“TIC TOK SANTA CLARA I”

Acabando a época é tempo de reflexão e simultaneamente preparação para a próxima época. Entramos numa fase que temos de ponderar e priorizar friamente as tomadas de decisões, pois será provavelmente a fase da época com menos “contrarrelógio” e pressão. No entanto, no processo de crescimento e aprendizagem contínua e duradoura, a análise terá de ser preventiva e implementadora, eficaz e eficiente, no essencial e no pormenor. E por essas razões e pela mentalidade profissional que defendo e pratico, passo a vocês algumas das minhas análises genéricas, organizada pela hierarquia da meritocracia desportiva :
Juniores: Toda a gente que trabalha com equipas sabe ou devia saber, que um grupo não se cria em duas semanas. O risco de recrutar numa 2ª  fase, contratualizando 11 jogadores (ou seja uma base nova), dispensado deste processo 13 jogadores é um risco. Com esse know how profissional, deveriam saber o tempo que é necessário para criar a cooperação, coesão e identidade colectiva. Não é num estágio de 2 semanas em Oeiras que se faz isso. Com esta forma de actuar, não conseguimos perceber como iria resultar nesta excepção, ao que a ciência tem comprovado como necessário para a construção de um colectivo. Seja no seu modelo de inclusão, sincronização e coordenação escolhido. Seja na confiança nos jogadores açorianos, que iniciaram o percurso, perdendo uma grande oportunidade para evoluir mais. Como tal, torna-se num processo disruptivo, dando razão ao antigo responsável do scouting benfiquista Stefano Sousa referindo que as pérolas desportivas regionais existem e sempre existiram, e independentemente de tudo, serão sempre recrutadas, como já o eram, sobre o “radar” dos clubes de referência da formação nacional. Incluindo-se somente a possibilidade de iniciarem mais cedo numa maior competitividade e consegui fazê-lo em “casa”, com todos os benefícios associados a isso. Seria mais coerente num planeamento, devidamente profissional, fazer esse recrutamento e essa selecção desde início, assumindo a qualidade existente em vez da alegada defesa que se contradizem. Aposto no jogador açoriano, a seguir já não. Primeiro é uma questão de quantidade, depois de qualidade e por fim de mentalidade. Relembro a entrevista do Presidente Ricardo Pacheco no dia 25 janeiro 2023 referindo que “só com açorianos não é fácil atingir a 1º divisão nacional de sub19”, quando tem uma estrutura profissional conjunta da equipa B e os sub23. Não seria uma situação de precaver e de preparar antecipadamente? Pois um planeamento não pode andar ao sabor do vento, independemente da importância de ser flexível e adaptável, mas a este nível profissional tem de ter uma linha orientadora e uma estratégia bem definida. Avaliem, preparem, organizem-se, definam prioridades e por fim implementem. Até, como muitos já mencionaram publicamente, sejam dirigentes, treinadores dos mais variados clubes, modalidades regionais,, seguem o pensamento de Pedro Pauleta que refere ainda este ano, numa entrevista ao Correio dos Açores da “falta de melhor formação…e da falta de mais competição”.  1)
Sub 23: Para um primeiro convite para esta Liga Revelação, ao dar visibilidade aos jogadores novos e com uma margem de progressão grande, permitiu-lhes ganhar competências para outros desafios e aumentar o seu valor no mercado. Não olhando para a quantidade e mas sim para a qualidade, num investimento em jogadores profissionais e onde o scouting do Santa Clara recrutou para época 2023/24 cerca de 47 jogadores, a rodagem e aposta açoriana foi em João Afonso e Rodolfo Cardoso inicialmente, Samuel Velho o mais utilizado, saindo por lesão, os restantes cinco utilizados, foram mais pontuais e preteridos noutras equipas. Relativamente a estes objectivos, a estrutura e o Treinador Nuno Pimentel atingiram na sua plenitude. No entanto, outros objectivos ficaram longe do pretendido, o de alimentar a equipa principal, sem ser poucos jogadores que treinaram mais consistentemente no seniores, a aposta não foi significativa. E relativamente ao objectivos para a competições, que estavam inseridos, de “tentar ficar nos 4  lugares cimeiros” ou na fase de campeão, não foi atingido e chegaram aos 1/4 finais após ultrapassar o sétimo da fase de campeão, nos oitavos finais, o SL Benfica, e serem eliminado pelo Estoril campeã em título. Em resumo ficaram no 10º lugar da geral, com os mesmos pontos do Académico de Viseu, mas se definirmos e priorizarmos os objectivos de rendimento em detrimento dos resultados, dando prioridade ao crescimento dos jogadores, face à construção tardia do plantel, os Sub 23 tiveram uma época muito positiva. Se olharmos somente com o foco nos resultados, o que no meu ver é uma forma errada de rentabilizar os recursos, esta época ficaria aquém. Mas não só dos objetivos, os sub23 tiveram que se adaptar, também as mudanças do recinto de jogos e aconteceu, criando muitas dificuldades ao seu plantel e propensão a lesões (algo que face aos estudos existentes, tiveram menos lesões do que o esperado, situação de elogiar relativamente ao trabalho do staff técnico). Algumas destas mudanças poderiam ter implicações a nível do objectivo máximo do clube, a subida de divisão da equipa A. Saindo a público, os acréscimo de gastos em 13 mil euros por viagem, o investimento no campo das Larajeiros, com contentor para a comunicação social e bancos de suplentes, os constrangimentos de viajar todos os fins de semana para a Terceira, as acusações de falta de palavra, a alegada queixa crime, um ruído entre ilhas, um debate político, a discussão do eventual saneamento de directores regionais (o que no meu ver e face, à capacidade técnica e a liderança de cada um, e ao fundamento legal usado, seria de uma profunda injustiça). Muitos problemas, muito ruído, mas sinceramente acho que a equipa conseguiu, se afastar deste contexto e desempenhar com competência o seu papel. E dos muitos jogos que acompanhei, a raça, a intensidade e a crença foram uma imagem positiva que deixaram nesta época. 2)
Mas não posso deixar de mencionar aquilo que foi o grande “Tendão de Aquiles” esta época e por mim visto logo na sua divulgação, na perspectiva de uma organização profissional, que foi rápida e brilhantemente resolvido pelo seu Presidente Ricardo Pacheco. Refiro-me à situação de jogar os sub-23 no Estádio de São Miguel conjuntamente com a equipa principal. Visto o grande objectivo do Santa Clara a subida para a 1ª Liga, foi uma situação que poderia e muito comprometer a época 2023.24. Conforme o presidente Ricardo Pacheco mencionou à RTP Açores no dia 21 de outubro 2023 (4 meses depois de apresentarem o projecto sub 23) que “o relvado de São Miguel não comporta 2 jogos de 2 equipas. Há pessoas que acham que isso é possivel, mas lá está. É um total desconhecimento profundo do que são exigidas a um clube que está na 2ª Divisão Nacional e que se propõe a regressar à primeira o mais rapidamente”. Concordo em absoluto. Após inicialmente ouvirmos o rumor primeiro no Record da equipa sub 23 jogar no continente, pelo o Açoriano Oriental, citando o Presidente da SAD Bruno Vicintin, no dia 1 junho 2023 “a equipa sub 23 vai jogar no Estádio de São Miguel e a segunda opção é Laranjeiras” e no Diário da Lagoa no dia 3 de junho 2023 “colocamos o Estádio de São Miguel como estádio para jogar” os sub 23. A própria Secretaria Regional Mónica Seide, ressalva essa situação em Outubro 2023, referindo que a “inscrição do Estádio, passava de definitiva para transitória”. Depois destes episódios todos e após teceram críticas às condições do relvado, devido à forte chuva que se fez sentir, onde jogam os sub23 o seu último jogo? No Estádio de São Miguel. Todo este imbróglio numa estrutura profissional, não deveria respeitar uma check list detalhada dos pontos chaves necessários para o sucesso de um objetivo na época desportiva, inclusive as instalações de treino e jogo, para depois ser feita a comunicação exterior? 2)
Nem é uma situação nova no mundo do futebol e principalmente no futebol de elite, vejamos o exemplo do mister Abel Ferreira, relativamente às preocupações que sempre teve com o Allianz Parque, propriedade da Sociedade Esportiva Palmeiras Algo que é preocupação para o próprio clube, conforme refere o Presidente Ricardo Pacheco numa entrevista ao Jornal que “as condições de trabalho são muito más” e que “trouxemos um jogador lesionou-se…no famoso campo das laranjeiras onde normalmente lesionam-se todos, porque são campos relvados que deixam muito a desejar para quem treinar ao alto nível”. E que se mantém para a próxima época com as recentes declarações ao Açoriano Oriental do Presidente Bruno Vicintin alertando para o “risco que corremos não poder jogar aqui em São Miguel, o que seria trágico”, acumulado com as vicissitudes na construção do futuro Centro de Estágio não correspondendo com as datas perspectivadas. Por tudo isto, numa estrutura altamente profissional, como se avalia, como se prepara, como se planeia, como se implementa tem de ser feito com o elevado rigor e o exímio escrutínio das informações necessárias e válidas, para uma decisão de excelência, caso contrário será outras forças e não o planeamento competente (o pai de todas as habilidades) a resolver os problemas. Se assim o desejarem. 3)
1) Correio dos Açores 5 maio 2024, 31 janeiro 2023, 11 fevereiro 2024
2) Correio dos Açores 15 maio 2024, 29 outubro 2023, 5 julho 2023, 16 fevereiro 2024, 12 dezembro 2023. Açoriano Oriental 20 outubro 2023, 28 outubro 2023, 27 outubro 2023,13 outubro 2023, 11 outubro 2023, 4 outubro 2023, 3 outubro 2023, 23 agosto 2023, 24 julho 2023,10 junho 2023, 5 junho 2023, 1 junho 2023, 20 setembro 2023. A Bola 8 dezembro 2023. Record 1 janeiro 2022. Lusa 12 outubro 2023. Zerozero 29 setembro 2023. Diário da Lagoa 3 junho 2023. $  https://www.zerozero.pt/equipa/santa-clara/295667/jogadores?compet_id_jogos=0&pais=0&epoca_stats_id=153&pos=0&o=j