É um dado adquirido que à frente das instituições bancárias, públicas e privadas, esperamos encontrar gente credível e honesta em quem possamos «depositar» a máxima confiança, sem excluir, no entanto, uma eficiente regulação do sistema por parte do Estado e também uma justiça célere face aos descalabros actualmente conhecidos.
Sabemos que a crise obrigou a banca nacional a cortar nas remunerações em 2015, mas, no entanto, ela abriu mais os cordões à bolsa para os respectivos administradores do que as congéneres da Noruega, Suécia e Dinamarca, entre outras.
Notícias recentemente vindas a lume dão-nos conta de que quatorze banqueiros portugueses receberam em 2015 mais de 1,5 milhão de euros de remunerações, no ano anterior os banqueiros com salários milionários foram apenas dez e em 2013 somente sete, ou seja, a crise foi-lhes, apesar de tudo, benevolente.
Os dados dos banqueiros mais bem pagos da Europa foram agora divulgados pela Autoridade Bancária Europeia e mostram-nos que há 5142 remunerados com mais de um milhão de euros anuais, um crescimento de 33% face ao total apurado em 2014 e, curiosamente, os países que menos pagam aos seus gestores bancários são precisamente aqueles que lideram os índices do Banco Mundial, relativos ao equilíbrio na distribuição de rendimentos.
Na Noruega, na Suécia e na Dinamarca, por exemplo, os bancos remuneram os seus melhores gestores com médias inferiores às pagas pelos bancos portugueses, pois os noruegueses pagaram em média 1,4 milhão de euros anuais a 11 banqueiros, o mesmo acontecendo com os suecos que pagaram 1,4 milhão de euros anuais aos seus 28 executivos e os dinamarqueses que pagaram aos seus 41 administradores 1,3 milhão de euros.
Os valores publicados pela Autoridade Bancária Europeia incluem os salários de banqueiros de 22 países europeus, sendo a Bélgica o país que mais dinheiro paga a um gestor de um banco, pois 18 destes receberam em média 5,8 milhões de euros cada um em 2015, com a banca espanhola, cada vez mais preponderante sobre o sector português, a surgir na quinta posição, pagando em média 2,24 milhões de euros aos seus 126 executivos bancários.
Soube-se recentemente que o empresário e amigo de Ricardo Salgado Hélder Bataglia foi constituído arguido no processo Monte Branco, depois de ter sido novamente ouvido pelo Ministério Público e feito novas revelações contra o ex-presidente do BES, todos envolvidos em branqueamento, burla e fraude fiscal.
Hélder Bataglia, que é também arguido no caso Operação Marquês, que implica ainda José Sócrates e o próprio Ricardo Salgado, tinha sido ouvido a 5 de Janeiro passado pelo Ministério Público, sendo o depoimento prestado considerado decisivo para constituir o ex- presidente do BES arguido no processo Monte Branco, mas que irá receber de reforma algumas dezenas de milhares de euros mensais.
Entretanto, discutiu-se na Assembleia da República a redução da TSU, acordada entre patronato e UGT, mas com a oposição da CGTP, que considerou esta medida inadmissível, até porque se destinava a ser moeda de troca para compensar o aumento do salário mínimo, o que também mereceu, desde início, a desaprovação do PCP e sendo justamente anulada.
Recentemente, um estudo realizado pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, dá-nos conta de que, uma em cinco famílias portuguesas, encontra-se em situação de insegurança alimentar por não ter acesso a uma alimentação saudável e por receio de não o conseguir por motivos financeiros.
A precariedade laboral é uma chaga que alastra e atinge níveis inaceitáveis, contribuindo para continuarmos a ser uma sociedade desigual, sujeita à vontade dos instrumentos do capital explorador, FMI, BCE, UE e agências de «rating» sempre apostados na financeirização das economias e da pressão sobre as governações para a concentração do capital.
São garrotes de que os povos terão de se libertar, não com «paninhos quentes», mas vontade política para outros desígnios libertadores, pois «o futuro não acontece, constrói-se e conquista-se».