JOAQUIM CAMARINHA ESCREVE CARTA ABERTA: “Sinto vergonha de ter o meu nome em causas e ações que não passam de promessas”

O AUDIÊNCIA teve, recentemente, acesso a uma carta aberta, da autoria de Joaquim Camarinha, membro do executivo da Junta de Freguesia de Serzedo e Perosinho, na qual consta que “no mandato 2013/2017 cada um dos dois elementos do executivo a quem foram atribuídos os meios tempos, transferiam a quantia de 250 euros por cada um dos catorze meses de remuneração para a conta pessoal do Presidente [João Morais]. Contas feitas, os dois elementos do executivo transferiam, anualmente, 7000 euros para a conta pessoal de João Morais, “um presidente de Junta reformado e voluntário (no papel)”.

 

A carta aberta, da autoria de Joaquim Camarinha, membro do executivo da Junta de Freguesia de Serzedo e Perosinho, foi lida, não integralmente, no passado dia 30 de abril, na Assembleia de Freguesia e chegou, recentemente, à redação do AUDIÊNCIA.

O documento em causa, comporta o percurso do autor desde o seu primeiro mandato como deputado entre 2013 e 2017 e expõe que “neste segundo mandato, 2017/2021, sou elemento do executivo. A minha expectativa era contribuir para a realização de mais tarefas, atividades, projetos que melhorassem Serzedo e Perosinho e dignificassem o meu tempo”.

“Contudo, a realidade a que assisto é a um adiamento sistemático e injustificado de tudo o que são decisões e respostas da Junta de Freguesia”, afirma Joaquim Camarinha na carta, acrescentando que “o executivo tenta passar a imagem que aquilo que não se faz é porque somos uma freguesia pequena, ou não somos capacitados, ou somos preteridos pela Câmara, ou desprovidos de recursos, ou vítimas de conspirações, mas, na verdade, o que não se faz é por falta de trabalho diário e contínuo, falta de método e organização, falta de planeamento e consistência, falta de conhecimento em gestão autárquica, falta de uma liderança capaz. Atenta e proativa (não autoritária e feudal)”.

O membro do executivo da Junta de Freguesia de Serzedo e Perosinho sugeriu demitir-se no início do mês de novembro de 2020, “mas tal pretensão foi rejeitada por, e cito «não vale a pena estramos a fazer alterações quando falta menos de um ano para terminar o mandato»”.

“Percebi, finalmente a grande e secreta missão que havia jurado cumprir com lealdade. Essa missão é tão-somente, no fim de cada mês, dar ao presidente, em forma de transferência bancária, 250 euros, acrescidos de dois doze avos referentes a subsídios de férias e de natal, que retiro do meu vencimento de autarca!”, refere o autor na carta, esclarecendo que “depois da reunião do executivo em que me foi atribuído o meio tempo, em conversa com o presidente, este explicou que no mandato 2013/2017, cada um dos dois elementos do executivo a quem foram atribuídos os meios tempos, transferiam a quantia de 250 euros por cada um dos catorze meses de remuneração para a conta pessoal do presidente”.

Segundo consta no documento, “com os 3500 euros que transferiria anualmente, como que patrocinaria essas deslocações [à Câmara ou a outros locais de relevante importância em busca de apoio ou ideias para o desenvolvimento da autarquia]. Acontece que nunca uma deslocação, nesse sentido, foi feita”.

“Porque o meu «querer fazer» [o meu serviço] é cada vez menor, tenho a certeza que só por estar na Junta quase todo o dia nos dias úteis da semana não me fazem merecedor do valor que até então me tem sido atribuído. Assim, com efeito a partir de 1 de maio de 2021 deixo de ser remunerado, acabando por não completar a entrega de 14 mil euros ao presidente em forma de transferências mensais, totalizando somente 12556 euros. Lamento que a minha recusa do vencimento impeça o presidente de atingir o objetivo de amealhar os 28 mil euros neste mandato”, relata Joaquim Camarinha no escrito, descrevendo que “o discurso de presidente voluntário, que vive da reforma e não recebe nada da Junta, permite-lhe assumir um estilo samaritano”.

O AUDIÊNCIA contactou Joaquim Camarinha, mas este não quis prestar declarações e falou com o presidente da Junta de Freguesia de Serzedo e Perosinho, que se mostrou indisponível para comentar.