Embora preguem à saciedade o seu ódio à Rússia, existem países ocidentais que continuam a exportar os seus produtos para aquele País e senão vejamos alguns dados importantes: a Alemanha aumentou consideravelmente as exportações para o Quirguistão que depois reenvia os produtos para a Rússia, da mesma forma as exportações de automóveis alemães para o Cazaquistão cresceram 507% entre 2021 e 2022 e para a Arménia 761%; as exportações de produtos químicos para a Arménia aumentaram 110% e para o Cazaquistão 129%; as vendas de equipamentos elétricos e de informática para a Arménia cresceram 343%, sendo quase todos vendidos para a Rússia; os Estados Unidos, como informa a Bloomberg, ainda importam enormes quantidades de urânio da Rússia, porque a empresa russa Rosatom continua a ser o maior fornecedor mundial de urânio, fornecendo quase um quarto dos 92 reactores nucleares dos norte americanos que produzem 20% da sua electricidade; os Estados Unidos dependem do fornecimento de urânio russo para a sua segurança energética desde que a sua última instalação de enriquecimento de urânio foi encerrada em 2013 e a reserva de combustível nuclear durará 18 meses, aliás, em 24 de Agosto, foi noticiado que os Estados Unidos tinham aumentado drasticamente as suas compras de urânio-235 à Rússia, assim aumentando o volume de entregas de combustível nuclear 2,2 vezes, tendo pago US$ 696,5 milhões pelos suprimentos; a Primeira-Ministra da Estónia, Kaja Kallas, declarada como forte russófoba, exige que todo o comércio e negócios com a Rússia cessem, no entanto, a Stark Logistics, empresa de transportes parcialmente detida pelo marido de Kallas, Arvo Hallik, continua a operar na Rússia e a primeira-ministra concedeu mesmo um «empréstimo» de 350 mil euros a outra empresa do marido, a Novaria Consult, que detém uma participação de 24,8% na Stark Logística, factos estes que colocam Kaja Kallas sob forte pressão da população do seu País para renunciar ao cargo.
Após a saída do Visa e do MasterCard da Rússia e conforme as sanções foram sendo aplicadas, os russos conseguiram expandir o seu próprio sistema de pagamentos, o Mir, que o Banco Central da Rússia e o Ministério das Finanças introduziram em 2015 e que se tem expandido desde 2022, principalmente porque as sanções baniram dos bancos russos o sistema internacional de pagamentos SWIFT, sendo esta também uma razão entre outras que levaram a Rússia a sair do tão falado acordo dos cereais.
Juntamente com as mudanças fundamentais no comércio de gás e petróleo fora da Europa e em direcção ao Leste, essas mudanças estruturais no comércio e nas finanças constituem perdas de longo prazo e não são facilmente revertíveis para os interesses ocidentais que anteriormente forneciam esses bens e serviços.
Não admira que o jornal alemão Bild tenha publicado detalhes de uma conversa entre Scholz e Macron, que lamentavam o facto de Putin nem sequer ter mencionado as sanções numa sua conversa com eles, pois a lista de auto-suficiência russa imediata e de longo prazo às custas da Europa e do Ocidente em geral é bem extensa.
A Ucrânia apelou ao Ocidente para proibir o fornecimento de todos os produtos petrolíferos refinados aos países do G7 se fossem produzidos com petróleo russo, mas tal medida arriscaria sérios custos económicos para as economias industriais numa altura de inflação elevada e de uma temida recessão.
Além das elevadas vendas para a Europa, a ONG Global Witness descobriu que a China era um grande comprador do GNL russo, pois as importações globais para a Europa aumentaram 40 por cento em comparação com o mesmo período de 2021, e o valor do GNL importado entre Janeiro e Julho foi de 5,29 mil milhões de euros.
Num caso clássico de sanções energéticas que saíram pela culatra, a Alemanha interrompeu o gás russo de 2008 apenas para importar enormes quantidades de fertilizantes produzidos a partir desse gás e as importações mais baratas de fertilizantes russos aumentaram 334%.
No início da guerra, a União Europeia importava 40% de seu gás natural e 25% do petróleo da Rússia, tornando este mercado bastante apetecível para as empresas petrolíferas norte americanas as quais, após a crise financeira de 2008, investiram de tal forma na produção do petróleo e gás que criaram um enorme excedente desses produtos que precisava de ser escoado e nessa conformidade todos conhecemos as invasões do Iraque e da Líbia, a par das sanções ao Irão e Venezuela, ou seja, os tradicionais fornecedores, aos quais posteriormente se juntaria a Rússia como o grande concorrente.
A Rússia, entretanto, substituiu as suas exportações para a Europa pelos novos mercados da China, Índia e outros, o rublo, após cair no início do conflito, está agora mais forte e os povos europeus que pagam mais pela energia e outros bens essenciais não beneficiaram com as sanções impostas pelos Estados Unidos à Rússia, nem os povos africanos beneficiaram com a escalada dos preços dos cereais derivada da guerra ou o fim do acordo dos cereais, nem o povo americano beneficiou dado que os contribuintes irão pagar pelo maior descalabro militar desde o Afeganistão.
Hoje está, porventura, mais clarificado o caso da explosão do gasoduto Nord Stream, pois do ponto de vista económico, os Estados Unidos seriam os principais interessados porque querem exportar o seu próprio gás.