A EFEMÉRIDE QUE NÃO NOS ORGULHA

Uma das tácticas do imperialismo, face a acontecimentos que chocam a sensibilidade, consiste em primeiro lugar na acusação frenética e direccionada, assim condicionando a opinião pública e depois então é que investiga, assim restringindo essa mesma acção.

Para os que não têm memória curta, foi há 15 anos que as bombas começaram a cair sobre o Iraque, País independente e soberano, e as tropas essencialmente norte-americanas e britânicas iniciaram a invasão terrestre, semeando a morte na população, a destruição do território, considerado património mundial, e uma enorme onda de refugiados.

Este crime teve antecedentes, a começar pela acusação proclamada até à saciedade da existência de armas de destruição massiva pelo governo iraquiano e acabar nas várias investigações destinadas à obtenção de provas, o que não aconteceu mas não impediu os preparativos para a invasão e a respectiva concretização.

Talvez para descanso de consciência, o governo britânico abriu inquérito em 2009 onde se concluiu que o país avançou para a guerra no Iraque antes de estarem esgotadas as vias pacíficas e sem provas da existência de armas de destruição massiva.

O responsável pelo inquérito, Sir John Chilcot, afirmou peremptoriamente que o primeiro-ministro britânico, na altura o sr. Blair, aceitou em Janeiro de 2003 o calendário de Washington para dar início à guerra e nas conclusões do inquérito sobre o papel do Reino Unido na guerra do Iraque não existem dúvidas que a decisão de invadir o País teve como base informações não fiáveis, pois Saddam Hussein não constituía a ameaça que Blair e Bush agitavam mentirosamente em profusão.

Apesar das denúncias, do amplo movimento contra a guerra e das manifestações realizadas em Portugal e noutros países europeus sob o lema «Juntos podemos impedir a guerra», o governo da altura PSD/CDS chefiado por Durão Barroso e apoiado por Paulo Portas então ministro da defesa, tornou-se cúmplice neste crime que teve largos meses de preparativos e culminou na cimeira em que, quatro dias antes do começo das hostilidades, o primeiro-ministro português e mordomo de serviço, recebeu os homólogos José María Aznar de Espanha, Tony Blair do Reino Unido e George Bush dos Estados Unidos na base militar norte-americana das Lajes nos Açores.

Os 15 anos que se seguiram vieram revelar de que lado da História ficaram os que então tocaram os tambores da guerra, pois o Iraque continua longe de recuperar dos efeitos devastadores da invasão e ocupação, a desestabilização de toda a região levou ao recrudescimento da ofensiva israelita sobre o povo palestiniano, à destruição da Líbia com o patrocínio da França de Sarkozy, à ingerência e invasão da Síria, à permanência de tropas estrangeiras no Afeganistão sem data de retirada à vista e ao ascenso das actividades terroristas dos vários grupos islâmicos, um pouco por todo o lado e que fazem parte do dia-a-dia da vida global e contrariam as promessas de erradicação do terrorismo.

Se considerarmos completar o mapa das ingerências, destruição e morte causadas pelo imperialismo com a NATO podemos, infelizmente, ainda incluir a Somália, Nigéria e Etiópia em África e o Iémen na Península Arábica, mas indo mais longe também as crises da Ucrânia e da Coreia do Norte, situação a colocar o planeta terra à beira duma catástrofe de consequências imprevisíveis e convocando o cidadão comum para o velho ditado de que não vale a pena tapar o sol com uma peneira ou tecer comentários preconceituosos sobre a origem dos problemas que enfrentamos globalmente.

Os responsáveis portugueses pela invasão do Iraque viriam a ser recompensados, pois Durão Barroso foi promovido a presidente da Comissão Europeia, passado pouco mais de um ano, tendo encontrado, actualmente, apesar dos tímidos gorjeios críticos de responsáveis da Comissão Europeia, abrigo na instituição financeira gigante Goldman Sachs e atingindo o topo da hierarquia no sinistro grupo Bilderberg e Paulo Portas, depois de curto período em banho-maria, chegou a vice-primeiro-ministro já com a troika e, tal como o antigo chefe, hoje dedica-se aos negócios dos quais para já sobressai, como pedra de toque, a compra de material de guerra, com especial destaque para a aquisição de submarinos.