3 CARTA NO SILÊNCIO

Hoje um dia como tantos outros, mas diferente no seu essencial, deitei-me na cama que tantas noites partilhamos, nem me tinha dado conta que a tinha feito como se fosse para dois, sentia o teu perfume na almofada e nos lençóis, lentamente para não te acordar, virei-me. Os meus braços queriam envolver-te naquele habitual abraço, mas apenas encontraram o vazio e o silêncio. Dei-me conta que estava deitado na nossa cama, mas tu não estavas junto de mim e numa imensa tristeza adormeci desejando acordar contigo a meu lado.

 

Já era tarde, os raios de sol entravam pelas friestas do tapa sol, a mesma rotina de sempre, como já estava habituado, preparei a mesa e o pequeno-almoço, liguei a música como sabes que gosto, e um uma frase no silêncio, ” vem o pequeno-almoço está na mesa”.

Apenas os raios de sol que entravam pela janela da cozinha, deste belo dia e a música por companhia, estava só e nem me dei conta, não estou habituado a estar só.

Soa aquela música da nossa infância “Chiquitita” tocada em flauta andina do grupo peruano que compramos.

Por momentos fechei os olhos e imaginei-nos a dançar, nesta pequena sala, como algumas vezes o fazíamos, logo eu que não gosto de dançar e entre uma lágrima e um sorriso aquele pensamento nas tuas gargalhadas quando te dizia a brincar ” pisei-te, desculpa”.

 

Os meus olhos percorreram o apartamento á tua procura, tu não estás, mas o meu coração sente a tua presença, entre mais um gole de café e uma dentada no pão com manteiga, escrevo e olho o quadro pintado por ti, mais uma vezes fecho os olhos imaginando ver-te sair daquela minúscula cabana e sentares-te a mesa comigo.

 

Olho a árvore de Natal e sinto mais uma vez a tua presença, naquele pai natal que pintaste de vermelho com tanto carinho. Sabes, fiz como disseste, coloquei outro dos que compramos, junto da árvore, mas este é verde.

Entre música, o pão com manteiga e o café, acabei por ir buscar os comprimidos, para a tensão, mas apenas eu tomei, pois, por fim dei-me conta que estava sozinho, escrevendo esta carta no silêncio.