OLIVEIRA DO DOURO (VILA NOVA DE GAIA): UMA FREGUESIA DE FUNDADORES

Continuando a nossa jornada às margens da freguesia de Oliveira, no concelho de Vila Nova de Gaia, desde logo percebemos que esta é rica em histórias (e estórias!). Se para o período do “Homem das Cavernas” não encontramos qualquer referência artefactual e/ou bibliográfica, infelizmente, o mesmo não acontece para épocas posteriores… Ora, há um lugar místico nesta freguesia, com um imóvel já dos meados do século XVII, que esconde, pelo menos, duas sepulturas de gente importante: a igreja da Congregação de Nossa Senhora da Conceição.

Esta igreja, e convento anexo, situam-se na tão conhecida Quinta dos Frades, propriedade que aliás, hoje, pertence ao grupo Yeatman. Mas de quem são estas sepulturas? E de que foram essas pessoas fundadoras? Bem, recuemos ao ano de 1632. Neste ano e nesta propriedade, no dia 13 de julho, nasceu o futuro cónego da Sé de Faro: D. António Leite de Albuquerque, cujos pais eram naturais da cidade do Porto e viviam na rua das Flores. Depois de um trilho eclesiástico quer em Évora como beneficiado, em 1670; quer em Faro como cónego, rumou em direção à cidade de Roma numa missão religiosa juntamente com D. Nicolau Monteiro, seu familiar. Regressado a Portugal, devido ao falecimento do seu irmão, D. António Leite de Albuquerque empenhou-se num projeto inovador: a fundação da Congregação de Nossa Senhora da Conceição.

Esta ordem religiosa tinha como missão acolher todos os sacerdotes pobres e inabitados, bem como prestar assistência médica e, à época, foi a primeira em Portugal com este propósito. A escolha do local da “sede” desta instituição tinha de primar por determinadas particularidades arquitetónicas e ambientais que a tornariam diferente das demais, das quais, nesta edição, destacamos apenas as últimas, isto é, o relativo isolamento do ritmo agitado das cidades, a proximidade à tranquilidade do campo, característica aliás que permitiria, aos residentes, práticas espirituais como a meditação, a reflexão, rezas, entre outras; bem como um certo misticismo.

Neste sentido, a propriedade rural da família de D. António Leite de Albuquerque, na margem esquerda do rio Douro, e que até acompanhava o curso terminal do rio Febros, entre as freguesias de Avintes e Oliveira do Douro, pareceu ao fundador o local ideal. E assim foi. No dia 15 de dezembro de 1679 deu-se o início da construção do Convento dos Frades, anexo a uma capela já existente desde 1632. Já a nova igreja da Congregação, em estilo chão e com uma fachada semelhante à tipologia difundida pela Ordem Carmelita Descalça, introduzida em Portugal durante o período Filipino; aproveitou a primitiva capela de 1632, transformando-a agora em capela-mor, dando também lugar a uma nova construção que só fora concluída em 1688, depois de 4 anos às mãos do experiente mestre pedreiro Pantaleão Vieira juntamente com outros associados. D. António Leite de Albuquerque foi mais longe no seu projeto quando, na rua das Flores, no Porto, e aproveitando o facto de ter herdado a casa dos seus pais que lá se encontrava, resolveu aí fundar um “Hospício” que, entre outras funções de caridade, serviu também para alojar os membros da Congregação sempre que estes tivessem de tratar de assuntos na cidade.

Depois de uma vida cheia e plena, o fundador da Congregação de Nossa Senhora da Conceição, que teve muitos momentos áureos, faleceu no “Hospício” em novembro de 1698, no entanto, os seus restos mortais foram trasladados mais tarde, em 1754, para uma sepultura na capela-mor da igreja da Congregação, na Quinta dos Frades, em Oliveira do Douro.

Mas se a história do primeiro fundador é, por si só, digna de registo, a vida do segundo também não lhe fica atrás… Falamos de Marcelino Máximo de Azevedo e Melo. Este nasceu em Penafiel, no ano de 1794, e faleceu na freguesia de Oliveira do Douro em 1853. O seu percurso académico e profissional foi notável, envolvendo, entre outras coisas, um curso superior em Leis pela Universidade de Coimbra, a comendadoria da Ordem de Cristo, o cargo de Desembargador da Relação do Porto, a função de Governador Civil, Chefe do Exército em 1832, Conselheiro do Tribunal de Contas, Ministro do Estado; enfim, uma multiplicidade de funções que lhe valeram a atribuição, pela rainha D. Maria II, do título de Visconde de Oliveira do Douro (o primeiro!) a 10 de março de 1842.

E o que fundou afinal Marcelino Máximo de Azevedo e Melo? Nada mais nada menos que o atual Banco de Portugal, uma operação que, aliás, nos é confirmada através do decreto de 1846 e que, à época, envolveu a junção da Companhia da Confiança com o Banco de Lisboa, de forma a tentar combater a crise económica do país. Os momentos finais da sua vida foram passados na Quinta dos Frades, propriedade que, com a extinção das Ordens Religiosas, adquiriu e lá se encontra sepultado na igreja, embora o seu túmulo tivesse sido alienado na década 80 do século passado. A sua esposa, D. Mariana Henriqueta, uma senhora gaiense, que também fora proprietária da Quinta da Lavandeira, vendeu posteriormente a Quinta dos Frades ao Dr. Manuel da Costa Leite, então diretor da Escola Médico-Cirúrgica do Porto.