UM NATAL DIFERENTE

Sem a Bíblia, não podemos compreender os cânticos de Natal e da Páscoa, os respectivos costumes populares alusivos e não conseguimos entender o gótico, a Idade Média, Dante, Rembrandt, Händel, Bach, assim como também não entenderemos a Missa Solemnis de Beethoven.

Como entender os ideais da Revolução Francesa? Karl Marx, exilado, levou consigo a Bíblia, Bertolt Brecht encontrava inspiração na Bíblia e no século XIX  não havia analfabetos na Noruega e a razão é que as mães liam a Bíblia e uma mãe que sabe ler não permite que os filhos fiquem analfabetos.

Entretanto, ficamos no mínimo surpreendidos  quando temos oportunidade de ler que em 1713 o Papa Clemente XI, na Encíclica «Unigenitus Dei Filius», declarou serem falsas as afirmações, tais como, «A leitura da Sagrada Escritura é para todos, é útil e necessário todos terem acesso ao estudo e conhecimento da Bíblia», ou seja, somente as elites deviam ter acesso à cultura nesse tempo e foi talvez essa uma das razões para o atraso cultural do nosso País.

Regressando aos dias de hoje, vamos passar um Natal enfrentando a pandemia que já provocou muitos desgostos aos portugueses, colocando-lhes desafios bem difíceis de superar e mesmo entender, mas também somos confrontados com a epidemia das ideias extremistas de direita que como sabemos por anteriores acontecimentos levaram o planeta ao caos.

Este ano devemos cingir-nos a uma ceia com número fixo de familiares para saborearmos a ementa tradicional, sem esquecermos que as 12 passas que iremos comer no fim do ano se inserem no  ritual de preparação para o tempo que aí vem, acreditando num próximo Natal melhor e mais consentâneo com as nossas vontades, num mundo que seguramente desejamos de Paz e entendimento entre os povos, livre de conflitos que só têm proporcionado ingerências e sanções económicas criminosas, invasões, destruição e morte em países soberanos.

A pandemia mostra e salienta o caracter opressivo e explorador do sistema capitalista em que nos movemos, mas também realça por essa razão a necessidade de mudança para defesa e reforço da democracia política, uma política social que resolva os graves problemas dos trabalhadores e dos povos em geral e assegure o melhoramento efectivo das suas condições de vida materiais e culturais, ao mesmo tempo que possa proporcionar o desenvolvimento económico harmonioso que corresponda aos interesses nacionais e internacionais de justiça social, fraternidade e liberdade.