O dia 2 de abril é conhecido como Dia Azul, uma data escolhida mundialmente para assinalar o Dia Mundial da Consciencialização do Autismo. Mas esta é uma doença com a qual muitos têm de conviver diariamente.
Foi estabelecido pela organização das Nações Unidas, em 2007, o dia 2 de abril, como Dia Mundial da Consciencialização do Autismo, denominado Dia Azul.
Anualmente, esta data é comemorada por todo o mundo através de um conjunto de iniciativas para sensibilizar a sociedade para a grande importância de conhecer esta problemática para que todos os autistas possam viver com esta realidade diariamente e ter mais qualidade de vida.
Entre as várias iniciativas, destaque para as palestras, lançamentos de livros e os prédios e os monumentos mais importantes de Portugal e do mundo que estão iluminados de azul.
O meu filho é autista
O autismo entrou na nossa vida sem ser convidado, não bateu, à porta, não pediu licença, simplesmente entrou.
Quando recebemos a notícia que o nosso filho, ainda bebé, era autista, foi um grande choque… a minha querida mulher, Áurea, chorava muito, não queríamos acreditar, até porque não conhecíamos a doença e na nossa família era, e é, o primeiro e único caso.
Ser pai ou mãe de um filho autista é viver uma vida cheia de grandes desafios. O nosso Emanuel, é “diferente”, mas se fosse normal, poderia ser médico, engenheiro, operário, mas também poderia ser um toxicodependente, assassino, ladrão ou marginal. Por isso, não podemos estar sempre a lamentar, mas, viver e agradecer o “menino” que Deus nos concedeu.
Neste dia é importante sensibilizar a problemática do PEA- perturbação de espetro autista, porque continuo a sentir e a testemunhar que ter filhos autistas é um desafio constante, diário e muitos casais não conseguem aguentar, porque o peso é grande, a carga é insuportável.
Ainda mais agora, quando não existe o apoio das escolas de ensino Especial, em tempo de confinamento. O nosso filho já esteve mais de 100 dias em casa. Temos de dar “asas” à nossa imaginação e fazer atividades para dar alegria ao nosso filho que ele tanto pede…
Para lá da beleza da vida, há dias que se tornam belos através da nossa ação, da nossa entrega. Precisamos muito de força, sabedoria, ajuda de Deus e nunca deixar de abraçar o nosso “menino” que já tem 34 anos e amá-lo eternamente.
O nosso filho está maior do que os pais. O seu físico não apresenta qualquer deficiência. Tem um sorriso muito lindo, ele até podia ser um manequim e desfilar numa passerelle. Custa aceitar…
Tenho de lhe dar banho e fazer a barba, “rija”.
O nosso Emanuel aos domingos, religiosamente, gosta muito de ir ao Jumbo para fazer as suas compras. Quando chega, procura logo o local onde se encontram os utensílios de cozinha e, se pudesse, todos os carrinhos de compras seriam insuficientes para tantas aquisições (tachos, panelas, formas…). Este gosto mantém-se desde criança.
A nossa cozinha, a nossa sala, os quartos, em quase todos os cantos da casa deparamo-nos várias vezes, com grandes exposições destes “brinquedos”. O nosso filho passa horas e horas a brincar com eles e a observá-los, como se tratasse dos melhores quadros expostos na melhor galeria de arte do mundo. Alguns até os leva para dormir com ele.
Mas também tem vezes, quando está alguns minutos sozinho, em que aplica toda a sua força e fá-los em pedaços, aí a sua alegria é tão grande como se marcasse o golo da vitória de uma final do Campeonato do Mundo de Futebol. Aconteceu este domingo, com uma frigideira nova que compramos.
A compreensão e a ajuda dos que lidam diariamente com ele é muito importante. Ele gosta muito de rever os voluntários do Projeto Konta Komigo quando, mensalmente, saímos para apoiar os sem abrigo das ruas do Porto. O nosso filho adora estas saídas. Por ele saiamos todos os dias. Oh se o meu filho falasse … que histórias que ele nos iria recordar.
Há dias ouvi esta história, que me ajudou a aceitar o porquê….
-Havia um homem que não parava de se lamentar. Porque será que aquele ali tem sapatos tão bons e bonitos enquanto eu apenas tenho estes rotos e velhos?
De repente ele reparou que ao seu lado o seu vizinho não possuía sapatos nenhuns porque ele não tinha pés.
Nunca poderei chegar a casa, depois de um dia de trabalho, ouvir a voz do meu filho, pedindo-me para o ajudar sobre algum problema da sua vida, ou conversarmos sobre os casos de atualidade da nossa sociedade.
O que posso é continuar a amá-lo, como ele é.
Neste dia 2 de abril, Dia Mundial da Consciencialização do Autismo, deixe o seu coração falar em tons de azul e olhe além do autismo e verás alguém muito ESPECIAL.