ARRANCA O CONCURSO DE CONTOS “UM CASO POLICIAL EM GAIA”

Aqui está o primeiro conto do concurso “Um Caso Policial em Gaia”, que animará a nossa secção até final deste ano. Este primeiro original é publicado em duas partes, devido à sua extensão, sendo a sua conclusão inserida na próxima edição do jornal AUDIÊNCIA GP.  A sua autora é nossa seguidora desde a primeira hora, profissional de saúde na linha da frente de combate ao Covid-19, neste momento numa fase um pouco mais calma e menos preocupante. Madame Eclética, pseudónimo que deixa transparecer a multiplicidade de interesses que animam os seus dias e as inúmeras atividades em que se desdobra para além da sua profissão, traz-nos um conto que aborda nesta sua I parte, embora de forma ligeira, os perigos que se escondem nas redes sociais.

A II parte deste conto inaugural do nosso concurso alerta-nos para outros perigos, a que estão principalmente sujeitos os mais jovens, sobretudo os que vivem a fase da adolescência, uma época de muitas incertezas e dúvidas, mas também de crescimento, em que se sente fluir no corpo os primeiros impulsos sexuais. Nesta fase tudo é maximizado e vivido com muita intensidade, muito principalmente aquando do nascimento do primeiro amor, que surge normalmente de forma marcante. Nesta idade, as paixões avassaladoras são muito frequentes e… Bom, mas essa é uma questão a confirmar na próxima edição da nossa secção, quando ficarmos a conhecer o desfecho desta aventura que tem por principal protagonista a jovem Amélia, uma miúda que gosta de jazz…

 

CONCURSO “UM CASO POLICIAL EM GAIA”       

Conto nº. 1    

“Os Giraços de Mafamude”, de Madame Eclética

I – Parte

Amélia era uma miúda estruturalmente alegre e desempoeirada, muito gira e dada à brincadeira. Espalhava o seu charme pelas redes sociais, facebook, twitter, instagram, onde foi conquistando seguidores atrás de seguidores sem temer que aquela sua aventura pelo mundo virtual viesse a degenerar numa qualquer invasão indesejada da sua vida privada. Até que um dia começou a ser assediada por um grupo de tarados que se autointitulavam “os mais Giraços de Mafamude”. Primeiro, começaram com uns piropos pueris e aparentemente inocentes, para depois se insinuarem com uns convites de cariz sexual, primeiro brejeiros e mais tarde ordinários e pornográficos, em qualquer das três contas por ela geridas nas redes sociais. Mas de nada valeu a sua pronta e forte reação contra aquelas atitudes nem o subsequente bloqueio das indesejáveis criaturas.

Os contactos passaram a ser feitos através do telemóvel e do telefone de rede fixa, sem que se percebesse como aqueles tarados conseguiram ter acesso aos respetivos números. Amélia deixou de atender as chamadas de números desconhecidos ou anónimos e as mensagens escritas passaram a ser a ferramenta de assédio, com uma catadupa de insultos e ameaças. Face a este comportamento, ela denunciou-os à polícia. Mas ao contrário do que se esperava, o resultado foi desastroso. É verdade que os telefonemas, as mensagens e os comentários nas redes sociais terminaram, mas eles passaram a esperá-la, em grupo, à porta de casa e do emprego, limitando-se a sorrir e a soltar frases de cariz sexual, como “és boa com’ó milho, meu pintainho”, “comia-te toda, minha pombinha”, “lambia-te dos pés à cabeça, meu chupa-chupa de chocolate.”

Amélia deixou de trabalhar, enfiou-se em casa, não saía com ninguém e mal comia. As noites eram muitas vezes passadas em claro ou assombrada por pesadelos, quando conseguia pregar olho, acordando nessas alturas em sobressalto e encharcada em suor, tremendo que nem varas verdes. De manhã, mais ou menos à hora em que habitualmente saía para o emprego, quando olhava pela janela, encoberta pelas persianas de seu quarto, lá estava o grupo de Mafamude. Invariavelmente, eles ficavam estacionados na rua defronte da casa dela, encostados à parede de olhos fixos na sua janela. E só desmobilizavam quando a polícia chegava junto deles, a seu pedido. Mas mal os agentes voltavam costas, lá vinham de novo os rapazes, como se não tivessem mais nada que fazer na vida a não ser incomodar a rapariga, que não sabia como agir.

Após frequentes apelos da mãe, Amélia abandonou de vez as redes sociais, onde era massacrada com frequentes provocações de teor sexual por amigos dos giraços de Mafamude. E aos poucos voltou a sair de casa, sempre na companhia de uma prima, um pouco mais nova, para se distrair em locais fora da cidade ou cumprir as consultas técnicas especializadas a que fora aconselhada. Nos intervalos em que a polícia punha os rapazes com dono, saíam ambas de casa e corriam para o lado oposto ao sítio por onde eles haviam fugido, diretas à estação de metro do Jardim do Morro. Aí, encobertas pela cobertura-abrigo da estação, esperavam calmamente até chegar as carruagens que as levavam a São Bento ou a Santo Ovídio. De São Bento rumavam a Espinho ou a Aveiro; de Santo Ovídio o destino era sempre um prédio azul da rua Soares dos Reis.

No terceiro esquerdo daquele velho prédio da rua Soares dos Reis, dava consultas de psicologia um jovem muito bem-parecido, recentemente formado, com fama de ser muito competente. Num desses dias de consulta, a priminha da Amélia ficou na sala de espera, como sempre acontecia, enquanto ela entrava no consultório do Dr. Paulo Mamede. Cabelo loiro comprido, com melenas caindo sobre as sobrancelhas espessas que encimam os seus brilhantes olhos verdes, um sorriso permanente nos lábios carnudos bem desenhados e uma voz cava e melodiosa. O sol entrava pelas altas janelas do consultório, dando ainda mais brilho ao rosto moreno do psicólogo, que esperava sentado a sua paciente, com as mãos pousadas sobre o tampo da secretária pejada de livros. Amélia avançou até ele, que lhe apontou a cadeira em sua frente, onde se sentou.

(Continua na próxima edição)

 

CONVITE AO LEITOR

Com tem sido amplamente referido, a classificação dos contos do concurso “Um Caso Policial em Gaia” será definida através da média da pontuação atribuída pelos nossos leitores, numa escala de 5 a 10 pontos, em função da sua qualidade e originalidade. Os leitores terão o prazo de 30 dias, após a publicação de cada conto, para a sua apreciação e envio da respetiva pontuação para o email salvadorpereirasantos@hotmail.com. Reiteramos, por isso, o nosso convite à participação de todos os que nos leem na escolha do conto vencedor do concurso e dos demais originais a premiar. No caso concreto do primeiro conto, de que se publica hoje a primeira parte, os leitores deverão esperar pela publicação da respetiva conclusão, a partir da qual poderão fazer a sua apreciação critica, atribuindo-lhe a correspondente pontuação e enviando-a para o orientador da secção dentro do prazo estabelecido para o efeito, ou seja, até ao 30º dia após a sua publicação.