha freguesia, é a minha terra, não tenho qualquer dívida sobre isso e as pessoas também me conhecem.

 

Qual é o orçamento atual da Junta de Freguesia?

O orçamento anda na ordem dos 100 mil euros. Este valor está assente no Fundo de Financiamento de Freguesias e num acréscimo que a República tem aumentado nos últimos anos, desde a Covid-19. Logo, há um valor adicional e como a Câmara da Ribeira Grande dá 65% deste valor, a Freguesia de Santa Bárbara chega a receber, sensivelmente, cerca de 100 mil euros anuais.

 

Mas, a este valor acresce alguma cedência de competências atribuídas pelo Governo Regional e pela Câmara Municipal ou já estão incluídas?

Já estão incluídas, porque essas competências da Câmara Municipal exigem, da nossa parte, a manutenção de alguns espaços, pequenas obras nas escolas ou na freguesia, assim como a limpeza de jardins e a manutenção de espaços públicos, isto é despesas correntes, porque para realizarmos investimentos de capital temos de fazer outros protocolos, caso tenhamos alguma obra ou projeto que o município entenda que devemos fazer

 

Que milagres consegue fazer uma Junta de Freguesia com 8 mil euros por mês, atendendo que, normalmente, é o primeiro ponto de socorro de que as populações se servem e é uma freguesia urbana, porque está dentro do perímetro da cidade?

Realmente, não é fácil, por isso é que as coisas, atualmente, estão mais difíceis, porque, por exemplo, a partir de 2005, havia mais facilidade em fazermos acordos com o Governo, o que, atualmente, é quase impossível, devido às restrições do Tribunal de Contas, que não permite fazer transferências para as Juntas para determinadas obras. Também, havia muitos apoios que davam para habitação e agora, por um lado, até bom que esses valores sejam transferidos diretamente às pessoas, porque existe uma obrigação legal que responsabiliza a própria família que recebe essas verbas, porque, anteriormente, era a Junta de Freguesia que assumia essa responsabilidade de fazer a obra e, depois, o dinheiro não chegava e isso era uma grande dor de cabeça e um problema que, atualmente, já não existe, o que faz com que, também, as autarquias não tenham mais uma margem para fazer mais qualquer coisa. Este valor de, sensivelmente, cerca de 8 mil euro não dá para fazermos obras de investimento, nem grandes coisas, só dá para fazermos certas manutenções e os apoios às instituições que temos em Santa Bárbara, por exemplo, a igreja, a Filarmónica, o Clube Desportivo Santa Bárbara, a Associação Dinamizadora, os Ritmos da Ribeira Grande, que têm sede nesta freguesia, assim como uma série de entidades. Nós tentamos dar o nosso melhor, agora, os apoios não podem ser por aí além, porque não é possível e como temos os funcionários no âmbito dos programas de emprego e temos de pagar a Segurança Social que é um encargo pesado, a margem, realmente, é muito curta, o que nos obriga a estar, constantemente, a solicitar reuniões junto do Governo Regional, dos diretores regionais e da Câmara Municipal, porque tudo aquilo que se poderá fazer é feito, tem que ser sempre em parceria ou com a Câmara, ou com o Governo. Não é possível fazermos nada, nem grandes ou pequenos investimentos, sem o apoio destes dois parceiros e, às vezes, torna-se muito difícil.

 

Senhor presidente, recentemente eu ouvi-o a tecer rasgados elogios à colaboração da Câmara Municipal da Ribeira Grande. Será que isso foi mesmo sentido, ou foi porque um presidente de Junta ainda continua a ser considerado um pedinte, que anda pelos corredores das instituições superiores à procura de algo não para si, mas para a sua população?

Qualquer presidente de Junta que se digne e que preze a sua freguesia, tem de, infelizmente, andar sempre a pedir. Exigir é uma palavra pesada e é difícil exigirmos que as coisas sejam feitas, porque, infelizmente, a política partidária, às vezes, inviabiliza que as coisas sejam feitas, apenas porque um determinado presidente ou uma determinada Junta é de uma cor diferente e isso deixa-me triste, não só enquanto pessoa que defende as populações. Nós somos eleitos por um povo, para defender o nosso programa, as nossas ideias e aquelas pessoas e, como já foi dito várias vezes, não só por presidentes de Junta, mas também por presidentes de Câmara e do Governo, nós quando somos eleitos não temos cor, somos de todos, mas isso, depois, na realidade, infelizmente, não acontece, porque existe sempre aquela tentação de defender mais uma determinada Junta, em detrimento de outra, que é da cor oposta e eu acho que nos tempos atuais essa mentalidade tem de acabar, porque as pessoas de Santa Bárbara não podem ser prejudicadas por eu ter aceitado candidatar-me a uma Junta através de terminada uma cor partidária, por acaso, foi o PS, mas podia ter sido o PSD ou outro. Claro que temos os nossos ideais e eu posso identificar-me mais com a ideologia socialista, mas, hoje em dia, as ideologias valem o que valem. Como mencionei anteriormente, eu, na altura, fui convidado pelo meu amigo Nelson, que fazia parte do PS, para encabeçar uma lista, por acaso fiquei, mas até podia ter sido de outro partido. Eu não vim para a Junta, nem me dediquei a esta aventura, na altura, por causa de um partido, foi por uma freguesia, para poder fazer algo pelas pessoas e pela população e, por acaso, foi por aquele partido, com o qual eu me identifico e ao qual, depois, me afiliei e assumo, nunca vou fugir a isso. Eu acho que as pessoas quando assumem uma entidade e uma posição devem levar sempre até ao fim, embora possa haver outras razões para que outros não aceitam, mas eu nunca vou fugir e as pessoas conhecem-me como tal. Agora, é verdade que andamos sempre a pedir. Relativamente à questão dos elogios, por vezes, eu sou uma pessoa muito realista nesse aspeto. Eu sou muito sincero e se tenho de dizer que o apoio foi através da Câmara, assim faço, agora se estou totalmente satisfeito com o apoio e com aquilo que o município faz, claro que não, porque queremos mais, pois há coisas que faltam fazer, há compromissos que foram assumidos pelo atual presidente que ainda não foram cumpridos. Tudo bem que ainda faltam dois anos, mas por exemplo, em Santa Bárbara, os quatro pilares de que falamos há dois anos atrás, na primeira reunião que tivemos com o senhor presidente foram baseados no polidesportivo que ele prometeu construir, numa zona de lazer que estamos agora a iniciar numa zona conhecida como “Boca da Ribeira”, num espaço que tinha sido adquirido pela Câmara Municipal e que estava, há sete ou oito anos, abandonado e criámos ali um projeto para resolver o problema de estacionamento, uma zona de lazer, a criação de um parque infantil com condições para aquela zona da freguesia que está mais desprotegida nesse aspeto, a questão dos arruamentos e do pavimento, que em Santa Bárbara já têm cerca de 40 anos, que tem sido substituído em algumas artérias, mas ainda faltam muitas para também para serem alcatroadas. Depois, olhamos à nossa volta para a Ribeira Seca, a Conceição, a Matriz e a Ribeirinha e vemos os caminhos todos em condições e a Santa Bárbara sente-se, digamos, esquecida por falta desse investimento e dessa qualidade e, a meu ver, as pessoas não podem ser postas de lado, por uma questão partidária. Eu não posso afirmar ou garantir que é isso o que está a acontecer, é o que nós sentimos.

 

Será que sente que aquela Estrada Regional põe a Freguesia de Santa Bárbara um pouco de lado? Será que a Via Rápida corta o cordão umbilical com o resto da cidade?

Eu não tinha pensado nisso, mas acho que não. Santa Bárbara é mesmo uma freguesia que tem muito potencial. É central ao nível da ilha e tem muita facilidade de acessos, tanto para Sul, como para Norte, porque temos a Via Rápida que passa pela freguesia, também temos o caminho da Estrada Regional, que tem uma ligação rápida pelo Cabouco para a Lagoa e temos, mais à frente, a Via Rápida Ribeira Grande – Lagoa e temos uma quantidade de terrenos que me deixam um pouco preocupado, porque não sei o que é que vai acontecer no novo PDM, mas aquilo de que eu já me apercebi que vai sair é uma retirada muito grande da zona urbana, de cerca de 35% a 40%, o que também faz com que a freguesia se sinta, não posta de lado, mas que corta o desenvolvimento de uma localidade, que tem potencial para crescer, apesar de a Câmara, e bem, e isso tenho de dizer e fico contente, através da Cooperativa Nossa Vila Nossa Casa ter cedido um espaço para a construção de 11 ou 12 lotes, na Travessa do Visconde, em Santa Bárbara, que se está a desenvolver e está-se a fazer todos os esforços para que, rapidamente, se possa fazer esse loteamento e tentar que essas pessoas que se candidatam que sejam, na sua maioria, oriundas desta freguesia. Este era um dos nossos quatro pontos e realmente já está no terreno.

 

Sendo a Santa Bárbara uma das freguesias integrantes da cidade da Ribeira Grande, a falta de orçamento da Junta de Freguesia é substituída por uma atividade extra da Câmara Municipal, nomeadamente os seus serviços, ou não?

Em relação a essa parte, uma coisa que o senhor presidente da Câmara tem falado e que eu espero que se verifique no próximo Plano e Orçamento para 2024 é a cedência de pessoas às freguesias, como apoio a esta parte financeira e eu ainda não senti isso, apesar de Santa Bárbara, como disse, fazer parte da cidade da Ribeira Grande. Isso tem sido falado e eu espero que, agora, em 2024, o senhor presidente resolva essa situação, porque nós tínhamos um senhor que nos apoiava, através de um programa de emprego, mas que deve de deixar por motivos de saúde, pelo que neste momento temos um cemitério, mas não temos coveiro e isso é uma preocupação, não só de Santa Bárbara, mas também do concelho e eu acho que, neste aspeto, a Câmara está a falhar, porque já deveria ter formado pessoas para tal e eu não sei como vai ser daqui em diante.

 

Quais são os quatro objetivos, que evocou há pouco, que delineou para este mandato?

Nós nunca vamos negar aquilo que for preciso fazer, agora é preciso não esquecer que nós, por muito que queiramos fazer e estar nos sítios, temos as nossas vidas familiares e profissionais e, às vezes, não é fácil estarmos em todo o lado. A Junta de Freguesia já doou cinco mil metros quadrados para construção de um pavilhão com bancada, que permita que haja jogos regionais oficiais, para nomeadamente o futsal, não só para o Clube Desportivo de Santa Bárbara, mas para os outros clubes da cidade, pois, neste momento, o município da Ribeira Grande não tem nenhum polidesportivo municipal, tirando o Pavilhão Desportivo Municipal Engenheiro Fernando Monteiro, que está completamente ultrapassado, não tem as dimensões e está em péssimo estado. O senhor presidente já manifestou o seu interesse em construir um pavilhão e eu acredito que Santa Bárbara tem todas as condições e por isso cedemos o terreno. Neste momento, estamos à espera que o presidente apresente esse projeto, o que disse que faria até ao final deste ano. Nós estamos sempre disponíveis e abertos para que as coisas sejam feitas, estamos de boa-fé e eu acho que toda a gente tem de estar. Outro objetivo está relacionado com a questão de arranjarmos um espaço para a habitação, em autoconstrução, no âmbito da Cooperativa Nossa Vila Nossa Casa. Nós ainda não vimos o regulamento, mas pretendíamos que houvesse uma fórmula que beneficiasse ou privilegiasse, de alguma forma, os habitantes de Santa Bárbara. Depois, a questão dos arruamentos, assim como da zona verde. Também é importante tentar resolver, de uma vez por todas, o problema de águas pluviais que temos na Rua do Biscoito, com a aquisição de um terreno, para criar uma bacia de retenção e aproveitar o espaço restante para criar um estacionamento. Portanto, estes são os pontos principais que delineamos com o senhor presidente da Câmara e o executivo atual. A questão da zona verde já foi protocolada, a obra ainda não começou devido à falta de mão de obra e à grande afluência que o turismo tem trazido na parte da construção civil. A questão do polidesportivo, o projeto está em andamento. Relativamente aos arruamentos, temos feito alguns, mas faltam outros. A situação das casas está em andamento, as coisas não estão assim tão más, o que torna difícil, às vezes, é a luta constante atrás destes pilares e destas nossas metas, que não são minhas, não são para mim, pessoalmente, mas para a freguesia e para o concelho. A Junta de Freguesia, quando apresenta os seus objetivos, tem de ter sempre o cuidado de não prometer, porque nós estamos sempre dependentes de terceiros, pois o poder de decisão cai sempre em cima das autarquias e do Governo Regional e a nossa luta é constante com essas entidades, porque sem estes parceiros, realmente, não se consegue fazer rigorosamente quase nada.

 

Considera que o facto de os orçamentos serem tão restritivos para a Junta de Freguesia, dá um certo desencanto às pessoas, por não conseguir ir totalmente ao seu encontro? Será esta uma das justificações para a elevada abstenção dos cidadãos quando há eleições autárquicas?

Segundo a minha experiência, de 22 anos, eu acho que a justificação da abstenção, pelo menos na nossa região e no nosso concelho, vai refletir-se muito sobre o facto de as pessoas já não acreditarem nas promessas, nem daquilo que se diz, porque depois existe sempre essa influência na campanha, nas ruas, dos candidatos falarem com as pessoas e baterem às portas, fazendo promessas, mas depois, infelizmente, a maior parte das coisas não são realmente resolvidas e, depois, há um certo desacreditar na política e nas pessoas que se candidatam. Porém, é preciso que as pessoas votem, deem a cara e façam valer a sua posição, nem que seja em branco. Eu acredito que as pessoas, às vezes, esquecem-se do poder que têm, porque são elas que têm o poder na mão, são elas que decidem e é preciso que realmente continuem a ir às urnas e a fazer valer a sua posição, porque o que interessa é votar, pois é isso que demonstra a verdadeira intenção do povo. Eu acho que isso é algo em que tem de se trabalhar e fazer com que as pessoas voltem a acreditar e voltem a dar a sua voz.

 

Sendo a Ribeira Grande um concelho maioritariamente jovem e Santa Bárbara também não foge a isso, que objetivos tem para cativar os jovens para o amor à sua terra?

Os jovens estão bastante afastados da sua terra e, realmente, é preciso criar movimentos e infraestruturas que possam fazer com que eles voltem a participar e a ficar nas suas freguesias. Uma coisa muito importante, que eu acho que é um problema geral do país, é a questão da habitação dos casais jovens que, atualmente, têm muita dificuldade em arranjar habitação, devido à subida das taxas de juro e é fundamental criar condições para que eles não fujam para o estrangeiro e se fixem nas suas freguesias, aliás acho que isso é o passo principal. Depois, criar instrumentos, através das associações, por exemplo temos um clube desportivo com cerca de 41 jovens, 30 dos quais de Santa Bárbara, a praticar futsal e futebol. Criar zonas desportivas ao ar livre, não só para as equipas, mas abertas à população. Mas, é preciso criar mais coisas, porque o que existe não é suficiente. Eu acredito que tem de se voltar a trazer algumas atividades do passado, como os retiros das festas, para que os jovens também possam interagir.

 

Da Juventude, vamos aos seniores e há uma instituição, que é a Associação Dinamizadora de Santa Bárbara, que tem um cordão umbilical com a Junta de Freguesia e tem desenvolvido um papel também importante nessa área.

A Associação Dinamizadora realiza atividades como os cursos de gastronomia, viagens ao continente ou às ilhas para os seniores, mediante um determinado valor atrativo e isso tem feito com que essa faixa etária se junte e se aproximem. Também, dinamiza a Marcha de Santa Bárbara, que tem algum impacto e, felizmente, é a primeira vez que temos muitos participantes, aliás, neste momento estão 90 pessoas inscritas, 50 das quais de Santa Bárbara, desde jovens a pessoas mais velhas, o que é importante e muito bom. A meu ver, são estas coisas que nós temos de fazer para que as pessoas possam conviver entre si e sentir que fazem parte desta terra e que nós estamos a fazer as coisas não só na parte do betão, mas também na parte humana, da socialização e do convívio, eu acho que é fundamental.

 

Senhor presidente, focou o caso das marchas, mas podia ter focado outro. Sendo esta atividade um produto genuinamente popular, em que o concelho tem tradição, acha suficiente o apoio que o município da Ribeira Grande dá a este espírito criativo? Acredita que o facto de não haver um incentivo extra, pode vir a matar este tipo de trabalhos no futuro?

Essa também tem sido uma luta não só para Santa Bárbara, pois como disse é uma tradição no concelho, inclusive na Ribeira Seca, como é o caso da famosa Marcha de São Pedro, que custa muito dinheiro. Portanto, eu posso dizer que a marcha deste ano, teve um custo de cerca de 13 mil euros, a contar com as costureiras, fazendas, indumentária, sapados, ou seja, foi um custo significativo. A Câmara Municipal da Ribeira Grande costumava dar 1500 euros por marcha e, este ano, aumentou mais 500 euros e passou para 2 mil euros. Não sei se no próximo ano o valor será igual ou se aumentará, mas sei que as marchas têm feito chegar, ao senhor presidente, que o valor é insuficiente, porque se queremos ter marchas com qualidade, isso custa dinheiro e as coisas estão cada vez mais caras. Portanto, eu acho que tem de se investir um pouco mais nessa tradição e nessa cultura, porque é antiga e é um marco e um dia importante, porque marca não só a Festa de São Pedro, mas a festa da cidade.

 

Sendo este município tão mãos largas na atribuição de apoios, no verão, a festivais de música que se organizam, que quase chegam a um milhão de euros, gasto em 30 dias, acha que é concebível que seja, como se diz no continente, mão de vaca na atribuição de apoios a uma tradição tão forte e tão significativa para as gentes da Ribeira Grande?

O senhor Joaquim realmente tocou num ponto sensível. Isso é como aquele ditado que se diz que nós somos presos por ter cão e presos por não ter. Agora, é assim, naturalmente que se for falar com os jovens, eles vão dizer que é uma boa aposta. Agora, eu acho que tem de se fazer essas atribuições de forma mais racional, porque, depois, quando se está no outro lado, por exemplo, numa Junta de Freguesia, as pessoas depois vêm questionar-nos porque é que isto ou aquilo não está resolvido e torna-se difícil corresponder, porque a população também se questiona sobre o investimento, isto é, se a Câmara gasta um milhão de euros em festas, se não poderia tirar meio milhão para resolver o problema antigo de uma freguesia, de um arruamento, de um problema pluvial, de saneamento, ou outra coisa qualquer. A Câmara Municipal da Ribeira Grande atribui, e não digo que não faz esse tipo de trabalho, mas realmente há sempre quem queira mais e eu acho que, realmente, devia de haver mais cuidado, não querendo dizer que não se façam as festas, isso não está em causa, mas ter algum cuidado na atribuição desses valores. Porém, acredito que podia atribuir mais verbas às instituições culturais, às filarmónicas, ao folclore, que também está a passar um mau bocado devido à falta de adesão dos jovens e também devido às dificuldades económicas, porque sempre foi visto como algo gratuito, mas também tem despesas. Portanto, esse apoio devia ser diversificado e não centralizado no verão, diluindo-se ao longo do ano.

 

Numa Junta de Freguesia, para ser acicatado a desenvolver um trabalho bom, tem de ter uma oposição boa, porque obriga a um melhor desempenho. Em Santa Bárbara, tem dado pela oposição?

Na Freguesia de Santa Bárbara a nossa oposição é ativa, questiona-nos, apresenta propostas e contribui. Quando é possível, nós temos de dialogar. Eu não sou quero posso e mando, nunca fui, nem sou assim na minha vida, nem a minha forma de estar. É claro que, nem sempre tudo aquilo que eu acho que é correto assim é e nós temos de ouvir, porque existem opiniões e experiências. Eu acho que é importante que a oposição seja proativa e também aceite as coisas. Há muitas votações que são feitas por unanimidade, tanto de um lado como do outro, por exemplo, o Plano e Orçamento foi aprovado por unanimidade nos últimos dois anos. Eu acredito que as pessoas que se dedicam às freguesias têm mais um espírito de entreajuda.

 

Olhando para a sua freguesia e refletindo, o que é que diria aos cidadãos de Santa Bárbara no presente e para o futuro?

Às vezes é difícil transmitir essa mensagem. No presente, é que fiquem tranquilos, digo isto do coração, porque eu e todos os meus colegas estamos a fazer tudo aquilo que achamos necessário e aquilo a que nos comprometemos, para que se concretize e que se melhore as condições para se viver e para se estar em Santa Bárbara. No futuro, espero que a população continue nessa perspetiva, o que não quer dizer que tenha de ser comigo, seja com a pessoa que ficar a seguir a mim, e que continue, sempre, a acreditar, porque Santa Bárbara é uma freguesia com muito valor, com muita tradição e com muita história. É uma freguesia que sempre lutou por aquilo que tem, não se esqueça que Santa Bárbara era um lugar da Ribeira Seca e conseguiu a sua independência. Estamos a falar da mais pequena freguesia da cidade da Ribeira Grande, mas não é inferior em nada, passo a expressão, em relação às outras da cidade. Portanto, tem tudo e mais alguma coisa para que seja uma grande freguesia, que é, e será ainda melhor, pelas pessoas, pela sua exploração e pelas atividades que consegue dinamizar. As pessoas unem-se, participam nas festas e entreajudam-se na freguesia. Eu acho que o futuro passa por estarmos unidos, por trabalharmos com um único objetivo, sempre na ótica da melhoria do bem-estar e isso só se consegue se rumarmos todos na mesma direção.

 

Para quem ainda não conhece a Freguesia de Santa Bárbara, quais são as datas mais significativas e os locais a visitar que o senhor sugere?

A festa principal de Santa Bárbara é a Nossa Senhora das Vitória, que se celebra no último domingo do mês de agosto. Também, celebramos o Espírito Santo, assim como as restantes freguesias, com uma festa realizada pela Junta, sempre no fim de semana antes da Festa em honra do Senhor Santo Cristo, para toda a população, com as tradicionais sopas e eventos musicais, cuja receita total é entregue à igreja, à Comissão de Festas daquele ano. Para além disso, Santa Bárbara tem o Trilho do Pico Queimado, que tem uma vista lindíssima sobre a cidade da Ribeira Grande, graças ao Miradouro da Mediana, que torna possível esta visualização do concelho e da costa Norte. Eu diria que é uma freguesia pacata, onde se vive bem, com uma forte tradição ligada às tecedeiras e é uma freguesia muito dedicada à agricultura e à agropecuária.

 

Apesar da sua falta de tempo e renitência, depreendo das suas declarações ao longo desta entrevista que está para mais um mandato.

Neste momento, para já, do fundo do coração e para ser o mais sincero possível, não sei, porque eu estou numa fase da vida em que tenho outras coisas. O meu pai não está bem e eu não o que é que vai acontecer. Sou filho único, não tenho mais irmãos o que faz com que tenha de me dedicar à minha família. Também, tenho a minha vida profissional que me ocupa um bocado. Porém, ninguém sabe, pode ser que sim, pode ser que não. Vamos ver como é que as coisas correm nos próximos dois anos, mas independentemente disso, isso é algo que eu quero deixar muito claro, como eu saí na altura, fiz parte da Comissão Fabriqueira e eu vou estar sempre disponível, esteja ou não na Junta, para fazer tudo aquilo que seja possível e aquilo que me pedirem em prol da Freguesia de Santa Bárbara, que vai ficar para sempre comigo. Eu vou estar sempre disponível para fazer tudo o que eu puder e estiver à altura de fazer em prol de Santa Bárbara.

 

Que mensagem de Natal e de Ano Novo quer deixar aos habitantes de Santa Bárbara e da Ribeira Grande?

Eu desejo que sejamos todos unidos, felizes, com muita saúde e paz, que é algo que, hoje em dia, está a faltar no nosso mundo e nas nossas gentes, com as guerras que estão a decorrer. É preciso ver as coisas de uma forma diferente. Estamos a passar uma fase que, provavelmente, eu nunca pensei que iriamos vivenciar, desde a Covid-19, a pandemia de que ninguém estava à espera, e isso mudou muito a nossa forma de ver, pensar e estar, pelo que temos de, realmente, estar unidos, não criar conflitos e problemas desnecessários, porque a vida, como se diz, são dois dias e um já passou. Portanto, desejo votos de um feliz Natal e um próspero Ano Novo, com tudo de bom, muita felicidade e saúde.

 

Na noite de Natal, o que é que vai à sua mesa?

O meu Natal é muito simples, não faço assim nada de extraordinário. A minha família é pequena, tenho os meus dois filhos e os meus pais. O ano passado nem consegui estar com eles, porque o meu pai estava no Porto, pois tinha feito uma intervenção cirúrgica, portanto os meus pais não estiveram cá pelo Natal, nem na passagem de ano. Portanto, é o normal, um peru, caldo verde e a minha mãe faz sempre os bolos natalícios. Eu sou uma pessoa simples nesse aspeto.