Com é de conhecimento dos nossos leitores, a encantadora Vila de Sintra recebeu no final do mês de maio o convívio de consagração do vencedor do concurso de contos “Um Caso Policial no Natal”, promovido pela nossa secção. Participaram nesta jornada um total de quinze convivas, na sua maioria senhoras: Rui Mendes e Maria José Mendonça (Búfalos Associados); Paulo Viegas e sua esposa e filha, Ana Henriques e Sofia Viegas; Maria Helena Raposo (viúva do saudoso António Raposo, com quem formou a dupla A. Raposo & Lena); Maria Antonieta (Tieta, viúva do saudoso Cloriano) e a sua Amiga Paula Correia; Mimi (viúva do saudoso Pedro Paulo Faria, mais conhecido por Nove e Verbatim) e seu filho, Paulo Faria; Rigor Mortis; Luís Rodrigues (O Gráfico); Telmo Rodrigues (Fotocópia) e sua namorada, Jéssica Costa; e, claro, este vosso Amigo.
Embora ausente, por motivos imperiosos, a nossa confreira Fátima Correia (Detetive Jeremias), após o repasto, acabaria por assumir, com toda a justiça, o protagonismo absoluto do convívio, na fase que antecedeu a divulgação dos resultados finais do concurso de contos (vencido por Paulo Pereira Viegas), pelo seu notável trabalho como responsável pelo ressurgimento do Borda d’Água do Conto Curto, que regressa após uma paragem de quatro anos, em larga medida decorrente do falecimento de um dos seus principais mentores, o nosso muito querido e saudoso A. Raposo, que teve desde sempre como parceira de organização a nossa estimada Detetive Jeremias, responsável agora “a solo” por coordenar e dar à estampa o “primeiro número da nova vida” (ano 2025) deste singular e inovador projeto, que em breve merecerá aqui destaque especial.
Entretanto, enquanto não visitamos as páginas do Borda d´Água do Conto Curto – 2025, prosseguimos a publicação de alguns dos problemas que integraram o I Grande Torneio, o primeiro de 25 torneios realizados pela secção “Mistério… Policiário”, da Revista de Banda Desenhada “Mundo de Aventuras”, que fez grande furor sobretudo entre a “malta” mais jovem durante onze anos, e que decorreu entre 4 de setembro de 1975 e 5 de janeiro de 1976, dando agora nota da proposta de solução apresentada por um dos concorrentes, ao enigma do Camarada X que submetemos à consideração dos nossos leitores na edição 695 do AUDIÊNCIA, de 20 de maio.
Mistério…Policiário, da Revista Mundo de Aventuras
I Grande Torneio
UM TROVÃO FORTE FEZ VIBRAR A CASA…
de Camarada X
Solução de Big-Ben
1 – Em meu entender, o inspector Gomes sé poderia prender «um homem novo e há pouco tempo ao serviço, parecendo de bom carácter…», isto é, o mordomo.
2 – Vejamos as razões que me levaram a esta afirmativa:
- a)Depoimento falso:
«…Um trovão forte fez vibrar a casa e a luz falhou… Fusíveis, pensei. Não obstante o barulho da trovoada, ouvi um tiro…» Aí está!, primeira falha do plano do mordomo. Pois se a luz faltou e, consequentemente, tudo ficou mergulhado em escuridão, não seria descabido um tiro mas trevas, antecipadamente condenado ao fracasso?!…
Sim, qual a garantia que teria o pseudo atirador de que a sua (futura) vítima se conservaria no mesmo lugar, depois de a luz se apagar?! Na circunstância, a reacção do mais vulgar dos mortais – inclusive o milionário Fernandes – seria a de se levantar, a fim de constatar o que se havia passado; logo o «alvo» fugiria…
(A hipótese torna-se ainda mais inviável se atentarmos que a bala acertou precisamente na fronte. Bem sei que o tiro podia ser à «queima-roupa», mas, nesse caso, onde estão os vestígios de pólvora daí resultantes – não é feita qualquer referência e, portanto, temos de partir do princípio de que não existem…)
- b)Horário discordante:
«…Meia hora depois estavam na morada indicada. Eram 23 horas». Assim, o telefonema do mordomo foi recebido às 22,30 horas…
…Antes disso, já a luz se teria apagado em casa do milionário Fernandes, pois, como é evidente, o atrás referido telefonema só seria efectuado após o mordomo verificar a morte daquele. Nesta conformidade – e a passar-se tudo conforme o mordomo nos descreve – a luz estaria apagada um bom lapso de tempo, talvez quinze ou vinte minutos, porquanto seria acesa pouco antes da chegada do inspector Gomes («…e a luz voltou. Foi um alívio para mim a chegada do senhor Carlos, logo a seguir…», afirmou o mordomo: «…e só voltei há momentos, um pouco antes do inspector chegar…», disse Carlos).
Julgo, pois, poder concluir que a luz estaria apagada das 22,25 até as 22,45 – quiçá, 22,50. Chegados a esta conclusão, suponho estar habilitado a destruir todo o plano do mordomo, porquanto «…o rico relógio eléctrico colocado na parede do escritório, que marcava vinte e três horas e trinta minutos» deixa antever grande tramóia…
…É que, tendo o inspector Gomes chegado às 23 horas, não demorou, certamente, mais do que meia hora para proceder às «démarches» tradicionais, isto é, observação do local e recolha de depoimentos. Portanto, o relógio do inspector (ou de qualquer dos intervenientes) poderia marcar 23,30; porém, o relógio eléctrico – precisamente porque ficaria parado durante o espaço de tempo em que os fusíveis estariam avariados – deveria marcar apenas 23,10 ou 23,15…
- c)«Não havia sinais de luta e a janela estava aberta…» Não havia sinais de luta, nem tão pouco, suponho, marcas da chuva copiosa que estava a cair, pois se as houvesse a elas seria feita referência… Por outras palavras, se tudo tivesse ocorrido conforme o criado conta, o assaltante teria vindo do exterior e, sendo assim, dado que traria os sapatos e a roupa ensopada da chuva que caía, forçosamente deixaria marcas no sobrado – ou na alcatifa.
- d)«Estava uma noite chuvosa… a chuva continuava a cair com grande intensidade». Sim, era uma noite «bera»… porém, chuvosa não é o mesmo que trovejosa… E só o mordomo é que faz referência à trovoada… E como ele conseguiu, mesmo assim, ouvir o tiro, hem!!!…