AS CANÇÕES A AS REVOLUÇÕES

A utilização da conhecida letra da canção O bella ciao, para o desfecho da não conquista do penta para o Club da Luz em Lisboa, leva – me a escrever estas notas que falam das canções e das revoluções.

As considerações inicias não são outra coisa que a demonstração que o povo tem para criar e recriar a cultura popular e erudita. Bella ciao é uma canção popular Italiana anónima, provavelmente composta no final do século XIX.

A sua origem teria sido uma canção de trabalho das Mondine , trabalhadoras rurais temporárias, na sua maioria provenientes da região da Emilia Romagna (região situada no Norte de Itália cuja capital é Bolonha) e do Vêneto (região do nordeste capital Veneza), que se deslocavam sazonalmente para as plantações do cultivo do arroz da planície Padana.

Sobre estas mulheres e a sua faena existe um dos primeiros grandes êxitos do cinema neorrealista italiano Arroz Amargo (riso amaro) de 1949, realizado por Giuseppe De Santis. Cujo elenco ficaria conhecido mundialmente com principal destaque para a bela Silvana Magano.

Mais tarde, a mesma melodia foi a base para uma canção de protesto contra a Primeira Guerra Mundial. Finalmente, a mesma melodia, foi usada para a canção que se tornou um símbolo da Resistência Italiana contra o Fascismo de Mussolini durante a segunda Guerra Mundial. Recentemente a ouvimos na serie televisiva La Casa de papel onde por diversas vezes os protagonistas se encontram a cantá-la, sendo também utilizada como uma das músicas temas da série.

Mas sem dúvida a canção mais famosa ligada a uma revolução é A Marselhesa. Seu título era originalmente Canto de Guerra para o Exército do Reno. O hino foi composto por Rouget de Lisle, oficial do exército francês e músico autodidata, a pedido do prefeito de Estrasburgo, Philippe-Frédéric de Dietrich, dias depois da declaração de guerra ao imperador da Áustria, em 25 de abril de 1792.

O canto deveria ser um estímulo para encorajar os soldados no combate de fronteira, na região do rio Reno. A canção obteve sucesso imediato e em pouco tempo, por intermédio de viajantes, chegou à Provença, no sudeste da França. Um mês depois, a canção chegava a Paris com os soldados federados marselheses, que a cantaram durante todo o percurso. Desde então, passou a ser associada à cidade de Marselha.

No dia 4 de agosto o jornal La Chronique de Paris evocou o canto dos marselheses, e seis dias depois ele seria entoado durante a famosa tomada do Palácio das Tulherias. Em 1795, foi instituída pela Convenção ( regime político que vigorou na França entre 20 de setembro de 1792 e 26 de outubro no processo da Revolução Francesa) como hino nacional. Também o México teve a sua revolução e as suas canções, de “La Cucaracha”, talvez a mais famosa, há já referências em 1883, julga-se que a música terá sido criada em 1818.

Foi durante a Revolução Mexicana, já no início do século XX, que a canção assumiu grande popularidade, sendo cantada com letras diferentes, adequadas a cada circunstância e frequentemente improvisadas. Durante o período revolucionário, a palavra cucaracha adquiriu o sentido de marijuana. Quer os rebeldes, quer as forças do governo também criaram letras de conteúdo político .

Em algumas versões a cucaracha, a “barata” é o presidente Victoriano Huerta, considerado um traidor pelo seu envolvimento na morte do presidente revolucionário Francisco Ignacio Madero. La Revolución mexicana, conflito armado que se iniciou o 20 de novembro de 1910, e se prolongou durante uma década, foi sem dúvida o acontecimento político e social mais importante do século XX no México.

Na vizinha Espanha durante a Guerra Civil (conflito armado de 1936 e 1939, travado entre os Republicanos, leais à Segunda República Espanhola, urbana e progressista, numa e os Nacionalistas, um grupo conservador falangista, carlista, católico e maioritariamente aristocrático liderado pelo General Francisco Franco) nasceram belas canções entre elas Si me quieres escribir, também conhecida como Ya sabes mi paradero e El frente de Gandesa, é uma das canções mais famosas e conhecidas, composta durante a Batalha do Ebro, em 1938, aqui parte da letra; “Si me quieres escribir,/Ya sabes mi paradero:/Tercera Brigada Mixta,/Primera línea de fuego”