A IGUALDADE DE GÉNERO

A sociedade global continua bastante machista, com algumas reconhecidas mas tímidas excepções, tolerante para ouvir as queixas das mulheres, mas eternamente indisponível para lhes dar razão e acrescentar sentido prático ao debate pela igualdade de género, que vai sendo tema de vez em quando.

Na comemoração de mais um Dia Internacional da Mulher, um acontecimento chamou a atenção geral, quando um membro do Parlamento Europeu afirmou que «as mulheres devem ganhar menos porque são mais fracas, mais pequenas e menos inteligentes».

O eurodeputado polaco já antes utilizara o Parlamento repetidamente para semear o ódio: comparou imigrantes a «excrementos» e fez a saudação nazi no plenário, o que provocou a indignação de muitos parlamentares.

Até hoje, só foi sancionado com multas simbólicas, embora o Parlamento Europeu esteja a conduzir uma investigação sem fim à vista, está claro, e já circula uma petição nas redes sociais para a sua suspensão total, ou seja, continua a verificar-se uma incompreensível complacência face a estes comportamentos, protagonizada pelos políticos europeus ligados à social-democracia e à direita dita civilizada, não sendo, portanto, de admirar a constatação dum ascenso das ideias populistas de cariz neo nazi.

Acresce o facto de que o regulamento do Parlamento Europeu estipula, sobre a conduta dos deputados, que ela «deve ser caracterizada por respeito mútuo e estes não devem nunca recorrer à linguagem ou a comportamento difamatório, racista ou xenófobo nos debates parlamentares» e, assim sendo, não podemos permitir que políticos usem linguagem proibida para depois se esconderem atrás da liberdade de expressão.

Em mais uma comemoração do Dia Internacional da Mulher é forçoso realçar, como exemplo, a heróica acção das mulheres palestinianas e saarauís que sempre estiveram lado a lado com seus pais, irmãos, maridos e camaradas para resistir à ocupação, para lutar pela liberdade e pelos direitos legítimos dos seus povos.

Em pleno século XXI, cento e trinta milhões de meninas não frequentam a escola, não por falta de vontade, mas porque não lhes foi conferida essa oportunidade e este número encerra outros tantos sonhos de um belo dia elas se tornarem, médicas, professoras, educadoras, gestoras, ou simplesmente serem iguais aos seus irmãos.

No nosso País ocorrem iniciativas várias de comemoração do Dia Internacional da Mulher, procurando evocar a luta pela emancipação ao longo dos tempos e sendo igualmente uma forma de assinalar que persistem discriminações e lutar para combatê-las.

Existem vários dados que são expressão desta discriminação das mulheres, nomeadamente no plano laboral e quanto aos salários, estatísticas da CGTP informam que, em 2016, a diferença no ganho médio mensal entre homens e mulheres foi de 21,3%, acrescentando-se que, ainda em 2016, apenas 36,8% dos quadros superiores da Administração Pública, dirigentes e quadros superiores de empresas, eram mulheres, o que revela que as mulheres, apesar de maioritárias no grupo de escolaridade superior, continuam a ser marginalizadas nos cargos de direcção.

Na conciliação entre a vida profissional e a vida familiar e pessoal é necessário ter em conta que são as mulheres que mais utilizam os transportes públicos nas suas deslocações diárias, sendo também as mulheres quem mais tempo dedica às tarefas domésticas e à prestação de cuidados a filhos e a outros familiares dependentes e, fruto dos ritmos de trabalho intensos e das formas de organização do trabalho, as mulheres são as mais afectadas pelas doenças profissionais.

É um quadro que, como muitos outros, só será possível alterar com a luta persistente e a solidariedade de todos quantos se empenham na transformação do mundo, seguindo as pisadas do MDM, Movimento Democrático das Mulheres, com a força da vida que radica na experiência de organizações de mulheres progressistas, democratas, antifascistas, revolucionárias e que teve como uma das principais figuras dirigentes Maria Lamas que veio a ser Presidente Honorária e muitas outras, presentes na luta antifascista e pelos direitos das mulheres e foram determinantes na fundação deste Movimento, em 1968.