Natural da Ilha de São Miguel, a atriz Carolina Bettencourt apresentou, no passado dia 6 de novembro, o seu primeiro livro, no âmbito do Festival Literário Outono Vivo, que decorreu no Bar da Academia da Juventude, na Praia da Vitória, na Terceira. Intitulada “Quando a casa é escrita no mar”, esta obra da editora Letras Lavadas, contém registos pessoais, datados, que foram anotados no papel, ao longo de vários anos. Ressaltando que escrever faz parte do seu quotidiano, a autora sublinhou, em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, a ânsia de voltar aos palcos com o espetáculo “Boca Ilha – O Rosto que Ninguém Vê”, depois da pandemia.
Carolina Bettencourt nasceu em 1984, em Ponta Delgada. Licenciada em Teatro – Dramaturgia e com mestrado em Artes Performativas – Interpretação, ambos na Escola Superior Teatro e Cinema, em Lisboa, é autora da performance “Incommunicabilis” e intérprete e co-dramaturgista do espetáculo “Boca Ilha – O Rosto que Ninguém Vê”, vencedor do Prémio Jovens Criadores. Trabalhou em várias companhias de teatro e também participou nas novelas “Golpe de Sorte” e “Alma e Coração”, da SIC. Na escrita, colaborou com a revista “Grotta” e no livro “Mulher – Coração da Liberdade”, tendo lançado, no passado dia 6 de novembro, a sua primeira obra, intitulada “Quando a casa é escrita no mar”, da editora Letras Lavadas.
A apresentação do livro de Carolina Bettencourt foi da responsabilidade do escritor, professor, músico e advogado António Bulcão e aconteceu no âmbito do Festival Literário Outono Vivo, organizado pela Câmara Municipal da Praia da Vitória, que decorreu de 28 de outubro a 13 de novembro, no Bar da Academia da Juventude, na Ilha Terceira. “Poder lançar um livro num contexto ligado à literatura, com a massa crítica, era importante, mais do que ser num ato isolado”, salientou a autora, em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, ressaltando que “não quis lançar esta obra na ilha onde tenho familiares, como seria expectável, porque, como é o meu primeiro livro, era importante ir para um «território neutro», onde não fosse à procura do conforto familiar, mas da imparcialidade. Estou certa de que escolhi o sítio ideal, porque a casa é escrita no mar e, por isso, não é redigida numa ilha em concreto, mas num grupo central, que, para mim, simbolicamente, representa um arquipélago”.
Assegurando que a reação foi muito positiva e superou as suas expectativas, a atriz enfatizou que “o livro contém registos muito pessoais e ter uma resposta tão imediata à sua receção, faz-me pensar sobre o que é que de meu chega ao outro e é sempre nessa perspetiva da comunicação que eu quero apoiar o meu trabalho, seja no teatro, ou na escrita”.
Na sinopse do seu primeiro livro, Carolina Bettencourt escreveu que “seremos sempre da casa em que estendemos as toalhas roçadas dos verões com sal dos dias. Onde nos foi dado um clube para celebrar o amor e a camisola herdada. Seremos sempre da casa onde vemos o quintal do vizinho pelos olhos que se esticam ao topo do muro. (…) Onde cheios de orações conjugamos os primeiros predicados dos quartos vazios. Seremos sempre da casa que nos aluga a presença por uma saudade embarcada. Seremos sempre da casa que nos dá os anos a todos os dias que passaram por aqui”.
Assim, o livro “Quando a casa é escrita no mar” contém registos pessoais de dias, que foram anotados no papel, ao longo de vários anos, no qual não são mencionados, e em inúmeros locais, tendo sido reunidos, durante o período de confinamento, devido à pandemia que assolou o país e o mundo, culminando nesta obra, sendo que o último texto marca, precisamente, este período. “São datas que, muitas vezes, são repetidas, porque nós voltamos a elas várias vezes no ano, como voltamos aos sítios onde fomos felizes e outras vezes não. É um livro com vários registos, que me acompanharam nas minhas viagens, tanto nas férias, como no trabalho, no qual descrevo as pessoas que vejo nas grandes explanadas, situações do quotidiano que me aconteceram e que eu fui registando no meu bloco”, enalteceu a autora, revelando que contempla “desde os meus dias de férias na Ilha do Pico, às passagens por São Miguel, tanto em férias, como em trabalho, momentos das minhas digressões com o teatro. Portanto, aparecem textos em Lamego, viagens de comboio no intercidades, em Lisboa. Eu vou escrevendo pelos sítios onde ando, ou seja, não há nenhuma ação concreta, num sítio específico”.
Assumindo que escrever faz parte das suas rotinas diárias, a artista destacou que, depois da Ilha Terceira, a obra foi apresentada em São Miguel e que os seus objetivos passam por “perceber melhor como é que vai ser a receção a este livro e compreendê-la”, manifestando a sua ânsia de voltar a levar a cena o espetáculo que “estava a fazer antes da pandemia, que é o «Boca Ilha – O Rosto que Ninguém Vê», a partir do universo de Natália Correia”.