“DETETIVES” AQUECEM AS “CÉLULAS CINZENTAS”

Prosseguimos hoje como a publicação dos problemas de resposta fácil que servem de “aquecimento” às “células cinzentas” dos nossos “detetives” que brevemente se posicionarão na linha de partida do Torneio de Decifração “Solução à Vista!”, que arranca no próximo mês de maio, e que nos vai levar até ao final do ano que ainda agora mal começou.

Antes, porém, continuamos a reunir os enigmas policiários que os leitores queiram submeter à apreciação do júri do concurso “Mãos à Vista!”, cujo prazo de receção expira em abril. Posto isto, aqui fica mais um enigma de preparação da nossa época competitiva, da autoria do Inspetor Boavida:

 

ENIGMA POLICIÁRIO
O Caso do Leilão de Pintura Realista, de Inspetor Boavida

Manuel Pimpão, construtor civil que subiu na vida a pulso, atualmente possuidor de uma enorme fortuna, não é propriamente um “expert” em matéria de artes plásticas, muito pelo contrário, mas tem um particular fascínio por obras de arte realistas, sobretudo as que espelham com rigor paisagens, monumentos e pessoas pelas quais nutre respeito e admiração, sendo neste momento detentor de uma vasta e valiosa coleção.

Aquela sua paixão levou-o há dias a um leilão de Obras de um pintor-retratista dotado de extraordinária sensibilidade, falecido em circunstâncias pouco claras num acidente de viação ocorrido numa “picada” em Angola, quando ali rebentou a guerra colonial, que tinha a particularidade de pintar figuras públicas socorrendo-se apenas de fotografias publicadas em capas de revistas, retratando-as até ao mais ínfimo pormenor, a expressão, o brilho do olhar e até o carácter…

O leilão foi calmo, sem fulgor, sem chama, com os licitadores a arrematar cada uma das Pinturas sem despiques de relevo. Pimpão arrematou um belíssimo Quadro onde se via Salazar a agraciar um soldado de uma companhia de comandos com a medalha de Cruz de Guerra, numa parada militar, junto ao Mosteiro dos Jerónimos, depois de dois lances disputados com um misterioso sujeito de bigode farto e retorcido, vestido de gabardina, adquirindo de seguida, sem oposição, uma Obra que retratava o antigo presidente da República General Spínola no dia da sua tomada de posse.

Para além daquele despique, aconteceu ainda uma pequena “picardia” entre os mesmos protagonistas quando o leiloeiro anunciou um soberbo Retrato do grande Eusébio, com a camisola das quinas, rematando, no seu estilo inconfundível, para um dos cinco golos com que Portugal “brindou” a seleção da Coreia do Norte no Campeonato do Mundo de Futebol, realizado em Inglaterra, que o sujeito de gabardina acabou por arrematar por um valor apreciável.

Mas a grande discussão gerou-se quando o leiloeiro anunciou a última peça, um fantástico Retrato 1,80mx1,20m a óleo, com o capitão Salgueiro Maia em pleno largo do Carmo, em cima da Chaimite que o trouxe da Escola Prática de Cavalaria, de Santarém até Lisboa, naquela primavera de cravos e sorrisos, que abriu as portas à Liberdade. Após quatro lances “inflamados”, Pimpão acabou por arrematar aquela preciosa Obra que o deixou radiante de felicidade.
Porém, quando, no final do leilão, se preparava para passar o cheque com o valor das Obras que havia arrematado, Pimpão viu-se envolvido de repente numa enorme confusão de gritos, insultos e agressões físicas, que só não tomou proporções muito mais graves graças à pronta intervenção do subchefe Pinguinhas que se encontrava em serviço no local.

Firme e decidido, impondo a sua autoridade, Pinguinhas pôs fim à altercação e levou o construtor civil Manuel Pimpão, o tal sujeito de bigode farfalhudo e o leiloeiro, até ao posto da Polícia, onde resolveu o caso em “menos de nada”. Primeiro identificou os três e depois mandou dois deles de volta e deu ordem de detenção ao outro.
Pergunta-se: quem ficou detido e porquê?

 

DESAFIO AO LEITOR

Amigo leitor, aqui fica o desafio que nos deixou o inspetor Boavida, ao qual impõe dar resposta antes de passar à leitura da solução, que se publica já de seguida, a fechar esta edição.

 

SOLUÇÃO DO ENIGMA DESTA EDIÇÃO

O Caso do Leilão de Pintura Realista, de Inspetor Boavida

Neste estranho “Caso do Leilão de Pintura Realista”, a decisão do subchefe Pinguinhas só podia ter sido uma: o leiloeiro ficou detido a fim de ser presente ao Juiz de Turno para explicar a origem daquelas Obras arrematadas por Manuel Pimpão e por José Saudoso do Regime (o nome do tal sujeito de bigode farfalhudo e de gabardina vestido…), porque todas elas eram falsas!

O pretenso autor daquelas Telas faleceu num acidente de viação numa “picada” em Angola, quando ali rebentou a guerra colonial, o que aconteceu em 1961, razão pela qual não poderia ter pintado Quadros sobre acontecimentos posteriores àquela data.

Assim, nunca poderia ter retratado a óleo o nosso Eusébio, vestido com a camisola das quinas, quando a seleção portuguesa de futebol venceu a sua congénere da Coreia do Norte por 5-3, no Campeonato do Mundo de Inglaterra, realizado em 1966.

Exatamente pela mesma razão, não poderiam ser da autoria daquele pintor:
– A Tela onde se vê o malogrado capitão Salgueiro Maia em cima do Chaimite, que o levou de Santarém até Lisboa, na madrugada de 25 de Abril de 1974, para ocupar o Terreiro do Paço e depois o Quartel do Carmo.
– Nem a Pintura onde se “vê” o General Spínola a tomar posse como Presidente da República, o que só aconteceu em 1974, na sequência da Revolução de Abril.

O pretenso autor daquelas Obras, falecido em 1961, que era reconhecido pela particularidade de pintar figuras públicas socorrendo-se de fotografias publicadas em revistas, também não poderia ter retratado Salazar junto ao Mosteiro dos Jerónimos aquando da condecoração de um soldado “comando”, porque aquela Força Especial só foi criada no nosso país depois de eclodir a guerra colonial e as cerimónias públicas, de homenagem aos militares combatentes nas antigas colónias, terem tido sempre lugar no Terreiro do Paço, a 10 de Junho, então Dia da Raça, sendo que a primeira ocorreu em 1963!