A cerca de um ano do término do seu último mandato à frente dos destinos da Junta de Freguesia de Avintes, Cipriano Castro falou, em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, sobre os inúmeros projetos materiais e imateriais desenvolvidos e que, a seu ver, impactaram positivamente a terra que o viu nascer. Enaltecendo a importância da colaboração da Câmara Municipal de Gaia, o autarca revelou anseia ver o início da reabilitação do Teatro Almeida e Sousa, em benefício dos avintenses e das instituições. Honrado pelo trabalho e pelas funções que tem desempenhado no território, o edil manifestou estar disponível para, após o final do ciclo autárquico, continuar a trabalhar em prol da prosperidade do concelho.
Para quem não o conhece, quem é o cidadão Cipriano Castro?
Eu acho que estando há onze anos numa Junta de Freguesia, já quase toda a gente me conhece, mas eu sou um avintense com 61 anos, que desde novo participa tanto no movimento associativo, como na atividade autárquica. Eu gosto daquilo que faço pela freguesia. Não o faço por sacrifício, mas, sim, por gosto e agora que estou a chegar ao fim deste ciclo de três mandatos, como presidente de Junta, espero que a população possa sentir que contribuí com o meu melhor e que isso teve alguma concretização na freguesia.
Quais são as suas maiores motivações e inspirações?
A minha maior motivação é, efetivamente, contribuir para a resolução dos problemas da freguesia. A ideia que eu sempre tive é que a Junta de Freguesia, enquanto autarquia de proximidade, deve preocupar-se com as pequenas coisas do dia a dia que, por vezes, para o município passam despercebidas, pelo que tem sido este o lema do meu mandato, isto é, procurar estar próximo da população, o que nem sempre é fácil, porque a proximidade faz com que as pessoas achem que podemos fazer sempre mais e isso não é possível, todavia tem sido esse o meu objetivo. Eu inspiro-me um pouco na minha família, nomeadamente no meu pai, que desde sempre esteve envolvido na vida avintense e eu cresci com esse bichinho, então dediquei-me a isto e eu espero que, realmente, a população sinta que valeu a pena.
Foi essa vontade que querer fazer mais em prol da terra que o viu nascer, que o levou a ingressar no mundo da política? Como é que aconteceu?
Aconteceu muito naturalmente. O meu pai e os meus tios, antes até do 25 de Abril de 1974, tiveram sempre uma consciência política que, no fundo, me foi transmitida, principalmente pelo meu pai. Por isso, naturalmente, a partir do momento em que fiz 18 anos comecei uma carreira em ascensão e fiz parte das listas da Assembleia de Freguesia, em lugares não elegíveis, tendo depois passado para lugares elegíveis. Mais tarde também fui deputado da Assembleia Municipal e fiz parte do executivo da Junta de Freguesia, como vogal. Portanto, as coisas foram decorrendo naturalmente, até que chegou a altura de eu apresentar uma candidatura à Junta, que tem vindo a desenrolar-se. Posso dizer-lhe que, da minha parte, tenho procurado fazer o melhor que sei e que posso. Eu tenho um lema: prefiro que me digam que eu não fui capaz de fazer uma coisa, do que me digam que eu prometi uma coisa e depois não a concretizei. Eu procuro apenas prometer e comprometer-me com aquilo que eu acho que consigo concretizar, dentro das capacidades e das competências da Junta de Freguesia. A meu ver é preferível dizer que algo não é possível e não se consegue fazer, do que criar falsas expectativas de que vamos que resolver e depois não o efetuamos, sabendo que há muita coisa que não se consegue realizar.
Uma vez que se encontra a pouco mais de um ano deste que é o seu último mandato, como descreve o caminho percorrido até aqui?
O caminho, da minha parte, é com a consciência tranquila de que procurei fazer o melhor que podia. Este não é um trabalho individual, é coletivo, que envolveu vários colegas que, ao longo destes 11 anos, fizeram parte do executivo e da própria Assembleia de Freguesia. Eu procurei envolver sempre as pessoas que comigo trabalhavam para que fizéssemos o melhor possível e foi sempre esse o empenho que pusemos nas coisas, procurando que os problemas fossem sendo resolvidos e que a população fosse melhorando, de modo que a freguesia tivesse algum progresso.
O que mudou em Avintes desde a sua chegada? Quais foram os maiores obstáculos que encontrou pelo caminho?
As maiores dificuldades, considerando que eu que já conhecia bem o território e já tinha passado pelas várias etapas da autarquia, passam pelo facto de se criarem demasiadas expectativas na Junta de Freguesia e as freguesias têm muito poucas competências e muito poucas capacidades de intervenção. Este é o maior problema. Depois, aquilo que eu procurei fazer foi concretizar alguns dos anseios da nossa população, sempre com a colaboração imprescindível da Câmara Municipal de Gaia, como a construção de um pavilhão polidesportivo, que era um anseio de vários anos, uma vez que não tínhamos nenhum na freguesia e nós cumprimos esse objetivo, pelo que, neste momento, Avintes tem um pavilhão com todas as condições para a prática de desportos de pavilhão. A frente de rio também é uma zona que a população de Avintes gosta, nomeadamente a zona do Areinho, que também foi dotada de condições que não tinha. A construção dos passadiços permite que a população possa fazer passeios à beira rio e foi também um dos objetivos concretizados. Na parte cultural, aproveitamos o facto de termos tido um centro escolar onde algumas escolas encerraram, porque se por um lado foi negativo porque perdemos aquelas escolas de proximidade, por outro lado aproveitamos as escolas para criar espaços de desenvolvimento. Neste seguimento, na Escola do Palheirinho criámos a Casa da Cultura, que tem dado uma dinâmica muito grande a nível cultural, com exposições, debates e também tem a biblioteca lá instalada. Na Escola de Magarão, a Câmara Municipal criou o Centro de Inclusão Social, que desenvolve uma grande atividade com cidadãos portadores de deficiência e numa zona da freguesia que estava mais envelhecida conseguimos criar ali um espaço muito importante com uma dinâmica muito grande e ocupamos também uma escola que tinha ficado desativada. Na zona de Espinhaço, com as salas da Fundação Joaquim Oliveira Lopes, mantivemos também a creche em atividade. A outra escola que encerrou foi entregue às instituições Abrigo Seguro e Onda Verde que também criaram um espaço muito dinâmico de desenvolvimento com crianças. Por isso, a nossa aposta tem sido nesta vertente de aproveitar aquilo que a freguesia tem ou de trazer novos equipamentos, como é o caso do pavilhão e da frente rio. Também fizemos uma reabilitação integral das casas mortuárias com a cobertura do espaço exterior, o que permite dar um maior conforto a quem está nos velórios. Também, temos valorizado a rede viária secundária com o apoio da Câmara. Ao nível de jardins, fizemos o aproveitamento de um espaço junto aos Bombeiros de Avintes, criando um jardim na zona mais antiga da freguesia. Por outro lado, também não tínhamos um parque infantil e está neste momento um em concretização na zona da Mesquita. Por isso, eu acho que conseguimos concretizar aqueles que eram os nossos propósitos.
A seu ver, quais foram as maiores apostas realizadas por este executivo nas áreas do desporto, cultura, educação e ação social?
Na área social, tal como acontece nas restantes, o apoio da Câmara Municipal é fundamental. Contudo, graças à nossa técnica social, temos uma intervenção muito próxima junto da população mais carenciada, que permitiu colmatar algumas das dificuldades dessas pessoas, quer com apoios que vêm da Câmara Municipal, quer com apoios diretos do orçamento da freguesia. Temos, também, implementado programas municipais que, por vezes, não são do conhecimento da população, nomeadamente o apoio ao arrendamento ou o plano de emergência social. Com o intuito de apoiar cada vez mais a população, também nos candidatamos ao programa MOB+ da Câmara Municipal de Gaia e temos uma carrinha que faz o transporte porta a porta e leva as pessoas, por exemplo, ao centro de saúde, à farmácia, ou ao hospital. A meu ver, este é um trabalho que é realizado numa área muito importante para a nossa população mais envelhecida. Na área da formação profissional, em articulação com o Instituto de Emprego, temos desenvolvido imensos cursos de valorização profissional dos cidadãos que estão desempregados, ou menos habilitados em termos profissionais, portanto é uma área que trabalhamos e na qual temos tido bastante empenho. Na parte desportiva, já mencionei a questão do pavilhão, que foi uma valorização que permitiu que, neste momento, por exemplo, a União Académica tivesse reativado a sua área desportiva na vertente do andebol, tal como os Restauradores Avintenses, que também reativaram a sua atividade e, neste momento, estão a praticar novamente futsal. Portanto, apoiamos os clubes, nomeadamente o Futebol Club de Avintes que também faz um trabalho importante na área da formação. Na área da educação, nós criámos um conselho consultivo que se reúne trimestralmente com as escolas com o intuito de perceber que problemas existem, tendo em vista tentar resolvê-los ou comunicá-los à Câmara Municipal. Avintes é conhecida por ter uma atividade cultural no movimento associativo muito grande e como eu mencionei anteriormente com a transformação da antiga Escola Básica do Palheirinho na Casa da Cultura temos valorizado essa parte, com atividades regulares como exposições e palestras. Nós acreditamos que temos conseguido levar a bom porto os nossos objetivos.
Nesse seguimento, podemos afirmar que foram 11 anos a pensar nas pessoas.
Sim, essa foi a nossa maior preocupação, que os avintenses sentissem que a Junta de Freguesia está próxima deles e que dentro daquilo que era possível nós ajudamos a resolver os seus problemas.
A nível de projetos materiais e imateriais, o que fica por concretizar?
Essencialmente existem dois projetos que eu gostava ainda neste ano que falta, não digo concretizar, mas iniciar. Refiro-me ao início das obras de reabilitação do Teatro Almeida e Sousa, que é um espaço com muita tradição em Avintes, que há muitos anos encerrou e ficou muito degradado. Posso dizer-lhe que não tem sido fácil a concretização das obras, mas estou convencido de que, neste último ano que nos falta até terminarmos o mandato, vai ser possível efetivamente iniciar as obras deste teatro, que é muito importante enquanto espaço cultural para Avintes. O outro projeto está relacionado com o apoio à terceira idade e a possibilidade do início da construção de um lar residencial aqui na freguesia. Naturalmente, não é a Junta de Freguesia que vai concretizar esse projeto, mas a Misericórdia de Gaia e a Fundação Joaquim Oliveira Lopes estão a desenvolver projetos, que eu espero que se possam concretizar.
A Junta de Freguesia de Avintes aposta em eventos de grande impacto social, como é o caso da Festa da Broa. De que forma é que estas iniciativas proporcionam momentos de divulgação do território e do concelho.
Nós procuramos, ao longo do ano, fazer atividades de divulgação e promoção da freguesia, envolvendo sempre o momento associativo. Em fevereiro, temos uma série de atividades que são desenvolvidas no âmbito do Mês de Avintes, depois na altura do verão é fundamentalmente a Festa da Broa, com toda a promoção que traz para a freguesia e depois no final do ano, o Largo de Natal, que fazemos junto à Casa da Cultura, tem como princípio animar a população, mas também promover o território. Também participamos nos Jogos Juvenis e nas Marchas Sanjoaninas, que a Câmara organiza.
Conhecida como sendo a Capital do Teatro Amador, Avintes é uma terra de coletividades. Qual é a situação atual das mesmas?
Nós temos duas associações que ao longo dos seus mais de cem anos de existência sempre desenvolveram atividade teatral, nomeadamente Os Plebeus Avintenses e o Grupo Mérito, que atualmente, estão com bastante dinamismo e todos os anos apresentam uma peça de teatro e têm, também formação com jovens atores. Por isso, estamos convictos de que o teatro continuará a marcar a população de Avintes e de que serão coletividades que terão o longo percurso no futuro.
Quais são as suas perspetivas para o futuro de Avintes?
Eu estou convencido de que a Freguesia de Avintes é um território com muito futuro, porque continua com as suas raízes muito vivas. Claro que, com o crescimento da cidade que se vai alargando para as freguesias que estão mais afastadas do centro, esse progresso, às vezes, traz algum desenraizamento da população, porque traz população de fora, mas, felizmente, em Avintes, ainda continuam a existir cidadãos que se afirmam e se continuam a reconhecer como avintenses, mesmo jovens, porque temos, por exemplo, o caso da União Académica, que é uma associação formada, essencialmente, por jovens e que está numa fase bastante de dinamismo que, aliás, há cerca de um ano inaugurou a reabilitação da sua sede. Por isso, a freguesia tem futuro se continuar a manter as suas características, sem se fechar ao mundo, porque deve estar aberta a novas ideias, a novas pessoas que venham até nós, mas não deixando de acreditar nas suas raízes e na sua cultura, que é muito própria e espero que isso continue e que, no futuro, já não comigo como presidente de Junta, mas que a freguesia continue o seu progresso e o seu desenvolvimento.
O que espera do próximo presidente de Junta?
Eu espero que possa ser alguém que goste da freguesia, daquilo que é o trabalho autárquico e que possa, não digo dar continuidade, porque eu acho que quem vier deve ter as suas próprias ideias e os seus próprios objetivos, mas aquilo que eu gostaria é que, efetivamente, possa concretizar algumas coisas que não foi possível realizarmos e que continue próximo da população. Eu acho que um presidente de Junta tem de estar sempre muito próximo da população, porque, assim, sente aquilo que é preciso fazer e certamente irá trabalhar em prol dos avintenses.
Quem é que gostava de ver à frente dos destinos de Avintes?
Ainda é cedo para dizer, mas há várias pessoas que têm trabalhado comigo ao longo destes anos no executivo e nas várias atividades que vamos desenvolvendo e, por isso, tenho a certeza de que na altura certa vai aparecer o candidato que continuará a trabalhar por Avintes e que se dedicará a esta terra.
Quais são as suas ânsias para o futuro? Calçar as pantufas no final do seu mandato ou tem alguma vontade de fazer mais em prol de Avintes e de Vila Nova de Gaia?
Eu ainda não tirei as botas de presidente de Junta, portanto, neste momento, eu estou fundamentalmente focado em que o último ano de mandato seja de realizações e de concretizações. Quanto ao meu futuro, é a mim que me pertence e eu, neste momento, espero sentir-me bem comigo mesmo quando terminar o mandato e é isso o que eu queria. Relativamente ao meu futuro político, continuarei a ser um militante do Partido Socialista empenhado e disponível para que o que o partido entenda, ao nível concelhio. Não tenho nenhum objetivo focado, mas continuo com vontade de colaborar ao nível concelhio.
Qual é a mensagem que gostaria de transmitir aos avintenses?
Espero que os avintenses continuem a acreditar nas suas raízes, empenhados em dar contributos para a sua terra, não esperando que os outros façam e tomando a iniciativa, para que as coisas aconteçam. Também quero dizer-lhes que, da minha parte, tem sido um gosto estar na Junta de Freguesia e espero que, no final disto tudo, as pessoas, pelo menos, reconheçam que eu fui empenhado e dedicado à minha terra.