“É NECESSÁRIO QUE HAJA AS OPORTUNIDADES PARA QUE A NOSSA JUVENTUDE CONSIGA ENCONTRAR UM CAMINHO NA CULTURA”

Já está a decorrer a 2ª edição do Concurso de Jovens Talentos da Ribeira Grande. Com duas eliminatórias já encerradas, a competição irá agora continuar nos próximos dias 11 e 12 de abril, nas Semifinais que irão culminar no dia 3 de maio, na grande final, no Teatro Ribeiragrandense. O criador e produtor do concurso, Rui Correia, afirmou ao AUDIÊNCIA que há sempre algo a melhorar, mas que esta é uma competição para continuar.

 

O facto desta 2ª edição estar em marcha, é sinónimo que a primeira foi um sucesso?

Sim, a primeira edição foi muito positiva, principalmente no talento que se conseguiu apurar durante todas as eliminatórias, e o resultado que teve pós concurso. Todos os finalistas conseguiram atuar noutros locais, foram convidados para galas, filarmónicas, e isso é positivo. Nota-se que precisavam de um empurrão para que fossem descobertos estes novos talentos. Pelo que falei com muitos, quase todos diziam que cantavam em casa, no quarto, tinham vergonha até de cantar para os pais, e só o facto de se terem inscrito já é uma vitória. É necessário que haja as oportunidades para que a nossa juventude consiga encontrar um caminho na cultura, e neste caso na música. Foi muito positivo. Os nossos vencedores participaram no Natal dos Hospitais, na passagem de ano num programa da RTP/Açores, foram convidados de rádios e jornais e acabaram também por ter destaque e ganhar mais motivação.

 

Este concurso é vocacionado para o canto, nunca foi intenção proporcionar a possibilidade destes jovens talentos pudessem ser só música, pianistas, etc.

Neste momento, optamos só pela área do canto, por causa da logística e produção. Porque, para que haja uma atuação de um pianista ou de uma banda, a própria logística torna-se complicada.

 

Esta é uma iniciativa que tem a assinatura da Associação Novo Ser. Fale-nos um pouco desta associação.

A Associação Novo Ser está direcionada, principalmente, para divulgar a cultura, o bem-estar, a qualidade de vida de todos. E o facto de ser um concurso de música, e a música é terapia, acaba por entrar dentro dos parâmetros da nossa associação, que é a saúde e bem-estar. E uma pessoa que participa num evento destes acaba por se sentir bem no final. Infelizmente, muitos podem ficar pelo caminho, mas não quer dizer que não melhoraram a sua vida, o facto de pisar um palco, perder a vergonha, melhora a qualidade de vida de alguma forma. Trabalhamos também com a área das terapias complementares, a nível de Reiki, meditação, tudo pelo bem-estar.

 

O suporte musical está a cargo da empresa Staccato Produções Musicais, que é também da Ribeira Grande, correto?

Sim. A Staccato Produções Musicais é uma marca que tem como objetivo continuar a promover a juventude. Já realizou alguns eventos, nomeadamente com o pianista Francisco Pinto, e o objetivo passa mesmo por dar oportunidades aos jovens. Acaba por ser uma entidade sem fins lucrativos porque o objetivo é apostar na juventude.

 

Tudo isto é possível, porque, por trás, existe um Rui Correia, seja na realização do evento, na Associação Novo Ser, na Staccato Produções Musicais, como também na Banda Filarmónica Triunfo ou na Academia de Música da Ribeira Grande. Portanto, está como peixe na água?

Eu amo música. E, de facto, um dos meus objetivos é promover a música e a juventude, porque no meu tempo de jovem não tinha essas oportunidades, porque as pessoas que tinham mais peso na área nunca davam o seu saber a ninguém. Hoje em dia, já se aposta na juventude. E o facto de ser também presidente da Banda Filarmónica Trinfo, confesso que é um desafio, e também já fui músico filarmónico e sei o que custa, o facto também de ser professor de música, é uma área que adoro. E quem me conhece, sabe que amo a música de coração e amo ver os jovens a desfilar num palco. Se não apostarmos, não só na juventude, mas naqueles que querem ter oportunidades nesta área, quem o vai fazer?

 

Em termos de apoios, o que este evento conta?

Atualmente, temos o apoio da Câmara Municipal da Ribeira Grande, e Direção Regional da Juventude. Temos de ter dinheiro para fazer as coisas, não é só ter um palco e equipamento de som, há muita logística por trás disso. A nível de deslocações do júri, por exemplo, ainda este ano vamos apostar em reforçar a mesa do júri porque para quem está a ser avaliado, requer que o júri tenha qualificações para tal, assim como pagamentos a músicos, a técnicos, é uma equipa muito grande. E ano após ano, quase que somos obrigados a crescer um bocadinho. Há sempre coisas a melhorar.

 

Não sei se tem conhecimento que o município da Ribeira Grande e a Junta de Freguesia de Rabo de Peixe, têm acordos de colaboração e permuta de artistas do concelho, com o município da Trofa, e com as freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira, respetivamente. Alguma vez foram abordados por estas instituições para uma eventual final deste concurso ser uma deslocação dos vencedores a essas localidades?

Nunca tivemos esse tipo de conversa e a parte da entrega dos prémios cabe à organização, mas caso isso acontecesse teríamos de ver se é um prémio válido para o concurso.

 

Relativamente à 1ª edição do Concurso, quais são as novidades?

O ano passado tivemos um problema de espaço na final e o Teatro Ribeiragrandense é grande, mas, após meia hora da abertura da bilheteira, já não havia bilhetes. Foi um sucesso enorme. E queremos encontrar a melhor solução para que todos possam ir e que cumpram com o seu lugar. É logico que há algo que tem sempre de mudar, o júri anterior foi com pessoas altamente qualificadas e estamos a tentar manter o mesmo nível de júri e de maior preparação para os concorrentes porque depois atuam também com uma banda e este ano optamos por dar, mais ou menos, um mês de distancia para que eles possam praticar em casa para a final. E isso na primeira edição não aconteceu porque tínhamos uma margem de, mais ou menos, 15 dias. Queremos melhorar esses aspetos e também ter alguém que os acompanhe durante os ensaios que diga ao concorrente o que pode ou não melhorar, tentar também saber a música certa para interpretar nas galas porque nem todas as músicas se enquadram nos mesmos tipos de voz e tonalidade.

 

Há também uma alteração nos escalões etários…

Sim. Este ano optamos por fazer o primeiro escalão infantil dos 6 aos 15 anos, e decidimos aumentar mais dois anos a parte seguinte, que vai agora dos 16 aos 32 anos.

 

Todos os inscritos vão às eliminatórias?

Existe uma pré-seleção antes, porque recebemos muitas inscrições com os vídeos e as performances a cantar. E existe um júri que vai avaliar essa performance antes de ir para as eliminatórias. Porque também queremos ter a certeza que nas eliminatórias as pessoas estejam minimamente preparadas ou que se veja que consegue depois crescer mais um bocadinho com o andar do concurso.

 

Quando são as datas da semifinal e da final?

As eliminatórias ocorreram durante o mês de fevereiro, a 4 e 5 de abril serão as semi-finais e depois a grande final no dia 3 de maio. Como disse, temos uma margem de um mês de preparação para os finalistas depois atuarem, que é o tempo suficiente para haver alguma alteração de música, no tom, e isso é muito importante também, assim como o próprio convívio com a banda porque precisam também de saber que estão seguros com o suporte da banda.

 

Podem participar concorrentes que sejam de fora do concelho da Ribeira Grande?

Não. Este ano, mais uma vez, é exclusivamente para o concelho da Ribeira Grande. Para o ano, poderá haver a possibilidade de alargar a nível dos Açores.

 

Numa altura em que se fala tanto da diáspora açoriana, os descendentes de ribeiragrandenses, ou ribeiragrandenses ainda que vivem no Canadá ou Estados Unidos da América, não podem participar?

Se tiver cá a residência pode participar. O que conta é residir na Ribeira Grande, não o facto de ter nascido ou não na Ribeira Grande. E também nunca pensamos nessa parte porque penso que é um bocadinho difícil um concorrente do Canadá ou EUA vir cá participar. Mas estamos sempre a aprender e há sempre coisas a melhorar, mesmo que seja daqui a 10 anos, temos de nos adaptar à realidade. 2024 foi o início, não sabíamos que ia ter o impacto que teve, e agora temos de aprender com aquilo que correu menos bem. E assim todos os anos.

 

Porque o facto de ser residente na Ribeira Grande, é facilmente falsificável.

Para a pessoa concorrer, tem de fazer duas coisas. Tem de enviar o comprovativo de residência, se for menor, pode vir em nome dos pais, independentemente se é da mãe ou do pai, ou avós. E se a pessoa falsificar isso pode depois ser penalizada porque estamos num meio pequeno e toda a gente se conhece.

 

E projetos futuros?

Eu tenho preparado, durante o ano inteiro, algumas apresentações, mini concertos de jovens talentos ligados à música. Mas não é concurso, é do género esta miúda tem um potencial enorme, vamos apostar. É para os jovens mostrarem o seu talento. E fiz há pouco tempo com o Francisco Pinto e sou suspeito, mas foi muito lindo, a apresentação que ele fez com um ambiente muito positivo e correu muito bem. Muitas vezes as freguesias também precisam de alguém para cantar e até para um casamento já recomendei. E temos de pensar que não podemos desvalorizar quem nos ouve, sejam duas pessoas ou mais, porque não sabemos quem elas possam ser.

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