“SINTO UMA PAIXÃO MUITO FORTE PELA VIDA AUTÁRQUICA”

Há 22 anos no mundo da política local, Manuel Azevedo está a cerca de dois anos do fim deste que será o seu último mandato à frente dos destinos da União de Freguesias de Sandim, Olival, Lever e Crestuma. Fazendo uma retrospetiva sobre a sua viagem pela vida autárquica e as conquistas alcançadas, o edil assegurou que anseia ver concluído o Pavilhão da Escola Básica de Olival, em benefício dos alunos e das coletividades, cuja edificação já tinha iniciado, mas foi abandonada pelo construtor. Assumindo que é um homem de sonhos e que são inúmeros os desejos para estas localidades, o autarca não escondeu que será difícil calçar as pantufas, mostrando-se disponível para ajudar, seja quem for, na prosperidade dos territórios.

 

Para quem, eventualmente, não o conhece, quem é o cidadão Manuel Azevedo?

Eu sou um indivíduo humilde, amigo das pessoas e que gosta de ajudar o próximo. Também valorizo muito o convívio e a proximidade com as pessoas. Não tenho qualquer tipo de interesses políticos ou de conhecimentos, pois não é isso o que me ilude ou que me interessa. Agora, tento cumprir o dever que eu assumi, enquanto presidente de Junta, que é de proteger os mais fracos e aqueles que precisam, porque é esta a minha maneira de ser, aliás qualquer pessoa que vá à Junta ou a minha casa já sabe que eu só não ajudo se não puder mesmo.

 

Foi eleito em 2013 e está a meio do seu último mandato à frente dos destinos da União de Freguesias de Sandim, Olival, Lever e Crestuma. Qual é o balanço que faz do percurso até aqui?

O balanço tem sido positivo. Porém, há, aqui, uma coisa que tem de ser dita e com toda a clareza: nunca se investiu tanto nestas quatro freguesias, como nos últimos 10 anos. Não tem exemplo. Claro que a necessidade deste investimento surgiu porque, independentemente da cor política, estas quatro freguesias estavam esquecidas, ao nível de tudo, desde o desporto, à cultura, até à ação social. Portanto, se nós contabilizássemos o valor que a Câmara Municipal de Gaia já investiu na União de Freguesias de Sandim, Olival, Lever e Crestuma, eu acho que poucas pessoas acreditariam, mas teriam de admitir que se reabilitou o Campo de Futebol dos Dragões Sandinenses, comprou-se o terreno para o futuro pavilhão do Modicus, construiu-se a casa mortuária em Sandim, que custou cerca de 200 mil euros, entre outras obras de referência. Em Olival, o investimento foi ao nível de arruamentos e o edifício sede da Junta de Freguesia. Em Crestuma, fez-se a sede da Banda da Música, está-se a construir o estádio do clube de futebol, reabilitou-se a Escola Santos Moura, entre muitas outras obras emblemáticas. A primeira coisa que eu fiz quando cheguei a Crestuma foi transferir o Centro de Dia de onde estava, porque o espaço, que era do padre e já muito fez ele, não tinha condições, tinha muitas escadas e chovia lá dentro, então preparamos a antiga escola primária, que estava abandonada, e transferimos para lá esta valência, onde tem todas as condições, mas é sempre pouco, no que diz respeito à área social. Em Lever, foi a Rua Central, que também foi uma promessa e está quase a ficar concluída, além do campo de futebol e da reabilitação e ampliação do edifício da Junta de Freguesia, onde também está sediada a Banda de Música Leverense, uma obra orçada em 1,5 milhões de euros e que ainda está a decorrer. Vieram 400 ou 500 mil euros para os Bombeiros de Crestuma, deveria ter vindo mais, mas não pode ser tudo de uma vez. Tudo isto sem contar com os pequenos investimentos que são feitos todos os dias e que são muito importantes para as pessoas. Todas as associações merecem, mas no que diz respeito tanto à Banda Musical de Lever, como de Crestuma, são duas instituições de referência, ao nível do concelho, pelo que merecem tanto o apoio da Câmara, como da Junta de Freguesia. Portanto, a realidade é que a autarquia tem dado muito dinheiro para estas quatro freguesias, mas tenho de admitir que são, também, as pequenas obras que me enchem de orgulho.

 

Mencionou que muito foi feito nesta União de Freguesias, mas o que mais ambiciona fazer até ao final do mandato?

Um presidente de Junta anseia sempre mais, nunca está satisfeito. Eu sempre sonhei com a construção do Pavilhão da Escola Básica de Olival, que durante o dia serviria o estabelecimento de ensino e, à noite, as coletividades. Eu tentei lutar, consegui colocar no terreno, mas o empreiteiro que tomou conta abandonou-a e tivemos de voltar a iniciar o processo e a pedir orçamentos. Eu gostava de voltar a ver nascer este projeto, porque foi algo com que sempre sonhei e que estava a começar a tornar-se realidade. Neste momento, já perdi a esperança de ser eu a inaugurá-lo, mas também não é isso o que conta para mim, mas os projetos no terreno. Também, gostava de construir uma casa mortuária em Arnelas, porque é a igreja deste local que está a servir para o efeito e trata-se de uma capela histórica e não faz sentido, doa a quem doer. O mesmo acontece em Olival e por isso é que eu também estou a tentar fazer uma casa mortuária lá. Seixo Alvo não tem cemitério e a casa mortuária está em terreno do padre, portanto, é considerada religiosa e tem de ser civil, tal como o cemitério. Estas quatro freguesias, têm apenas duas casas mortuárias civis, uma em Lever, que foi restaurada, e outra em Sandim, pois todas as obras, tanto em Olival, como em Crestuma, pertencem aos padres, daí eu dizer que seria interessante em Arnelas. Em Crestuma, eu preciso de renovar a parte das pombas, assim como em Lever, que não são obras de referência, mas não deixam de ser muito importantes para as pessoas. Agora, queria, também, reabilitar a Junta de Crestuma, porque está mesmo a precisar, pelo que é um objetivo meu. Todos os presidentes de Junta querem o melhor para as suas terras, mas eu acho que há investimentos que temos de saber gerir, pois caso contrário caem por terra e transformam-se em más aplicações. Eu tenho mesmo muitos sonhos, em Sandim, e estou a tratar disso, eu pretendo alargar o cemitério, porque eu estou com um problema, não tenho espaço. Já realizei algumas reuniões, com o intuito de negociar com a igreja, de modo a comprarmos uma parte e eles cederem outra, para conseguirmos alargar o cemitério com dignidade e servir a freguesia. Também vou aumentar em Crestuma e em Lever, onde fiz 30 ossários, o ano passado, e neste momento não há um único disponível. Isto vai ao encontro da tal responsabilidade que um presidente de Junta tem, de ter espaço para enterrar toda a gente, religiosos ou não, mas tem de o ter. Por outro lado, esta União de Freguesias precisa, igualmente, com alguma urgência de carros e camiões para servir a comunidade, uma vez que as poucas carrinhas que temos são para realizarmos as entregas ao banco alimentar. Isto é a realidade, é o dia a dia e o que um presidente de Junta sofre. Sonhos temos muitos, agora também reconheço que já recebemos um grande investimento por parte da autarquia.

 

Assume-se como um homem de sonhos, mas qual é o maior deles todos?

Eu entrei para a vida autárquica há 22 anos, por uma porta muito larga, que ao longo do tempo tem vindo a alargar, mas o meu maior sonho é sair pela mesma porta por onde entrei. Eu sou a mesma pessoa e nunca me envaideci por causa disto. De uma maneira geral, eu fico satisfeito quando resolvo algum problema, é uma alegria muito grande, mas há coisas que me ultrapassam. Esta União de Freguesias é completamente diferente das localidades do centro do concelho, porque nas centrais, as pessoas não vão à Junta, vão diretamente à Câmara, ou porque têm conhecimentos, ou porque é mais perto. Nestes casos concretos, mais no interior, em primeiro lugar, não há transportes, depois são pessoas muito humildes e que não têm grandes conhecimentos, então vêm à Junta de Freguesia com a esperança de que eu consiga resolver os seus problemas e eu tento ajudá-las, dentro das minhas possibilidades. Contudo, quando são situações que eu não consigo resolver, eu encaminho os fregueses para as pessoas certas, o que já é uma ajuda muito grande para as pessoas, porque ficam aliviadas e, no fundo, a mim não me custou nada informá-las. Claro que existem muitas pessoas que dizem que, no meu lugar, não largavam a vida delas, para aturar os problemas dos outros, mas se eu não quisesse ser incomodado, automaticamente não me metia nisto. Se as pessoas vêm ter comigo é porque estão aflitas, porque não têm conhecimentos e anseiam que eu consiga resolver o problema e o meu objetivo é ajudá-las.

 

Finalizadas as Festas das Coletividades, que percorreram todas as freguesias desta União, decorrerá o Passeio Anual Sénior. Qual é a relevância desta iniciativa?

Neste momento, já estou a trabalhar no passeio anual da terceira idade que, este ano, decorrerá no dia 13 de setembro, na Quinta da Granja, em Barcelos e no qual conto que participarão cerca de 800 idosos, como tem sido habitual. Esta é uma iniciativa muito importante que, ao contrário do que algumas pessoas pensam, não serve apenas para comer e beber, mas proporciona o convívio e o encontro entre as pessoas, que é o mais relevante. Portanto, é muito mais do que isso, é um dia diferente, que é ansiado por muitos seniores, porque é a data em que saem de casa, encontram os amigos e os familiares, que não veem durante o ano e convivem. Posso dizer-lhe que muitas vezes os habitantes da mesma freguesia ou de freguesias vizinhas só se reveem neste encontro anual. Recordo-me que, no primeiro passeio que eu fiz, enquanto presidente da União de Freguesias, juntei as localidades duas a duas, e as pessoas de Olival pediam-me para irem juntamente com Lever, ora porque eram familiares ou amigas, e o mesmo aconteceu entre Sandim e Crestuma. Logo, o passeio da terceira idade é importante para estas coisas. Nos últimos anos, optei por juntar as quatro, porque ao nível da logística é mais fácil, difícil é arranjar um local com condições para acolher tantas pessoas.

 

Considerando que este é o seu último mandato, quem imagina à frente dos destinos destes territórios?

Muito sinceramente, não tenho ninguém em mente para nenhuma das quatro freguesias, porque, supostamente, a desagregação será uma realidade, pelo menos, o processo foi reencaminhado nesse sentido. Posso dizer-lhe que, em 2012/2013, fui contra a agregação das freguesias e fiz tudo o que podia para que não acontecesse. Aconteceu, impuseram-me assim como a toda a gente e gastou-se muito dinheiro. Não sei se vai ser concretizado ou não, porque nunca mais se ouviu disso, mas estava previsto que, um ano antes das eleições autárquicas, uma comissão administrativa começaria a tratar do processo. Até ao momento, ainda nada disto foi feito, por isso mesmo eu não sei se vai para a frente ou não. Se for, eu não tenho nenhum candidato para nenhuma freguesia, mas estou convencido de que eles vão aparecer. É natural que, no caso de Olival, já cheguei a desafiar o meu braço direito há uns anos, mas ele nunca se mostrou muito interessado. Claro que, se a desagregação não acontecer e o meu sucessor for uma pessoa nova e com pouca experiência, poderá ter alguma dificuldade em gerir as quatro freguesias. Por outro lado, se for alguém que já esteja habituado, acabará por equilibrar. Um presidente de Junta tem de gostar do convívio e de falar com toda a gente. Eu condeno quando as pessoas não querem ajudar.  Eu sei que é um bocadinho chato, quando vão a nossa casa pedir ajuda e estamos a jantar ou com a família, mas eu admito que largo tudo e vou atender as pessoas e que, na maior parte das vezes, até me procuram para as ajudar a resolver questões que não estão relacionadas com a Junta de Freguesia. Relativamente à desagregação, eu não sei se vai permitir economizar alguma coisa, contudo acredito que vai trazer vários problemas, por exemplo, a nossa Junta tem dois camiões, como será feita a distribuição? Há uma série de problemas que não serão fáceis de resolver. Por isso, acredito que será muito complicado e um problema grave para essa comissão administrativa.

 

Calçando as pantufas, quais são as suas perspetivas para o futuro?

Reformar-me mesmo da política vai ser difícil, porque eu sei que me vai faltar alguma coisa. Eu sinto uma paixão muito forte pela vida autárquica. Em 2013 e, depois, em 2017, eu prometi aos meus netos e à minha mulher que não me candidatava mais, mas quando chegou a hora eu não cumpri a minha promessa, porque comecei a ferver e candidatei-me. Neste momento, eu não me posso candidatar mais, mas admito que vou sentir falta e vou sentir-me inútil se não estiver agarrado a isto. Não vale a pena esconder. Eu sou uma pessoa que gosta do convívio, de resolver os problemas dos outros e é assim que eu me sinto bem. Por isso, se quem vier, seja quem for, precisar de mim, eu agradeço, pois eu estou cá para colaborar, porque eu gosto, verdadeiramente, disto.

 

Qual é a mensagem que gostaria de transmitir?

A mensagem que eu quero deixar é, apenas, que desejo muita saúde, alegria e anos de vida a toda a gente. Eu sou o presidente de todos e tento colaborar com todas as pessoas e instituições. Neste momento, nós precisamos do nosso abraço e afeto, porque estamos a vivenciar um período onde se evidencia um bocadinho de falta de respeito pelos outros e eu acho que nós devemos pensar e evitar que isso aconteça.