Frequente e naturalmente, a posição de recrutador é uma posição de poder face à posição de candidato. Os recrutadores, públicos ou privados, acabam por ter um manancial de opção entre os milhares de candidatos disponíveis no mercado, que sonham com um lugar ao sol.
Mais raramente se vê o recrutador numa posição de inferioridade, tendo de recorrer aos seus dotes de persuasão para convencer determinad@ candidat@ a integrar os quadros da sua organização. Isto só ocorre, parece-me, nas situações em que o trabalhador seja altamente qualificado e disputado no mercado de trabalho.
Assim – e cingindo-nos apenas às ofertas de emprego que vão surgindo no mercado regional dos Açores – encontramos com relativa facilidade recrutadores que procuram Super-Candidatos. Conforme a experiência de vida e laboral já lhes devia ter doutrinado, tal não existe.
Vamos a exemplos práticos. Há alguns dias surgia na nossa praça uma oferta para gestor de recursos humanos e programador informático. Cumulativamente. Outra dizia respeito a inseminador artificial de bovinos e comercial polivalente. Cumulativamente também. Um outro pedia jornalista estagiário, recém-licenciado porém experiente, para ganhar à peça; que fosse autónomo e estivesse totalmente equipado, do ponto de vista do hardware e do software.
Anúncios há que solicitam do candidato uma super disponibilidade, inclusive do ponto de vista financeiro: que esteja disposto a ganhar apenas à comissão, deslocar-se na sua viatura própria, usar o seu próprio telemóvel a suas expensas, obviamente colaborando num regime de prestação de serviços, a recibo verde.
Tirando uma ou outra situação, nenhum dos exemplos acima existe. Não, pelo menos, com qualidade. Os recrutadores, antes mesmo de iniciarem os seus recrutamentos devem desenhar o posto de trabalho. O que é que eu preciso? O que é que eu espero desta pessoa? Onde vai trabalhar? Em que condições? O que vai concretizar em benefício da minha organização? Quanto vai auferir? As condições e vencimento que proponho serão atrativos a ponto de atrair os melhores? Se não os melhores, pelo menos os disponíveis e que possam ocupar a vaga satisfatoriamente?
Estas são questões que deixo em aberto aqueles que se encontram num papel de recrutador. Lembrando também que também os candidatos são pessoas. Não Super-Heróis. Muito menos ao mínimo salário.