“É NOS CONGRESSOS QUE AS PESSOAS SENTEM A VERDADEIRA RAZÃO DE SER DAS ACADEMIAS DO BACALHAU”

A poucos dias da realização do 48º Congresso Mundial das Academias do Bacalhau, o AUDIÊNCIA esteve à conversa com o Presidente Honorário da Academia do Bacalhau do Porto, grande mentor e impulsionador para que esta edição do evento se realizasse na Invicta.

Este era um sonho de César Gomes de Pina e algo que, segundo o próprio, irá “ser a rampa de lançamento” tendo em mente o futuro das Academias fase aos modernos e tecnológicos tempos de comunicação que hoje vivemos. Após 24 anos, altura em que se realizou o primeiro congresso no Porto, a cidade volta a receber, de 16 a 20 de outubro, cerca de 450 compadres e comadres das Academias um pouco espalhadas por todo o mundo.

É pois uma oportunidade única de “reencontrar velhos amigos e matar saudades”, cultivar conhecimentos, trocar saberes…e sabores, partilhar experiências vindas de outras latitudes, aprofundar laços que tão estreitamente “entrelaçam” as 61 Academias do Bacalhau e criar memórias afectivas e culturais, irmanados nos dignos valores que as regem e são a verdadeira razão de ser das Academias: Amizade, Solidariedade e Portugalidade, graníticamente envolvidos por uma singela onda de humildade.

Como estão a correr os preparativos para o Congresso que se avizinha?

Permita-me que antes de responder à sua pergunta esclareça o que na verdade é este movimento universal. A génese das “Academias do Bacalhau” baseia-se numa curiosa história de amizade lusófona, quando há 50 anos, um grupo de quatro fiéis amigos, decidiu criar em Joanesburgo – África do Sul, aonde na altura viviam e trabalhavam cerca de um milhão de portugueses, um movimento, com o objectivo de nesse país se comemorar pela primeira vez, o dia 10 de Junho, Dia de Portugal e das Comunidades Portuguesas e simultaneamente desenvolver acções filantrópicas.

 A curiosa designação do seu nome assenta em razões lógicas, afectivas e histórico-culturais, não podendo ser confundida, com Confrarias Gastronómicas. Desde a Epopeia dos Descobrimentos no século XVI as nossas naus e caravelas já levavam e conservavam em salmoura o bacalhau em arcas de cortiça e como só era utilizado como último recurso alimentar, os nossos heróicos marinheiros passaram a chamar-lhe “fiel amigo” e assim, para nós portugueses, continua a ser tradicionalmente designado. Por esta razão este movimento universal foi simbolicamente baptizado de “Academia do Bacalhau”, porcongregar grupos de fiéis amigos revelando genuinamente o traço da unidade comum que deve figurar na diáspora portuguesa e fundamentando os seus princípios e valores em três importantes e significativos pilares: Amizade, Portugalidade e Solidariedade

E agora quanto à sua questão, o Programa que concebi para este nosso 48º Congresso Mundial foi oportunamente enviado às 61 Academias existentes nos quatro cantos do mundo tendo merecido rasgados elogios e aceitação como o provam as cerca de 450 inscrições de compadres e comadres já confirmadas, para além de entidades governamentais, empresariais e culturais que muito nos honrarão com a sua grata presença.

E a prova é que, a um mês do Congresso não há memória que isso tenha acontecido, as inscrições estão encerradas, porque os espaços onde se realizam os diversos eventos não são elásticos, e atingiram o limite máximo de ocupação. Penso que é um número recorde e eu já estive presente em 22 Congressos Mundiais. Dada a grande responsabilidade de tão significativo evento, entreguei a “Gestão das Inscrições e Pagamentos”, a uma empresa especializada e muito conceituada nesta matéria, que é a TOP ATLÂNTICO que tem feito um trabalho exemplar.

E em boa hora o fiz devido ao facto de ainda me encontrar fisicamente um pouco debilitado após ter vencido uma dura batalha contra um cancro que deixa sempre algumas sequelas, mas não me roubou a coragem desta minha força de vida. Por isso desejo publicamente agradecer a todos os amigos que me deram uma preciosa ajuda, nomeadamente à comadre Eugénia Sá Silva, ao compadre José Manuel Sá Silva, à nossa incansável e dedicada “designer” comadre Diana Simões, a meu irmão José Manuel Pina, que veio propositadamente do Brasil, mas sobretudo à minha Nininha, minha heróica esposa, que ao longo de 56 anos me acompanha, dando-me ânimo e coragem, para arcar com a responsabilidade de organizar um Congresso desta envergadura e sempre animado pela minha grande Fé em Deus. O interessante é que os compadres e comadres até já passaram a chamar-lhe “a nossa Nininha” …

Mas foi difícil preparar este congresso?

Foi na realidade muito difícil preparar um Congresso com este nível e qualidade a um preço acessível.

 Em termos de ajudas financeiras não teve tantas como outros Congressos anteriores…

Não sei se tive tantos ou mais. A verdade é que  tomei a decisão de fazer um preço acessível, direi mesmo promocional e apelativo para a todos proporcionar o encanto da geografia de afectos e história desta nossa terra. O preço da inscrição não paga um Programa desta natureza, mas tinha a convicção de que iria obter dos patrocinadores o apoio financeiro necessário. E aqui expresso a minha sincera gratidão aos mui dignos Presidentes das Câmaras Municipais do Porto, Dr. Rui Moreira, de Gaia Professor Doutor Eduardo Vítor Rodrigues, de Viana do Castelo, Eng. José Maria Costa, bem como aos Bancos Millennium, BCP de Paris, Santander e inclusivamente a todos os meus bons amigos compadres e comadres que também resolveram contribuir e só  assim foi possível tornar este “sonho em realidade”, tendo conseguido com estes generosos patrocínios, não só cobrir as muitas despesas assumidas, como ter ainda um diferencial positivo que reverterá integralmente a favor de Instituições Sociais mais carenciadas como Lares Infantis e da Terceira Idade.

 Este programa, como mencionou engloba também uma vertente cultural…

Sem dúvida. Nada se deixou ao acaso nestes dias de humanidades e cultura, desde os trabalhos do próprio Congresso que decorrerão no Hotel The YEATMAN, bem como na escolha igualmente seleccionada de todos os outros espaços de excelência que acolherão os diversos eventos programados, incluindo um “Jantar de Boas-Vindas” na hospitaleira Quinta da Boucinha, um Cruzeiro no rio Douro com almoço a bordo, um“Jantar de Encerramento “ na ALFÂNDEGA do Porto e no dia 20 , um tradicional e portuguesíssimo “Almoço de Despedida “ no Hotel SOLVERDE.

 E desta Invicta Cidade, pelo terceiro ano consecutivo nomeada como o melhor destino turístico-cultural da Europa, se fará âncora para seguirmos para Guimarães, Caminha e Viana do Castelo. Passearemos também na típica Ribeira de Vila Nova de Gaia, com as suas afamadas e seculares Caves do Vinho do Porto e as suas características pontes, bem como pelo centro histórico do Porto e Gaia apreciando a extraordinária arquitetura dos edifícios, lojas tradicionais, elegantes cafés e o ambiente autêntico da rua e seus aromas. Assim, o Programa engloba uma onda de paisagens únicas e uma confraternização em que cada participante se sentirá envolvido. Foi tudo pensado para que cada um se possa sentir bem-vindo neste jeito que o Porto tem de receber de “coração e braços abertos” com a distinta e secular hospitalidade das Gentes do Norte.

Este era um sonho seu…

Há muitos anos que perseguia este sonho. Porque estes Congressos Mundiais são rotativos, para o ano penso que será em New Jersey. Mas foi no 46º Congresso da Academia da Ilha Terceira em 2017 que apresentei a moção e o Programa para este Congresso, o qual  foi  aprovado por unanimidade e aclamação, momento  que emocionadamente vivi , não só  por ser  uma honra para a Academia do Bacalhau do Porto a que presido, mas também para as próprias  cidades  do Porto e Gaia.

Vamos pois ter a alegria, o prazer e a honra de receber “compadres e comadres”da diáspora portuguesa. Só de Paris, vêm 55 compadres em avião fretado, de New Jersey vêm mais de 30, de Angola 25, de Maputo 21, de Joanesburgo 20, dos Açores, do Funchal e tantas outras de longínquas terras como de Caracas, Sidney, Kinshasa e Equador, para além das várias Academias portuguesas, num total de mais de quatrocentos amigos todos irmanados pelos mesmos valores e princípios.   

Estou portanto muito feliz porque tal número de presenças excedeu todas as minhas melhores expectativas pela resposta positiva de tantos amigos, fase à coragem, empenho e total dedicação com que, sem olhar a quaisquer sacrifícios sobretudo nesta difícil fase da minha vida, me entrego de “alma e coração”  a este tão significativo evento da vida das Academias do Bacalhau.

 E quais as personalidades que estarão presentes?

A primeira personalidade que convidei foi o Sua Excelência Presidente da República que vai estar representado pela sua Assessora, Drª Maria João Ruela, a qual vai ler a Mensagem que nos endereçou. No “Jantar de Gala”, dia 19, com cerca de 450 pessoas na Alfândega do Porto que encerrará o Congresso, vamos ter também a honrosa presença do Dr. José Luís Carneiro, Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, bem como dos Presidentes das Câmaras do Porto, Gaia, Viana do Castelo e Maia, para além doutras individualidades empresariais e culturais.

 Então tem a expectativa que este será um congresso que ficará na memória?

“A memória é a consciência do tempo —“ Fernando Pessoa. Sim, penso que vai marcar a história da Academias, porque servirá de rampa de lançamento para o futuro, com o objetivo de trazer mais jovens e estar atento às novas tecnologias, transmitindo-lhes os dignos valores que nos regem – AMIZADE, SOLIDARIEDADE, PORTUGALIDADE – assim como o importante papel das Academias em prol das Comunidades Portuguesas e incutir-lhes a mesma paixão e este “gostoso gosto de gostar das Academias” como eu e todos nós lhes dedicamos.

 A Academia do Bacalhau do Porto está este ano a celebrar 30 anos. Como tem corrido as comemorações?

Muito bem. Tivemos um Jantar Comemorativo que juntou mais de uma centena de compadres e comadres da nossa Academia e doutros países, nomeadamente de Toronto, Lyon, Bordéus, Paris e Angola, os quais encontrando-se de férias nos honraram com a sua presença. Foi uma data marcante e na qual prestei uma justa homenagem aos Presidentes que me antecederam que pelos legados que nos deixaram merecem o respeito e a sincera gratidão de todos nós. E para além de emocionantes discursos, tivemos também animação musical para os compadres e comadres exibirem os seus dotes dançarinos, Bolo de Aniversário e espumante para entusiasticamente cantarmos “Parabéns a Você” e entoarmos o nosso académico “Gavião de Penacho “ com que se encerram todos os eventos.

Este Congresso é o ponto alto dos 30 anos da Academia do Bacalhau do Porto?

É sem dúvida nenhuma um ponto alto que me dá muita honra organizar, pois considero que ser Presidente de tão briosa Academia é a missão mais prestigiante da minha vida, missão essa que ainda não terminou pois tenho de garantir a sua continuidade, para que não caia como um frágil “castelo de areia” como infelizmente às vezes acontece. Há até quem a designe como “uma obra”, que ultrapassou fronteiras, porque hoje a nossa “tripeira” Academia do Bacalhau do Porto é considerada pelas suas congéneres uma Academia exemplar na diáspora portuguesa.

Quantos compadres e comadres têm hoje a Academia do Bacalhau do Porto?

Compadres e comadres efectivos ou seja de pleno direito que pagam a sua cota anual são 185.

 Como vê estes 30 anos da Academia do Bacalhau do Porto?

Quando há 14 anos assumi a Presidência, a nossa Academia estava praticamente “moribunda” com cerca duma dezena de compadres da “velha guarda” mas um pouco desmotivados. Hoje, mercê duma correcta “Gestão Por Objectivos” e dum louvável trabalho de equipa, a média mensal de presenças passou para mais duma centena de compadres e comadres, as quais até aí só estavam nos Almoços do Natal, Páscoa e Aniversário. Hoje frequentam regularmente todos os nossos Jantares-Tertúlia que passei a organizar mensalmente convidando personalidades para apresentarem umas breves mas interessantes palestras, tornando estes convívios muito mais apelativos.

 E qual é a perspetiva para o futuro, para mais 30 anos desta sua  Academia?

Estou a preparar tudo cuidadosamente para quem, dentro dum ano e democraticamente me suceder possa dar continuidade à nossa Academia, com a mesma entusiástica dedicação, empenho e paixão. Mas em tempo oportuno divulgarei como Presidente Honorário, algo mais sobre este assunto.

 Mas tomou essa decisão recentemente, de deixar a presidência da Academia?

Não, a decisão há muito que está tomada. Simplesmente, apesar de ter vencido um cancro que me deixou fisicamente debilitado, estou animicamente com a mesma vontade e dinamismo, como o provo com a responsabilidade de organizar este 48 Congresso Mundial. Por outro lado considero que a minha missão ainda não está concluída e desejo cumprir o que prometi e me foi solicitado na comemoração do nosso 29º Aniversário que festejámos no Hotel VILLA SANDINI na presença de cerca de duas centenas de compadres e comadres da nossa e doutras Academias e no qual também foi apresentada a II EDIÇÃO do LIVRO DE PRESTÍGIO que escrevi e ofereci à Academia e que hoje corre mundo pois será distribuído pela própria Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas a Embaixadas e Corpos Consulares da diáspora, o que muito me honra.  

Não posso deixar assim de qualquer maneira e de um dia para o outro uma “obra” que ultrapassou fronteiras, fruto dum trabalho de total dedicação que nem um cancro conseguiu “roubar” esta verdadeira paixão da minha vida, bem como fruto de todos os que me acompanharam em tão longa maratona, embora consciente que ninguém pode agradar simultaneamente a “gregos e troianos” …

Agora o principal desafio é cativar a juventude e preparar as Academias para extraordinárias mudanças tecnológicas da nossas era poios  caso contrário somos ultrapassados.

Está feliz, então?

Hoje em dia neste mundo materialista em que vivemos é difícil encontrar alguém que diga “eu estou feliz”, pois também é difícil definir o conceito de felicidade.

Sim, estou feliz por saber que esta minha e nossa “obra” não se desmoronará no futuro pois tive o cuidado de preparar a sua continuidade, contando com a boa vontade de jovens comadres e compadres a quem vou incutindo este “gostoso gosto de gostar da nossa Academia” e deste movimento universal, na certeza que a ela se dedicarão com igual, senão mesmo maior garra e paixão, mas com humildade e sem fúteis vaidades ou protagonismos pessoais.

Sim, estou feliz e convido todos a partilharem da minha felicidade, após uma longa e corajosa batalha em que venci o monstruoso Adamastor que sob a forma de um cancro um dia e inesperadamente aportou na minha garganta e hoje mercê de tal vitória transformei a minha vida num Cabo da Boa Esperança e embora fragilizado com as feridas dessa dura batalha, ainda posso viver “um dia de cada vez” em cumplicidade com a minha família e os amigos de “corpo inteiro”.

Sim, estou feliz porque agora com renovadas forças e determinação, consegui concretizar finalmente um sonho que há anos perseguia, um sonho daqueles que entram na pele e acabam por tomar conta de nós, que é a realização deste Congresso Mundial.

Sim, estou feliz por poder dar um abraço de sincera amizade e sentida gratidão a todos os amigos presentes ou ausentes neste Congresso, pela onda de carinho e coragem com que, a mim e à minha família, nos têm envolvido nesta hora tão difícil da minha vida.

E muito obrigado ao “AUDIÊNCIA” pela oportunidade concedida para este “desabafo” e ao qual tenho o prazer de convidar para nos acompanhar neste nosso 48ºCongresso Mundial.

BEM-HAJAM