A HISTÓRIA POR TRÁS DE UMA DAS MAIORES COMPOSITORAS DO CANTAR ÀS ESTRELAS

Professora do ensino básico e apaixonada pela música, Imaculada Gaudêncio uniu o útil ao agradável, deu asas à imaginação e impulsionou a Academia de Música da Ribeira Grande, que participou na primeira edição do Cantar às Estrelas. Daí em diante, compôs a música e assinou as letras de vários grupos de cantares. Hoje em dia é a responsável pelo Grupo de Cantares Madre Teresa d’Anunciada.

 Tudo começou com o estudo de música no Conservatório Regional de Ponta Delgada. Aí Imaculada Gaudêncio estudou formação musical, canto e piano, mas também tirou vários cursos paralelos, entre eles com pedagogos de renome internacional.

 Com os conhecimentos adquiridos, passou a transmiti-los. “Adquiri a parte técnica. Apareceram cursos de pedagogia musical. Era intensivo, de manhã à noite, mas nunca ficávamos cansados”.

 Aprendeu métodos que ainda hoje utiliza e que recordou na entrevista ao AUDIÊNCIA: “um professor dizia que a música é uma linguagem universal e que devemos ensinar tudo através de peças para crianças”. Como professora primária, começou a pensar em fazer um coro infantil, em que aplicasse os métodos que estava a aprender, baseados na “simplicidade e criatividade”.

 É curioso que tenha aplicado esses mesmos métodos em crianças que tinham dificuldade em ler e escrever. No entanto, “acabaram por ser os melhores alunos que tive a Língua Portuguesa”. A professora, agora reformada, explica que “o ritmo é praticamente a sílaba das palavras. Eu cantava e dizia «diz isso a cantar»; eles diziam, fazendo o ritmo com os dedos e desta forma as sílabas não faltavam!”.

O tempo foi passando e através da Academia de Música da Ribeira Grande foi criado um coro infantil que ensaiava e regia, e que depressa se tornou um distinto grupo musical no concelho.

 “Toda a gente adorava aquelas crianças” conta, orgulhosa. “Quando a Câmara Municipal tinha qualquer festividade, convidavam logo o coro da academia”. É neste momento que surge o convite para fazerem parte da primeira edição do Cantar às Estrelas, em 1994.

 A investigação a nível musical feita pelo então vereador Francisco Xavier reativou a memória de Imaculada Gaudêncio. No entanto, “era sempre a mesma música” e a Professora queria algo diferente. Por isso mesmo, inspirando-se no cancioneiro tradicional, foi criando outras letras e músicas através dos métodos que tinha aprendido, começando a construir as músicas para os grupos.

 “Na altura tentámos juntar pessoas para cantar nos grupos. Dizia que se não houvesse música, eu faria, baseando-me sempre nos métodos que tinha aprendido.”

 Foi assim que a tradição foi sendo retomada aos poucos. Segundo disse Imaculada Gaudêncio, “quando se reativa uma tradição, fica-se sem saber se as pessoas vão ou não aderir. O fruto que deu está a ver-se” agora, a julgar pela quantidade de pessoas que desfilam na noite de 1 para 2 de fevereiro pela Rua Direita.

  “Muita gente diz que é pena não se ver muita gente a ver o desfile. Eu não digo isto porque não pode haver muita gente a ver se todos querem incorporar o desfile. Todos querem cantar”, havendo até grupos que vêm de outros concelhos prestar a sua homenagem a Nossa Senhora da Estrela.

 Hoje em dia são cerca de 50 elementos que compõem o grupo de cantares pelo qual é a responsável. Os ensaios são feitos, a música nova vai sendo inserida no grupo e o resultado final “agrada sempre porque isto é feito com vontade”.

 Do Grupo de Cantares Madre Teresa d’Anunciada fazem parte elementos do Grupo Coral de São Pedro e do Grupo Juvenil Madre Teresa d’Anunciada, bem como curiosos que também querem fazer parte do convívio. No entanto, o grupo acolhe também jovens universitários: “os meus filhos estavam na Tuna Académica da Universidade dos Açores, e os jovens começaram a vir desde então até aos dias de hoje”. Por este motivo e não só, aos olhos de Imaculada Gaudêncio, “estas festas chamam muita gente e tornam-se num convívio familiar e um dos objetivos da festa é este”.

 Uma das particularidades do Grupo de Cantares Madre Teresa d’Anunciada é a forma como todos se trajam naquela noite: com lenços ou xailes tradicionais e roupas escuras, para que se possa “visitar o passado”, pois é “só assim que vamos transmitir o que existia para as novas gerações”.        Dentro das tradicionais cestas que carregam noite fora pelo percurso, vão garrafas de licor e anis, biscoitos, queijadas, rosas do Egito e coscorões.