CALDEIRAS HÓQUEI CLUBE: FALTA DE TÉCNICOS É A PRINCIPAL DIFICULDADE

O Caldeiras Hóquei Clube foi formado em julho de 2018. Após um ano a lutar por atletas e apoios, chegou o momento de consolidar tudo o que foi exercido na época anterior, ainda que a luta continue. O AUDIÊNCIA falou com Manuel Ferreira, presidente do clube, para melhor entender as dificuldades por que atravessam.

O clube foi formado em julho de 2018 e em outubro iniciaram realmente atividade. Quantos elementos é que conseguiram formar na época passada?

A época passada foi a nossa primeira época. Conseguimos, ao final de um mês e meio de atividade, ter cerca de 20 atletas na formação mais 12 ou 13 nos seniores. Este ano conseguimos passar para cerca de 45 atletas.

O hóquei é um desporto novo, se é que assim se pode dizer, aqui em São Miguel Como é que tem sido a adesão?

O hóquei não é muito novo em São Miguel ou nos Açores. Neste momento temos apenas três equipas: o Hóquei clube Caldeiras o Hóquei Clube PDL e o Marítimo Sport Clube em Ponta Delgada. É um desporto relativamente novo na Ribeira Grande, onde já existiu há cerca de 12 ou 15 anos. Houve uma época em que existiram cerca de oito equipas, mas neste momento estamos reduzidos a três.

O Manuel é presidente desde o ano passado. Como é que foi possível concretizar este projeto?

Há muitos anos alguns elementos da minha família jogaram hóquei em Ponta Delgada, daí veio o bichinho do hóquei, embora tenha praticado futebol. Há cerca de sete ou oito anos, uns amigos convidaram-me para reabrir um clube de hóquei em Ponta Delgada, no caso o Hóquei Clube de PDL. Abrimos a partir do encerramento do União Micaelense em hóquei e estive lá durante quatro anos. Parei cerca de dois anos e agora, por achar que a Ribeira Grande é um polo muito forte em termos de praticantes, quisemos investir com a abertura deste clube.

Por enquanto só existem dois pavilhões para a prática do desporto, que é o pavilhão Sidónio Serpa em Ponta Delgada e o Complexo Desportivo da Ribeira Grande, por causa das tabelas necessárias.

Não haver mais pavilhões com essas condições é uma dificuldade?

Sim, mas uma vez que decidimos abrir a modalidade na Ribeira Grande, não nos debatemos muito com essa dificuldade mas para o hóquei em geral, sim. Só dois pavilhões na ilha têm condições, embora neste momento também esteja em construção o pavilhão da Mãe de Deus, que também terá condições para a prática de hóquei.

Então vocês só praticam hóquei na Ribeira Grande?

Exercemos a nossa atividade de treinos no Pavilhão da Ribeira Grande mas como somos três equipas na Ribeira Grande alternamos entre os pavilhões para poder haver intercâmbio.

É difícil tentar implementar o hóquei numa zona em que o futebol é o desporto rei?

É muito difícil, e debatemo-nos de uma forma incrível com essa dificuldade. Não é só na Ribeira Grande que o desporto rei é o futebol, é em qualquer canto. Há uma grande adesão ao futebol, é mais barato os miúdos jogarem futebol: calçam umas sapatilhas e vestem uma t-shirt e estão a jogar. É relativamente mais fácil… É preciso ter aptidão, tal como para qualquer desporto, mas hoje em dia nós nascemos quase que a dar pontapés numa bola e o hóquei exige muito mais aptidão, por exemplo, de patinagem.

Quem é que treina os miúdos? Como é que funciona?

Essa é outra das grandes dificuldades. Iniciamos a época passada e tivemos na altura uma lenda viva do hóquei açoriano, o senhor Floriano Machado, que esteve connosco no início, mas após poucos meses e por motivos pessoais teve que sair. Por motivos profissionais, os seniores não conseguem dar formação, ou seja, outra grande dificuldade é arranjar técnicos com condições para formar. O ano passado tivemos essa dificuldade. E este ano também. Desde o fim da época passada que tentamos adquirir pessoas qualificadas para o clube para formar jovens. Não há muitos técnicos, os que há já estão integrados noutras equipas. Outros, sejam antigos atletas, por exemplo, sinceramente é uma pequena mágoa que nós temos não aderirem.

Na época passava e no início deste ano estou também a dar algum apoio aos meninos, já que nesta fase o discurso que passamos é muito mais importante, tal como a aprendizagem pura da patinagem, quanto a parte mais técnica, não tenho formação para isso e acho que não o devo fazer.

Faço um apelo para que antigos atletas ou pessoas que se sintam capazes e tenham disponibilidade para assumir o compromisso falem connosco.

Há pouco estava a dizer que o mais importante não era ganhar, mas sim formar. Este clube também pretende ser uma escola de formação pessoal.

Esse é o nosso principal e mais forte objetivo. Queremo-nos diferenciar daquilo que existe. O nosso objetivo principal é formar os miúdos tecnicamente e como homens, formá-los na ética e no ‘fairplay’. Sendo o hóquei um desporto viril e com muito contacto, muito facilmente tem tendência a haver alguma agressividade acima dos limites, portanto, há que ter um trabalho muito forte nessa formação.

Queremos ser, a médio prazo, uma referência nessa formação. Como atletas, mas também pelo respeito. Estamos muito satisfeito com os nossos atletas nesse campo.

Com o pouco tempo de existência que têm, quais são as vossas principais ambições?

Em termos de formação, queremos, claramente, aumentar quantitativamente e qualitativamente os nossos meninos. Este ano já conseguimos um pequeno salto. Não é o ideal, mas acreditamos que vamos conseguir aumentar o número. Como começámos em outubro, os próprios meninos dizem aos colegas para irem experimentar…

Queremos fazer os miúdos evoluir tecnicamente… há pouco estava a comentar isso. Até sub15, 16, 17… a formação é prioritária, e não vencer. Obviamente todos gostam, mas isso não é o principal. Na época passada começámos os jogos com meninos que ao fim de dois meses tinham que competir por causa dos apoios, e perdemos com diferenças enormes. Nunca tivemos um menino que seja a chorar ou a querer desistir. É preciso passar-lhes o discurso de os fazer perceber que a evolução demora, e no hóquei demora muito tempo.

Outro objetivo é mais difícil de alcançar, que é conseguir que a nossa equipa sénior ascenda à terceira divisão. Dar-nos-á mais visibilidade e o apoio também será totalmente diferente. Neste momento não recebemos nenhum apoio para a nossa equipa sénior que vai competir a nível regional, mas para termos algum apoio, só indo para a terceira divisão.

É difícil. Somos três equipas e o número de atletas é reduzida, e as outras duas equipas, existindo há muito mais tempo, conseguem uma angariação de atletas muito maior. Mas estamos muito satisfeitos com os nossos séniores que desde o primeiro dia se dedicaram e predispuseram-se a colaborar com o clube para lhe dar alguma visibilidade, para os miúdos olharem para cima e verem a evolução que era possível ter. Também recuperámos atletas que não jogavam há muitos anos e outros novos foram-se integrando.

Os vossos elementos são apenas da Ribeira Grande?

Não. Temos dois ou três séniores da Ribeira Grande, mas toda a formação é da Ribeira Grande, ou seja, todos os miúdos entre os cinco e 18 anos são da Ribeira Grande. O clube não está fechado, qualquer pessoa pode participar, mas há a dificuldade dos transportes.

Como funcionam os transportes atualmente?

À semelhança da época passada, temos o patrocínio de uma rent-a-car que nos cede uma viatura de nove lugares. Até pelas dificuldades que há, ou pelas exigências, utilizamos fundamentalmente para transportar séniores, treinadores e diretores. Isto funciona com alguma boa vontade de alguma empresa e este ano voltámos a ter, felizmente.

Quanto aos apoios?

O hóquei é uma modalidade muito cara. Os apoios institucionais são alguns mas depois é difícil fazer as pessoas quererem aderir ao projeto. Felizmente, na época passada tivemos um apoio relativamente significativo de algumas das juntas de freguesias do concelho da Ribeira Grande, tal como também da Câmara Municipal, que foi um apoio que nos permitiu impulsionar e conseguir manter o nível de atletas e também novas inscrições.

Não é só captar e cativar os miúdos, é preciso ter patins, stick, caneleiras, joelheiras, luvas… não conseguimos e não pedimos um cêntimo de mensalidades, pedimos apenas que os pais sejam sócios do clube com uma quota anual de 20€. Temos noção de que se pedirmos mais que isso, vai ser mais difícil de captar atletas.

Quantos sócios têm até agora?

Temos cerca de 40 sócios. Temos de desenvolver um trabalho o mais forte possível neste sentido.

O que é que o Manuel sente que se pode fazer mais nesta questão monetária?

Às vezes as pessoas tendem “sacudir a água do capote” passando essa responsabilidade para as instituições governamentais. Mas nós achamos que não deve ser só isso, temos de procurar sócios e donativos. Em termos de instituições governamentais, obviamente que mais é sempre melhor.

Neste momento, o que penso ser menos positivo é o ‘timing’ dos apoios. Percebo a sequência, mas elaboramos contrato-programa, candidaturas… só por volta de fevereiro é que começamos a receber algum apoio. A primeira época foi muito dolorosa a esse nível porque arrancámos em outubro. Constituímos o clube do zero… fizemos escrituras de novo, órgãos sociais… e ter material para esses miúdos que começaram a chegar em outubro, novembro ou dezembro foi muito complicado porque os apoios mais significativos só chegaram em fevereiro. São esses os trâmites normais e legais, mas respondendo à sua pergunta, se houvesse alguma forma de antecipar esses apoios, seria muito mais benéfico porque arrancamos em outubro.

A Junta de Freguesia de Pedroso e Seixezelo e a Ribeira Seca estão prontas para geminar. Deste primeiro encontro que surgiu em agosto, surgiu a ideia de fazer-se um intercâmbio entre os dois clubes de hóquei de ambas as freguesias. Vontade para intercâmbios não falta. O que é que falta?

Faltam os meios… mas se houver a vontade de ambas as partes, devemos conseguir algum apoio logístico.

Este tipo de intercâmbio é sempre benéfico para quem os faz.

Sempre. Para os atletas e para os diretores que contactam com outras realidades… e também julgo que, consoante o encontro, consigamos fazer algumas candidaturas em termos financeiros.

Qual o resumo que faz da época passada?

A época passada, em quase todos os níveis, foi excelente. Para quem não está por dentro do hóquei, esta afirmação pode parecer estranha. Nós arrancámos o ano a pensar no nome do clube, nas cores, no emblema, a fazer o registo na conservatória, a conseguir órgãos sociais, captámos atletas… chegar ao final e ter já alguns meninos a praticar razoavelmente bem, ver uma equipa sénior coesa e empenhada, e também tendo em conta que apetrechámos o clube em termos de material, é excelente.

Este ano temos mais dois escalões de formação. O ano passado tivemos apenas sub13, este ano temos sub15 e sub17, ou seja, mantivemos os sub13 e os séniores.

Falou no nome e emblema. Como surgiram?

Começámos por conseguir pessoas para os órgãos sociais, pessoas com quem tivemos algum cuidado para saber quem era. Conseguimos pessoas válidas. A partir daí fomos conversando até que um dos nossos membros dos órgãos sociais lembrou-se que sendo as Caldeiras da Ribeira Grande um ‘ex-libris’ do concelho, que fosse Caldeiras Hóquei Clube. As cores também foram a mesma pessoa. As nossas cores oficiais são o ‘bordeaux’ e o amarelo-torrado. Quanto ao símbolo, um familiar meu fê-lo, e por acaso ficou incrível.