Está em curso um braço de ferro entre a Ryanair e o governo açoreano em que a companhia aérea auto proclamada de «low-cost» está a chantagear os açorianos de uma forma muito simples: ou pagam mais, ou abandonamos a operação nos Açores, atitude esta já utilizada com sucesso em alguns outros destinos e de momento, para intensificar a pressão negocial, cortou a possibilidade de fazer reservas nos voos para os Açores a partir deste Inverno.
O Governo Regional respondeu que não está muito preocupado, pois a TAP e a SATA Internacional garantem as ligações estratégicas se a Ryanair cumprir a ameaça, no entanto vai continuar a negociar.
Resta saber quantos milhões mais estará disposto a entregar à multinacional para seu agrado e conclusão das negociações.
As almas inquietas, contudo, dando voltas às cabeças já estarão a pensar e se não houvesse TAP nem SATA Internacional estaria o Governo por um lado tão descansado e exigiria a Ryanair por outro lado apenas 15 euros por passageiro, mais descontos nas taxas? A resposta é obvia.
Acontece, porém, que o Governo Regional tem a SATA Internacional à venda e defende a venda da TAP, quando depende delas para não cair nas mãos desta verdadeira chantagem ou de outra qualquer que eventualmente possa surgir no horizonte.
A 27 de Julho passado, a secretária regional do Turismo, Mobilidade e Infraestruturas, afirmou que «estão no bom caminho» as negociações do Governo Regional com a empresa de aviação Ryanair para a manutenção da base da companhia no arquipélago.
Um jornal regional por outro lado veio a terreiro explicar que a Ryanair transporta cerca de 200 mil passeiros por ano para os Açores e que a 100 euros de receitas por cabeça para a região o apoio de 1,5 milhão de euros anteriormente atribuido ou o apoio agora solicitado não é assim tão vultuoso.
A título de exemplo, nos últimos dois trimestres com estatística publicada, a Ryanair representou 10% e 15% dos passageiros chegados a Ponta Delgada, enquanto a TAP assumiu 12% e 19%, a SATA Internacional 24% e 29% e a SATA 42% e 43%.
Constata-se, pois e uma vez mais, que é espantosa a pressa com que se arranjam argumentos para entregar dinheiro público a grupos privados e o mesmo não acontece para as empresas públicas, que no caso dos Açores transportaram a maior quantidade dos 1.2 milhões de passageiros que a Ilha recebeu em 2022.
E quer o Governo da República deixar o País sujeito a estas chantagens? A Autonomia deve servir os trabalhadores, o povo e a região e não estar ao serviço dos interesses dos grupos económicos e das suas «manobras» dilatórias.