“A MINHA FORMA DE CONTRIBUIR É COM O QUE ESCREVO, É A ÚNICA RIQUEZA QUE TENHO”

Manuela Bulcão, escritora e poetisa, nasceu na cidade da Horta e reside, atualmente, em Vila Nova de Gaia. “A Filha de Ninguém” e um livro de poemas são algumas das obras lançadas. Numa entrevista ao AUDIÊNCIA, Manuela Bulcão fala sobre seu livro “O Natal de Nuélia entre os Açores e Canadá”, um possível retorno às suas origens e próximos projetos literários.

“O Natal de Nuélia entre os Açores e Canadá”,Manuela Bulcão, porquê?

Porquê? É uma pergunta difícil. Porque isto é o sonho de uma menina açoriana que tinha como um grande mentor e uma grande inspiração os livros infantis e um tio que vivia no Canadá.

Este livro tem um prefácio de Alípio Barbosa. O que é que representa este prefácio?

Ora bem, o prefácio de Alípio Barbosa, o vigário da vigararia de Gondomar, é o Presidente do Norte das Missões portanto é uma pessoa que está ligada, como podem ver, à igreja e achei que seria a pessoa ideal para nos falar sobre o Natal.

Quem foi o responsável das ilustrações?

As ilustrações ficaram ao encargo de Isaura Yolanda, uma pintora extremamente conhecida no estrangeiro já que é especialista em azulejaria, principalmente, religiosa. Neste momento, está a elaborar um painel para um santuário na Polónia.

Este livro tem um fim humanitário pois a receita da venda reverte a favor da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Valadares. Qual a razão desta ação?

Pela minha formação e pela forma como lido com o ser humano, tenho uma grande ternura pelas pessoas com mais idade. Com essas pessoas, aprendi muito e continuo a aprender que com o passar do tempo, os computadores propuseram-se muito ao ser humano, e porquê? Antigamente, os anciãos eram as pessoas mais respeitadas, eram sinónimo de sabedoria mas, atualmente, para minha grande tristeza, as pessoas mais idosas são descartáveis, são colocadas em lares, muitas vezes sem a devida atenção a nível humano. Quando soube deste projeto da construção de um centro de dia e um lar de terceira idade da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Valadares, predispus-me logo a contribuir e, claro,  a minha forma de contribuir é com aquilo que escrevo, que é a única riqueza que tenho. O livro pode ser comprado através do próprio site dos bombeiros ou através de mim.

Falando agora para o livro, quem é a Nuélia?

A Nuélia é uma menina açoriana,eu também sou, que sonhava com um Natal com neve tal como aquele conto que ela ia buscar àquela maravilhosa carrinha da Calouste Gulbenkian, uma biblioteca ambulante, em que todos os Natais, Nuélia, desde que começou a aprender a ler, ia lá buscar esse livro, onde todos os Natais tinham um boneco de neve, e ela sonhava com um Natal de neve nos Açores, mais precisamente na Ilha do Faial.

E, qual a ligação entre os Açores e o Canadá?  

A Nuélia ansiava pelo Natal, pela neve, pelo boneco de neve, aquele boneco que ela gostaria de construir, e pelos dólares que chegavam sempre numa cartinha com um postal de Natal do Canadá para fazer as delícias da Nuélia e da sua família. Portanto, o Natal quando se aproximava era sinal que poderia, eventualmente, nevar, tal era o seu desejo, e os dinheirinhos que vinham do tio que estava no Canadá.

A história está relacionada com as suas origens açorianas e  a emigração para o Canadá, os EUA e as Bermudas.

Esta referência tem mais a ver com o Canadá, ou seja, isto é uma história que se passa entre as décadas de 60/70/80, no auge.

Este é um livro que tem muito da história dos portugueses dos Açores mas, este deu à luz em Vila Nova de Gaia. Para quando o regresso às origens do livro?

Ora bem , eu estou à espera de um convite. O livro já está a ser comercializado mas, até agora, tenho empatado, digamos assim, a apresentação dele ao público porque tal como o livro que retrata um sonho, o meu sonho era fazer o lançamento dele na terra de origem do conto, que seria nos Açores.

O conto veio mesmo a calhar nesta época de Natal já que é uma boa prenda não só para quem o lê, para quem o recebe mas, também,  para os Bombeiros Voluntários de Valadares. Para além deste livro, como anda a poetisa Manuela Bulcão?

Eu tenho pronto um romance, que é a continuação do primeiro romance, e, sairá no próximo ano, um livro de cartas de amor ao próximo, de amor ao mundo e de amor à humanidade.

Quem lê um livro de Manuela Bulcão está a ler uma obra didática pura e simples ou está a rever-se numa história de vida?

Depende da perspetiva. Cada pessoa que escreve coloca sempre algo seu, poderá ser um momento, poderá ser fantasia ou poderá ser mesmo a vontade de ter feito aquilo que escreve.

Qual a importância nestas obras dos seus dois filhos?

São tudo para mim. Os filhos são os meus retalhos, são a minha melhor obra de arte que eu tive até hoje, são o meu equilíbrio. Eles estão sempre presentes.

Disse-nos que prepara um romance mas, todos os dias nasce um novo poema porque todos os dias é um novo dia. Não está previsto nenhum lançamento nessa área ou é apenas para as noites de poesia.

Eu tenho muita coisa preparada, muitos livros, aliás, as cartas de amor são poesia,ou melhor, a prosa poética, com um grande punho de musicalidade.

 

 

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Entrevista: Joaquim Ferreira Leite
Edição: Rita Castro Gonçalves