A decisão de Donald Trump de mudar a embaixada dos EUA em Israel é uma grande acha na fogueira das tensões no Médio Oriente, pois a cidade é sagrada para cristãos, judeus e muçulmanos e, ao mudar a embaixada para Jerusalém, os EUA vão ser o primeiro país a reconhecer uma pretensão antiga de Israel, ter a Cidade Santa como capital «eterna e reunificada», o que provocará grande revolta no lado oposto.
A cidade, que no século XVII foi considerada a terceira mais importante do Islão, depois de Meca e Medina, é, ainda hoje, reclamada pelos palestinianos como local escolhido para capital de um ambicionado estado Palestiniano, na parte oriental.
Nas palavras do Papa Francisco, «Jerusalém é uma cidade única, sagrada para judeus, cristãos e muçulmanos, que ali veneram locais sagrados para as suas respectivas religiões», como é o caso do Nobre Santuário dos muçulmanos, espaço que, para os judeus, se chama Monte do Templo, gerido por uma comissão islâmica, suportada pela Jordânia.
A cidade tem sido palco, ao longo dos anos, de conflitos entre as duas partes, pois Jerusalém constitui-se como um dos principais diferendos que opõem israelitas e palestinianos, judeus e muçulmanos, desde 1947, quando a Assembleia Geral da ONU decidiu a partilha da Palestina, entre um Estado árabe e outro judeu, o actual Israel.
Após o fim da guerra israelo-árabe e como resultado da declaração da independência de Israel, em 1948, Jerusalém foi dividida, com a parte ocidental a ficar sob controlo israelita e a parte oriental sob domínio da Jordânia.
As Nações Unidas nunca reconheceram Jerusalém como capital de Israel, nem a anexação em 1967 de Jerusalém Oriental e, como tal, o concerto das nações seguiu esta orientação da ONU, não aceitando a anexação da parte oriental da cidade, sendo, por essa razão, que os países com representação diplomática em Israel têm as embaixadas em Telavive, em conformidade com o princípio, consagrado em resoluções das Nações Unidas, de que o estatuto de Jerusalém deve ser definido em negociações entre israelitas e palestinianos.
Trump vai aplicar legislação norte-americana aprovada em 1995 e esta decisão decorre de promessa eleitoral suportada por uma lei norte-americana de 1995, que solicitava a Washington a mudança da embaixada para Jerusalém até 31 de maio de 1999.
No entanto, esta decisão nunca foi aplicada pelos presidentes Bill Clinton, George W. Bush e Barack Obama, fazendo uso de uma prerrogativa que conferia essa possibilidade, caso fosse necessário «proteger os interesses de segurança nacional» e certamente também por ser reconhecido que se tratava duma ilegalidade em relação às disposições da ONU e, acima de tudo, causaria a revolta do sector palestiniano, a reprovação global e um prejuízo enorme para as conversações de Paz em curso.
Assim sendo, ou estamos perante mais uma insana irresponsabilidade ou então trata-se de mais uma forma de afirmação do presidente Trump, pois construir uma embaixada em qualquer lugar do globo demora um bom par de anos, tempo suficiente para prorrogar esta decisão, que obteve de imediato a surpreendente condenação da União Europeia, sempre no alinhamento com as teses estado unidenses, mas também da ONU, Grã-Bretanha, França, Turquia, Rússia, China, Portugal, Tunísia, Jordânia, Indonésia, Malásia, Paquistão e do mundo árabe em geral, reabrindo as hostilidades na Palestina e somente recolhendo o apoio de Israel, o velho aliado do Estados Unidos na zona, onde ambos têm semeado a morte e a destruição.
Por outro lado, a rede do grupo terrorista Al-Qaeda e o As-Sahab já lançaram apelos aos seus seguidores para que atacassem alvos dos Estados Unidos, de Israel e dos seus aliados em todo o mundo, ou seja, achas para a fogueira num mundo em colapso.
Fica, assim, bem claro para a opinião pública em geral e para os ingénuos ou incautos em particular, onde se situa o eixo das aventuras belicistas e hegemonistas que nos estão a levar para patamares de conflagração mundial e que nos convocam para incessante luta pela Paz, antes de ser demasiado tarde.