ANTÓNIO PEDRO COSTA PROMETE: “RABO DE PEIXE PODE CONTAR COM UMA FEIRA GASTRONÓMICA COM A QUALIDADE DESTA”

Rabo de Peixe acolheu a primeira feira gastronómica, a 26 e 27 de abril, no âmbito das comemorações dos 15 anos de elevação a vila. Para além de todos os petiscos, o Largo Padre António Vieira também acolheu diversos concertos e atuações de artistas que animaram o serão daqueles dois dias.

A tarde do dia 27 de abril ficou marcada por um almoço na tenda onde aconteceu a primeira feira gastronómica realizada em Rabo de Peixe. Cerca de 40 convidados estiveram no almoço organizado em parceria entre a Junta de Freguesia de Rabo de Peixe e o gastrónomo bem conhecido dos açorianos, António Cavaco, um dos principais impulsionadores não só do almoço, mas também da feira gastronómica.

Esta tarde ficou marcada pela promessa de António Pedro Costa, presidente da Assembleia de Freguesia de Rabo de Peixe, antigo presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande e uma das figuras mais respeitáveis para os ribeiragrandenses: “Rabo de Peixe pode contar com uma feira gastronómica com a qualidade desta”, já que a primeira foi um sucesso e o pretendido é, segundo o presidente da Junta de Freguesia de Rabo de Peixe, Jaime Vieira, “mostrar aos demais aquilo que é a realidade de uma terra como Rabo de Peixe” e ali trazer visitantes, captando-os pela culinária.

O líder político da vila justifica, assim, que esta iniciativa surge numa altura em que o executivo rabopeixense crê que é também através da gastronomia que se pode trazer mais gente a Rabo de Peixe, afirmando que “é preciso perceber que há cada vez mais uma aposta no turismo e que começam a aparecer restaurantes com algum nome e algum peso, e que precisamos potenciar a nossa carne e o nosso peixe”, por isso mesmo “queremos demonstrar o que há em Rabo de Peixe”, também através desta feira gastronómica com o mote “Do Mar à Terra”.

O almoço teve como principais pratos o peixe. Emídio de Almeida, confrade na Confraria da Caldeirada de Peixe e do Camarão de Espinho, elaborou uma caldeirada com peixe açoriano (à semelhança dos jantares ali servidos durante os dois dias de feira), assim como Manuel Teixeira, cozinheiro no restaurante O Gaveto, em Espinho (cujo proprietário é Manuel Pinheiro, também presente em representação da Confraria da Lampreia do Rio Minho), que confecionou lampreia, um prato que faz parte da gastronomia de Portugal continental, mas que, até então, era estranho para os convidados daquele almoço.

Toda a refeição foi servida pelos alunos do curso de Restaurante/Bar da Escola Profissional da Ribeira Grande e contou com as sobremesas da pasteleira Mónica Silva, uma das mais conceituadas na ilha de São Miguel.
Também presentes na ocasião estiveram José Sousa e Francisco de Andrade, dois dos homenageados na Sessão Solene de 25 de abril na Junta de Freguesia de Rabo de Peixe, a par de José Vieira e José Pimentel.
Durante a tarde de dia 27 houve ainda tempo para receber Manuel Azevedo, presidente da União das Freguesias de Sandim, Olival, Lever e Crestuma, e Rosa Azevedo, a sua esposa, que de visita à ilha de São Miguel, aproveitaram o momento para conhecer Jaime Vieira e proceder a uma troca de contactos que poderá levar à geminação entre esta freguesia e Rabo de Peixe.

António Cavaco, Confraria dos Gastrónomos dos Açores

Este desafio começou de uma forma muito simples. Tudo tem um princípio e um primeiro andamento. Primeiro criaram-se estruturas e para isso houve um esforço da Junta de Freguesia em reunir as condições para alavancar esta situação. Houve também uma conversa informal sobre ajudar a preparar a Feira Gastronómica. Eu aceitei com muito gosto. As coisas coordenaram-se e tudo se ajustou. O primeiro dia correu muito bem. Esgotámos a caldeirada. Estávamos a prever que dois tachos, no máximo, daria para toda a noite, mas a meio da noite tivemos de fazer outro tacho. A caldeirada é algo que se come muito bem. É saborosa, tem qualidade e tem variedade de peixe. Também servimos torremos e entrecosto, entre vários produtos açorianos. Tudo isto fez sucesso, e o sucesso é obra de uma equipa e de trabalho.

Carlos e Maria das Dores Neves, turistas provenientes da Maia (Porto)

Maria das Dores: Esta é uma ilha verde, bonita, calma e pacífica. Viemos parar aqui [à Feira Gastronómica] sem contar e estamos a gostar muito. Carlos: Eu vim aqui encontrar um amigo de Matosinhos que por sinal é a pessoa que faz a melhor lampreia da cidade do Porto, que é o no restaurante O Gaveto. Foi por acaso que viemos cá parar e está a ser fantástico porque encontrámos pessoas muito simpáticas. Estamos a ser muito bem recebidos e isso é muito importante quando vamos a qualquer lado, para além das paisagens ou das gastronomia.

António Pedro Costa, presidente da Assembleia de Freguesia de Rabo de Peixe

Há história a ser escrita aqui em Rabo de Peixe. É a primeira vez que se faz uma experiência da confeção da lampreia nos Açores. É de referenciar que foi em Rabo de Peixe que foi levada a cabo. É um elemento da gastronomia portuguesa e todos deveriam conhecer. Esta experiência superou todas as espectativas. Pude provar uma iguaria da gastronomia portuguesa que vou valorizar daqui para a frente. Digo que 99% das pessoas gostaram desta ideia e do resultado. Isso é sinal que este é um prato que vai prosperar daqui para a frente. [Quanto à Feira Gastronómica] podemos afirmar que este momento será repetido daqui para a frente. Rabo de Peixe pode contar com uma feira gastronómica com a qualidade desta.

Emídio Concha de Almeida, Confraria da Caldeirada de Peixe e do Camarão de Espinho

Vim cá porque aceitei o desafio do António Cavaco, para vir fazer uma caldeirada. Faço parte da Confraria da Caldeirada de Peixe e do Camarão de Espinho, e então vim usar a nossa técnica com os peixes dos Açores, porque a gastronomia é precisamente isto. É a troca de sabores e de conhecimentos. Vim trazer também o nosso camarão de Espinho, que tem um tempero próprio e um modo de preparar próprio.
O peixe que usamos é em função daquele que sai na lota. Vamos ter atum, que é um peixe que não se põe nas caldeiradas, mas que está carregado de ovas; também vamos usar boca-negra, peixe-porco, congro e raia, que são obrigatórios na caldeirada. Tudo isto vamos colocando em camadas com a cebola, salsa, pimento, tomate, batatas e azeite ou água do mar.
Esta Feira Gastronómica está a ser um sucesso. Tem de ser um evento consolidado, como qualquer evento, e deve manter-se para criar o hábito.

Gui Martins, diretor geral da Escola Profissional da Ribeira Grande

Julgo que esta turma está de parabéns neste evento. Participamos nestes encontros várias vezes e temos este propósito: servir a sociedade. Esta é uma experiência muito boa para estes, é adicional à formação que eles recebem diariamente. Já participámos em diversos encontros desta índole, temos sempre estas atividades e ações para adicionar experiência. Eles ficam entusiasmados com este tipo de atividade, ao contrário do que se possa imaginar. Eles próprios querem aderir e mostram-se com muita vontade de colaborar neste tipo de evento.

Francisco de Andrade, pintor rabopeixense

Nasci e cresci em Rabo de Peixe, sou filho de pescadores. Hoje em dia sinto falta de duas coisas: de não ter ido à tropa e de não ter sido pescador.

Já pinto há 25 anos. Estava a ver televisão e os meus filhos estavam a desenhar. Nessa ocasião apareceu um pintor e veio-me logo à ideia de pôr os meus filhos a aprender a pintar. Assim pensei e assim fiz. Aconselhado pela minha esposa, comprei os materiais para os meus filhos e se eles não gostassem, ficavam para mim.
Comprei os materiais. Cheguei a casa e comecei a pintar. Um trabalho estava pintado há um mês e não havia maneira de secar. Disse à minha esposa que o vendedor me tinha enganado com as tintas. Fui à loja e aí ele explicou o que é que eu haveria de fazer e daí por diante nunca mais precisei de ninguém. Trabalhei sempre sozinho.
Os meus filhos não seguiram o mesmo caminho, mas são muito bons a desenhar. Estiveram a aprender durante seis meses.

José Sousa, empresário rabopeixense

Quando saí daqui, trabalhava nas terras. Emigrei em 1988. Quando cheguei lá trabalhei como pedreiro. As coisas evoluíram até ter um negócio de construção. Depois disso, entrei no negócio imobiliário. Comprava casas, arranjava-as e arrendava. Foi assim que fui construindo o meu negócio e assim continua a vida da mesma maneira, sempre com a mesma profissão.
Mas nunca esquecerei a vila de Rabo de Peixe. Estou lá [Estados Unidos da América], mas estou sempre com a ideia de voltar, o meu coração está cá. Adoro estar cá e adoro voltar cá quando posso. Eu ganho lá e venho gastar aqui. A minha família vem cá duas ou três vezes por ano e eu venho cinco ou seis.

Manuel e Rosa Azevedo, presidente da União das Freguesias de Sandim, Olival, Lever e Crestuma e esposa

Manuel: Viemos à ilha de São Miguel em passeio, é uma viagem que há muito tempo prometi à minha esposa. Infelizmente tinha medo de andar de avião e também era ocupado com a vida política. No entanto, toda a gente que faz aquilo que gosta, nunca cansa. Como gosto de andar nesta vida… Nenhum dia me passaria pela cabeça chegar aqui e encontrar pessoas conhecidas. Não muito que dizer sobre este encontro em Rabo de Peixe. Nunca pensei ser recebido cá pelo presidente da junta nem por todas estas pessoas.

Rosa: As ilhas dos Açores são muito bonitas e as pessoas muito simpáticas. Tem sido uma surpresa.

Manuel Pinheiro, Confraria da Lampreia do Rio Minho

Vim cá completar o círculo de fazer lampreia pelo país inteiro. Já fizemos dois anos na Madeira e eu andava ansioso por ter uma oportunidade para cá vir. Uma vez que o meu amigo Cavaco me convidou, agarrei nisto com as duas mãos. É um prato muito apreciado em todo o Portugal, principalmente no Norte, e por isso identifica muito bem esta parte do país. A lampreia é um prato que exige muito tempero, inclusive vinho de alta qualidade, e o melhor é o “vinhão”, o melhor vinho verde. Para que tudo fosse muito bem confecionado, também importa quem o cozinha. Por isso mesmo trouxe o cozinheiro que trabalha comigo no restaurante. Vim cá com uma condição: que os Açores também visitem o meu restaurante, “O Gaveto”, para fazer um prato que os identifique.

Manuel Teixeira, cozinheiro d’O Gaveto

É a terceira vez que venho aos Açores. Desta vez recebi o convite do meu patrão e jamais poderia recusar, em virtude de gostar deste panorama. Ainda bem que aceitei. As vistas são fenomenais e as pessoas fantásticas. Estranhei o facto de pessoas que nunca viram lampreia gostarem. Falei com algumas pessoas durante e depois do almoço e vi que a receção tinha sido positiva. Toda esta experiência tem sido positivo e estarei pronto a voltar sempre que necessitem dos meus serviços.