CONCLUÍMOS HOJE MAIS UM CONTO DE “UM CASO POLICIAL NO NATAL”

Publicamos hoje a conclusão do quinto conto do concurso “Um Caso Policial no Natal”, que tem por protagonista Martinha, uma menina de 5 anos, de cara redonda, bochechas gorduchas e muito, muito, curiosa, recordando antes de mais o texto com que terminou a sua primeira parte:

“(…)

Adorava as enciclopédias ilustradas que o seu irmão já lera: sobre carros, estrelas, pedras, países, planetas, animais e muitas outras coisas. Não entendia as palavras, mas mergulhava nas imagens e decorava todos os pormenores. Depois, após ter devorado as figuras, fazia imensas perguntas à mãe, ao pai e ao irmão.

— Como se chama este animal?

— Onde é que vive?

­— O que é que come?

— Qual é este planeta?

— Está muito longe?

— Qual é capital deste país?

—- Há lá muita gente?

Eram perguntas sobre perguntas, que alimentavam uma enorme vontade de conhecer e saber tudo.

Mas, uma tarde, dez dias antes do Natal que se aproximava, a Martinha deixou de apenas fazer perguntas. Declarou, simplesmente:

— Eu quero uma zebra!”

 

“Um Caso Policial no Natal” – QUINTO CONTO

A PRENDA DE NATAL DA MARTINHA, de Paulo

 

II – PARTE (conclusão)

Procurando encontrar todas as dificuldades que podia imaginar, a mãe tentou questionar aquela vontade da filha.

— Agora? Nesta altura do ano? No Natal?

— Sim! É a minha prenda de Natal. Não achas bem?

A mãe da pequenita nem conseguia falar.

— É uma linda prenda de Natal. Eu porto-me sempre bem e por isso mereço que me deem uma zebra.

— Mas, Martinha, as zebras só existem em África.

­­— Não e não! Há zebras em Portugal! E agora, para o Natal, eu quero que me deem uma!

— Em Portugal, Martinha? Em Portugal não há zebras.

— Há em alguns parques.

A mãe não desistiu.

— Mas nós não temos um parque para animais nem um jardim zoológico.

— Mas temos um quintal. Ela pode comer a erva de lá. As zebras comem ervas e não precisam de entrar em casa. E agora, em dezembro, há muita erva para ela comer.

O pai acudiu à resposta que a mãe dera à Martinha.

— A zebra é um animal selvagem. É muito perigoso e não pode estar num quintal. — E depois sentenciou: — Não é presente que possas receber no Natal!

A Martinha calou-se, parecendo aceitar a resposta, mas deixando o pai e a mãe desconfiados e preocupados, pois conheciam bem a filha.

Passou um dia, passaram dois dias, e chegou o fim de semana, com o Natal a ficar cada vez próximo, mas sem que o assunto voltasse a ser falado. Como era costume, a Martinha ficou uma parte da tarde de sábado no quarto a ver livros, pintar, recortar e a fazer tudo o mais que lhe apetecesse.

Estava a tarde a meio, quando a mãe foi chamar a filha para o lanche.

Ao aproximar-se da porta viu no chão várias manchas pretas. Pensou em voz alta.

— Um mistério para o Natal! Que bom! Só me falta vestir um fato vermelho e ser o detetive Pai Natal.

Imitando aquilo que via o Sherlock Holmes fazer nos filmes, baixou-se para analisar a origem dos vestígios e cheirou-os. Tinham aspeto de pegadas de um animal. Cheiravam a tinta. A distância entre elas parecia mostrar que o animal que as fizera levava passo de corrida. Passou a mão pelo negro que enfeitava o chão e retirou a ponta dos dedos escuros.

Uma vez mais, falou. Apenas para si, pois não havia nenhum Watson que a pudesse ouvir.

­— A tinta está fresca, as pegadas são de gato e vão na direção do quintal.

Falava enquanto se levantava e com os olhos seguia as marcas deixadas no chão. Depois, olhou no sentido contrário, e os passos seguiram o olhar. Sentia-se satisfeita com as suas capacidades detectivescas.

Abriu a porta do quarto. Estava vazio, mas viu um plástico verde, pintado de preto, e o chão do compartimento ainda com marcas mais intensas que o seu exterior.

Ouviu a água a correr no lavatório da casa de banho e sem fazer barulho foi espreitar. A filha apresentava as mãos cheias de tinta preta, que se esforçava por retirar com a água, deixando o lavatório todo escuro e espalhando essa cor pelo chão. De tão entretida que estava na sua tarefa, nem se apercebeu que a mãe a observava.

A mãe da Martinha, qual Sherlock Holmes cauteloso, retirou-se sem fazer barulho e seguiu as pegadas. O rasto dirigia-se para uma porta aberta que dava para o quintal. Foi atrás da pista.

Deu um passo para o exterior da casa, tentando evitar as manchas negras e confirmou o que já sabia sobre aquele mistério.

O Malaquias aproximou-se dela, com o seu passo preguiçoso, todo listado com tinta preta sobre o pelo branquinho. O seu trabalho de Sherlock Holmes terminara. O mistério estava totalmente esclarecido.

 Afinal, a Martinha tinha conseguido a sua prenda de Natal.

 

AVALIAÇÃO-PONTUAÇÃO

Os nossos leitores têm a partir de agora 30 (trinta) dias para proceder à avaliação deste quinto conto a concurso e ao envio da pontuação atribuída, entre 5 a 10 pontos (em função da qualidade e originalidade), através do email salvadorsantos949@gmail.com. Recorda-se que o conto vencedor do concurso será o que conseguir alcançar a média de pontuação mais elevada após a publicação de todos os trabalhos, sendo possível (e muito desejada!) a participação dos autores no “lote de jurados”, estando, porém, impedidos de pontuar os seus originais (escritos em nome próprio ou sob a forma de pseudónimo), de maneira a não “fazerem juízo em causa própria”.