CLUBE TÉNIS GAIA, “UM ESPAÇO DE PARTILHA PARA TODA A COMUNIDADE”

Isabel Chorão é atleta, diretora técnica e fundadora do Clube Ténis Gaia, que tem 5 anos de existência.

A desportista falou, em conversa com o AUDIÊNCIA, sobre a história do clube e sobre o significado da conquista do título de Campeã Nacional de Ténis.

 

Para quem não a conhece, quem é a Isabel Chorão?
Eu já pratiquei várias modalidades e posso dizer-lhe que gosto do desporto como uma componente da formação e isso acaba por ser a minha grande paixão porque formo pequenos atletas e grandes também, mas gosto bastante daquela fase em que eles estão, verdadeiramente, a formar os seus valores. Portanto, eu vejo-me como uma apaixonada por esta fase do desenvolvimento e encontrei no desporto uma forma de poder ajudar e de poder, de alguma forma, interferir na formação das crianças. Eu já estive a trabalhar na área do ténis nos Estados Unidos da América e acredito que das várias viagens que eu realizei, que acabei por adquirir muitos conhecimento e por trazer comigo uma diversidade de valências que aplico, diariamente, na minha atividade profissional.

 

Qual é a história da fundação do Clube Ténis Gaia?
Este clube foi criado em 2013. Eu, na época, dava aulas noutros sítios, mas a certa altura e eu achei que realmente seria bom ter o meu espaço e poder criar algo mais para o ténis e para a modalidade. Eu senti que ainda havia espaço para clubes de ténis aqui em Vila Nova de Gaia e, por isso, criamos o Clube Ténis Gaia. O nome deve-se ao facto de sentirmos que este pode ser, na verdade, um bom espaço para a comunidade gaiense e, neste caso, temos todo o gosto em trazer um bocadinho do ténis aqui para o nosso Município. Nós, na altura, procuramos vários espaços e acabamos por descobrir este junto ao Estádio do Canelas Gaia Futebol Clube e, inicialmente, os campos não estavam pintados, estava tudo um bocadinho ao abandono e, de ano para ano, fomos tentando fazer algumas melhorias e acabamos por pintar os campos e, posteriormente, conseguimos criar esta pequena sede, que também nos dá algum apoio para que os atletas possam ficar aqui à espera dos pais ou possam fazer os trabalhos de casa. Portanto, nós fomos conseguindo, pouco a pouco, aumentar o clube e também fomos aumentando, pouco a pouco, o número de alunos, pelo que, neste momento, temos cerca de 60 alunos e somos o clube do concelho com mais atletas federados. Posso dizer-lhe que nós também organizamos aqui torneios oficiais de vários escalões e recebemos aqui, por exemplo, o Pink Tour, que é uma prova oficial organizada pela Associação de Ténis do Porto só para raparigas e acabamos por ter um bom grupo de senhoras e de meninas a participar em quase todos os escalões.

 

Qual é a missão e quais são os objetivos deste clube?
A missão é a promoção de um estilo de vida saudável, neste caso, através do ténis. Eu sou suspeita, mas acho que o ténis é uma modalidade muito boa como formação para os jovens atletas e para as crianças, porque existem valores como o “fair-play”, como aprender a perder, porque num torneio de ténis só um é que ganha, e como aprender a ser justo, uma vez que, geralmente, nos escalões de formação não existem árbitros e são os atletas que arbitram a própria prova. Portanto, a nossa missão aqui no clube é dar um bocadinho de valores aos nossos atletas, falando mais na formação, e permitir que eles passem um tempo agradável, ao ar livre. Os nossos atletas gostam de vir para o clube e muitas vezes vêm para aqui ao fim de semana, mesmo quando não têm jogos. Portanto, nós pretendemos ser um espaço de partilha para toda a comunidade.

 

Quais são os escalões que o clube tem atualmente?
Nós temos 60 atletas. O atleta mais novo que nós temos tem 3 anos e o mais velho tem 70 anos, portanto acabamos por ter atletas de todas as idades e em todos os escalões. Estes atletas vão regularmente a torneios oficiais e, como tal, quase todos os fins de semana temos atletas a jogar noutros locais ou no nosso clube.

 

O Clube Ténis Gaia tem 5 anos de existência e é o clube em Vila Nova de Gaia com mais atletas federados. O que leva este clube a organizar provas da Federação Portuguesa de Ténis em vários escalões?
Nós procuramos dar, realmente, essa experiência aos nossos atletas, pelo que a primeira competição dos nossos atletas costuma ser em casa e isso dá-lhes alguma segurança e é por isso que nós também temos interesse em organizar estas provas e acabamos por fazer vários esforços para que isso aconteça. Talvez os outros sítios não façam estes esforços ou não tenham estes objetivos, mas nós sentimos que também é uma forma de trazer aqui atletas de fora, de eles ficarem a conhecer o nosso clube, de os nossos atletas também poderem partilhar experiências com outras pessoas, inclusive com pessoas que já jogam há muitos anos, porque geralmente nos torneios oficiais aparecem sempre atletas que já jogam desde muito cedo e os nossos atletas acabam por ter uma história curta, porque jogam há 5 anos, apesar de termos alguns que vieram de outros clubes e que já jogam há mais tempo. Contudo, é por esta razão que nós achamos que é realmente importante ter esta hipótese de estar com outras pessoas e de ver outros atletas a jogar.

 

Pode falar-me sobre as conquistas deste clube?
Eu considero que nós temos feito pequenas conquistas ao longo do tempo. Por exemplo, nós há dois anos criamos um grupo de competição e, portanto, também foi uma pequena conquista, pelo que agora já temos este grupo bem estruturado e já temos muitos atletas a treinar quatro vezes por semana. Eu estou a falar de treinos de 1h30 ou de 2 horas, logo, já com um volume de treinos razoável e isso foi uma pequena vitória e foi uma conquista para o clube, que tem dado já os seus frutos, pois nós temos tido vários atletas a participar em provas oficiais e isso para nós é uma conquista, ou seja, aumentar o número de atletas a participar em provas, porque no início eram poucos e outra conquista, por exemplo, é termos formado um grupo que funciona bem e em que eles vão todos juntos para o torneio, como se constituíssem uma equipa, e isto é relevante porque o ténis é um desporto individual e não é muito frequente isto acontecer, pois geralmente cada um vai individualmente ao torneio. Todavia, nós aqui tentamos realmente que eles funcionem em grupo e vão todos juntos para o torneio numa carrinha que é cedida pela Junta de Freguesia de Canelas e é muito importante para nós ter esta facilidade, uma vez que acaba por se criar o espírito de grupo que nós gostamos que exista neste clube e que se calhar nos distingue um pouco dos outros, porque apesar de ser uma modalidade individual nós trabalhamo-la em grupo, para que todos se conheçam e todos gostem de participar, o que torna as coisas mais apelativas mesmo para os atletas. Em termos de resultados, conquistamos agora este grande resultado em que eu fui campeã nacional e também com a minha parceira de pares fomos vice-campeãs nacionais o que foi uma grande conquista e no fim de semana em que eu me sagrei campeã nacional tivemos sete atletas num torneio em Ovar, dois dos quais foram à final de pares, o que também foi muito bom e dos sete, quatro passaram à fase de grupos o que também foi muito notório e apesar de não terem passado na fase de eliminação foi muito bom. Portanto, de dia para dia o clube tem crescido e temos tido bons resultados em interclubes.

 

A Isabel Chorão sagrou-se Campeã Regional em abril de 2018 e conquistou, no passado dia 7 de outubro, o título de Campeã Nacional de Ténis VET +30, nos campeonatos nacionais que se disputaram em Vale do Lobo, destronando a Campeã Patrícia Couto. O que é que estas vitórias significam para si?
Conquistar um título a nível nacional é, realmente, algo importante e tem algum peso. Eu posso dizer-lhe que fiquei muito satisfeita com os resultados que atingi e penso que são um motivo de maior responsabilidade aqui no Clube, porque acabo por servir de exemplo para os jovens atletas. Estas vitórias também contribuem para a minha motivação pessoal, como atleta, e impulsionaram-me a continuar a treinar e a preparar o próximo ano.

 

Acredita que a conquista do título de Campeã Nacional vai ter repercussões positivas no Clube Ténis Gaia?
Sim, eu acredito que sim, aliás já tenho sentido algumas e penso que é uma forma de as pessoas perceberem, verdadeiramente, o trabalho que é desenvolvido por nós, porque eu tive este resultado, mas ele é fruto de muito trabalho que é realizado aqui no Clube. Claro que este é um resultado individual, no entanto só foi possível por causa de um grupo que eu trago às costas, no bom sentido, que me apoia e que apoiou no Algarve, no momento da competição. Logo, eu acho que este não é um resultado individual, mas sim um resultado coletivo. Portanto, eu acredito que pode ter mesmo algum impacto, pode trazer mais atletas para o clube e pode fazer com que mais pessoas pratiquem a modalidade.

 

No que concerne os apoios, acha que aquilo que a Junta de Freguesia de Canelas e que a Câmara Municipal de Gaia dão ao Clube Ténis Gaia é o suficiente ou acredita que podiam ir mais longe?
O nosso clube tem 5 anos e, nesta fase inicial, nós temos tido algum apoio da Junta de Freguesia de Canelas, essencialmente, na cedência da carrinha, no entanto eu julgo que a Junta se tem preocupado em ajudar com tudo o que tem ao seu alcance. Relativamente à Câmara Municipal de Gaia, nós recebemos um apoio que não é muito volumoso e eu sinto que, realmente, nesta fase, seria necessário umas melhores instalações, aqui ou noutro local, mas umas instalações com mais cortes de ténis, porque nós temos dois e já estão ocupados, para podermos continuar e para podermos crescer, uma vez que já estamos quase a chegar ao limite da nossa capacidade, para podermos dar uma boa resposta e para prestarmos um bom serviço. Posso dizer-lhe que, no horário nobre, a partir das 14 horas, já temos os campos ocupados com aulas e, nesta fase, sai um bocadinho da nossa capacidade de ação, porque nós não vamos conseguir construir um campo, e seria necessário, realmente, um grande investimento na modalidade, para que se conseguisse criar alguma estrutura com mais campos e com campos cobertos, porque o ténis é uma modalidade que não se pratica à chuva porque o piso é escorregadio e é perigoso e, como tal, esta é uma limitação grande que nós temos. Com os alunos que nós temos, nós conseguimos ir gerindo, quando chove, um sistema de compensações de aulas que funciona, mas se tivermos mais alunos já não será possível concretizar este sistema. Portanto, nesta fase, seria mesmo importante termos umas instalações que dessem mais resposta ao crescimento que temos tido.

 

Quais são as ambições e projetos que tem em mente para o clube e para a sua vida profissional?
A minha fase de atleta já passou, pelo que eu agora vejo-me mais como responsável pelo Clube Ténis Gaia. Eu gosto de participar nas competições e para o próximo ano tenciono estar presente no Campeonato Nacional e pretendo fazer várias provas ao longo do ano, porque também é bom para me manter ativa e é bom no que respeita a modalidade e, por outro lado, também é importante porque acompanho os atletas que já são seniores, uma vez que acabamos por participar nos mesmos torneios, o que nos transporta para a nossa filosofia de grupo. Mas, a verdade é que, neste momento, o meu grande esforço está relacionado com o Clube e eu penso que, atualmente, o mais importante de tudo seria mesmo conseguirmos arranjar infraestruturas capazes de responder às necessidades dos nossos atletas atuais e dos futuros atletas que possamos vir a ter, porque, realmente, já não há espaço para todos e este é o nosso grande objetivo do momento.

 

BI:

Isabel Chorão nasceu em Vila Nova de Gaia e começou a jogar ténis desde pequena, por influência dos seus pais que também praticavam a modalidade. Posteriormente, a atleta formou-se em Ciências do Desporto, na Universidade do Porto, e começou a exercer a profissão de professora de ténis, até fundar, em 2013, o Clube Ténis Gaia.