A pouco mais de um mês do arranque do torneio de decifração “Solução à Vista!”, recordamos mais uma vez que aquela competição é constituída pelos enigmas policiais que sejam submetidos ao concurso “Mãos à Escrita”, cujo prazo de envio de originais expira no próximo dia 15 de abril.
Este concurso é aberto a todos os que se queiram “aventurar” na escrita deste género de ficção, sem temática definida, tendo apenas como condição o limite máximo da dimensão do enunciado (duas páginas A4, com o tipo de letra Times New Roman, corpo de letra 12 e espaçamento de 1,5 linhas).
Os enigmas concorrentes devem ser enviados para o endereço eletrónico do orientador da secção (salvadorpereirasantos@hotmail.com), acompanhados da respetiva solução (com o máximo de página e meia A4, com o mesmo espaçamento e idêntico tipo e corpo de letra).
Os leitores dispostos a deitar “mãos à escrita!” podem consultar o regulamento do concurso, através do blogue Local do Crime (localdocrime.blogspot.com). Entretanto, para aquecer as “células cinzentas” dos nossos leitores “detetives” mais vocacionados para a decifração e inspirar os eventuais potenciais produtores de escrita policiária que acompanham a nossa secção, prosseguimos a publicação de alguns problemas de grau de dificuldade baixa, dando de novo o protagonismo a Inspetor Fidalgo, um dos mais prestigiados policiaristas nacionais em atividade.
ENIGMA POLICIÁRIO
O Inspetor Fidalgo na Praia, de Insp. Fidalgo
Decorria o ano de 1990, o verão espreitava no calendário e em Lisboa festejava-se o dia da cidade, com romarias, arcos e balões, desfiles e sardinha assada.
Quem não entrava nesses festejos aproveitava o dia ensolarado para um salto à praia, nos areais ainda mais ou menos limpos da Costa da Caparica. Era o que acontecia com o inspetor Fidalgo, pouco dado a folguedos, ainda que não desprezasse, de quando em vez, uma boa farra ou petisco bem regado…
Depois de um bom mergulho e alguns minutos de natação, a sua atenção foi atraída por uma violenta discussão em pleno areal, entre um cabo-de-mar e um vendedor de bebidas, gelados e afins.
Saído da água, o seu espírito científico, curioso, impeliu-o para o centro das atenções, tendo oportunidade de ouvir:
Cabo: “Eu já lhe disse que não admito que venda neste local. Para isso tem de ter uma licença especial concedida pela Capitania, porque tudo quanto é areal pertence à Capitania regular e fiscalizar. Mais nada!”
Vendedor: “Mas eu tenho licença! Tirei-a na semana passada, como pode ver. Olhe aqui!… Claro que não é passada pela Capitania, mas pode ver que não sou um bandido nem um clandestino…”
Cabo: “Essa licença está passada pela Câmara Municipal… Tudo bem com eles, mas eu tenho ordens de só deixar vender quem estiver autorizado pela Capitania. Se está bem ou não, isso não sei dizer…”
Vendedor: “Ora abóbora! Vai um gajo à Câmara, gasta dinheiro para comprar este papel selado, paga emolumentos e taxas e mais eu sei lá o quê, para eles aqui porem, preto, pretinho, que eu, fulano de tal, estou autorizado a vender no areal da Caparica… Vejam, vejam bem… – e exibia uma folha de papel selado, autenticada pela Câmara Municipal, datada de 6 de junho, que lhe dava autorização para vender no areal, sem limitações, os produtos que ele estava vendendo – Como é que é? Ó sr. Cabo, eu não sou nenhum meliante, tento trabalhar honradamente e o senhor está a dar-me cabo de vida. Por favor, prometo que amanhã mesmo vou à Capitania pedir mais essa autorização… Prometo…”
Cabo: (perante as manifestações hostis dos presentes, que iam gritando que ele estava a impedir o pobre homem de vender honradamente e que se calhar queria era que o desgraçado fosse roubar…) “Está bem, está bem, mas eu estou de olho em si… Se o volto a ver aqui sem estar autorizado, garanto que não fica assim… Por esta passa, mas tem de agradecer a estas pessoas, que senão…”
O inspetor esperou que todos fossem dispersando e dirigiu-se ao cabo-de-mar: “Sr. Cabo, não sei se é mesmo obrigatória essa licença ou se estava só a ameaçar o homem, mas acho que fez mal em deixá-lo ir embora assim, sem mais nem menos, porque…”
A – O documento que o homem mostrou era falso.
B – O documento podia ser verdadeiro, mas não poderia ter aquela data.
C – O documento tinha de ser falso e não podia ter aquela data.
D – O documento podia ser verdadeiro, mas o cabo-de-mar não pediu a identificação do homem, pelo que podia ser de outra pessoa.
DESAFIO AO LEITOR
Amigo leitor, analise bem o problema e escolha a resposta da alínea que lhe pareça a correta… E depois confira-a com a solução do autor, que se publica a fechar esta edição.
TORNEIO DE DECIFRAÇÃO “SOLUÇÃO À VISTA!”
Com arranque previsto para a primeira quinzena de maio próximo, o torneio de decifração “Solução à Vista”, tem a particularidade de conceder aos participantes a prorrogativa de classificar, em função da originalidade e grau de dificuldade, os enigmas que lhes compete decifrar. Recordamos que cada proposta de solução será classificada entre 5 e 10 pontos, correspondendo 5 à simples presença e 10 à solução integral do enigma, sendo as pontuações intermédias definidas de acordo com o grau de resolução. O vencedor será o “detetive” que acumule mais pontos no final do torneio, conquistando como prémio o trofeu “Audiência Grande Porto”.
Os concorrentes que se posicionem nas três posições subsequentes no final do torneio, serão distinguidos com as taças “Natércia Leite”, “Severina” e “Medvet” (três das mais marcantes mulheres do policiarismo português), sendo agraciados com medalhas de participação os “leitores-detetives” classificados entre o quinto e o décimo lugar da tabela classificativa final do torneio.
SOLUÇÃO DO ENIGMA DESTA EDIÇÃO
O Inspetor Fidalgo na Praia, de Inspetor Fidalgo
Hipótese certa: alínea A. O documento era falso porque desde 1986 que não há papel selado. Nenhum organismo iria autenticar um tal documento, feito em papel abolido pela lei.