“É UMA INSTITUIÇÃO DE REFERÊNCIA NO CONCELHO”

Desde 1933 a servir a comunidade, o Lar de Santa Isabel tem vindo a afirmar-se como uma instituição de referência no apoio à terceira idade. Em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, Ana Ferreira, diretora técnica e diretora de serviços desta IPSS, destacou a importância do trabalho desenvolvido nas várias valências da instituição, nomeadamente, ERPI, centro de dia e apoio domiciliário, sublinhando o impacto das atividades dinamizadas na promoção de um envelhecimento ativo, digno e feliz. Com mais de uma centena de utentes internos e cerca de 125 colaboradores, a instituição continua a apostar na inovação contínua e no reforço do bem-estar dos seus seniores, contrariando o estigma tradicionalmente associado aos lares.

 

 

Qual a importância do trabalho que é desenvolvido no Lar de Santa Isabel?

Eu acho que é um trabalho extremamente importante para a comunidade, que é para dar resposta às necessidades, sobretudo, da terceira idade, na área não só do internamento, quando os familiares já não conseguem apoiá-los a nível das atividades de vida diárias. Uns estão em centro de dia, portanto, ocupam cá o dia apenas e depois vão para casa ao fim do dia. E também temos outros que estão em casa e recebem os nossos apoios pontuais, que é o serviço de apoio domiciliar. Portanto, nós temos essas três valências ligadas à terceira idade. Ainda temos a creche. Mas, portanto, nestas da terceira idade é, sobretudo, ajudar as famílias a suprir estas necessidades e temos uma lista de espera grande, porque, realmente, é impossível dar resposta a todas as necessidades. A importância do lar é essa mesma, desde 1933, portanto, começou como uma instituição muito humilde e neste momento é uma instituição de referência no concelho. Nós temos 120 internos, à volta de 20 em centro de dia, 25 em apoio domiciliário, portanto, é uma instituição com uma grande dimensão e que conta com cerca de 125 colaboradores, nas quatro respostas, por isso temos vindo a crescer todos os anos. E quando eu digo crescer, é um crescimento de acordo com as necessidades dos seniores. Por exemplo a terapia ocupacional nunca existiu no lar, só é realidade este ano, ou seja, é algo que nós percebemos que é necessário, ou seja se eles vêm debilitados de uma operação precisam de recuperar e ficam muito tempo parados e a terapia ocupacional, de alguma forma, vai, nomeadamente, trabalhar com os utentes, no sentido de eles não perderem a marcha, porque perderem a marcha significa ficarem presos a uma cama, a um sofá e depois acabou. Portanto, uns trabalham o movimento, outros trabalham a ocupação dos tempos livres, para além do trabalho que é feito na higiene pessoal, no cabeleireiro e na esteticista que cá vêm. Por isso, temos um sério número de coisas que faz com que o dia a dia deles seja, efetivamente, de qualidade. É o lazer e no fundo é o bem-estar, pronto, é por aí, por isso é que eu digo que isto cresce, mas cresce a todos os níveis, isto é, não só no cuidado e no que eles precisam efetivamente para evitar, no fundo, sair.

 

Como descreve os seniores de hoje, comparativamente com os idosos de há dez anos atrás?

Há 10 anos atrás, os idosos que entravam para o lar poderiam vir debilitados, mas mantinham alguma independência. Tínhamos idosos com muita autonomia ainda. Neste momento, vêm cada vez mais debilitados, mas a verdade é que as condições que nós temos permitem que eles durem mais tempo, ou seja, eu tenho idosos muito envelhecidos e muitos com mais de 90 anos. Por isso, a debilidade deles hoje em dia é maior do que era há 10 anos e os idosos que eu tenho agora no lar são diferentes dos que eu tinha há 10 anos. Também, são mais exigentes, logo é uma população que exige mais de nós. Portanto, há 10 anos não tínhamos um centro de dia a funcionar com esta dimensão e hoje temos. Logo, eles obrigam-nos a darmos mais de nós, de alguma forma, mas, eu acho que é como tudo e nós temos de nos adaptar aos sinais dos tempos e ao que eles precisam.

 

Para além das terapias ocupacionais e da animação sociocultural, que outras atividades são realizadas?

Inúmeras, temos a ginástica, o Boccia, a música, o teatro e atividades pontuais de criatividade. Sendo atividades de terapia ocupacional, são mais exercícios diários, ao passo que a animação sociocultural e, nomeadamente, a ginástica, sendo uma atividade de lazer, acaba por trabalhar algumas coisas que eles também precisam, ao nível do movimento, para não perderem e não ficarem, no fundo, presos à cadeira. Para além disto, também temos a recitação do terço na capela, para os mais religiosos. Portanto, temos uma série de coisas que preenchem um dia inteiro, durante os dias da semana e mesmo ao fim de semana, força das exigências que nós vamos tendo, também temos os funcionários aqui no centro de dia, que jogam com eles e os distraem. Por outro lado, uma vez por mês, temos uma atividade no Mercado do Bolhão, que é o “Chef à Moda do Bolhão”, onde os nossos idosos vão degustar, no fundo, aquilo que os chefs preparam na altura.

 

Os passeios também são um dos pontos altos do calendário de atividades.

Sim, desde maio até outubro, nós realizamos passeios ao exterior, com atividades que têm interesse cultural, umas mais perto, outras mais afastadas. Temos um passeio anual, que é o religioso, que este ano foi a São Bento da Porta Aberta, no 24 de abril. Mas, sim, eles gostam muito e, no fundo, todas as atividades que existem, mesmo as exteriores, por vezes decorrem de sugestões que eles nos dão, relativamente ao que gostavam de fazer, onde gostavam de ir e o que gostavam de visitar, porque o lar não é só o que se passa aqui dentro, passa-se muito que é a vida deles, mas saem e realizam muitas visitas, de forma a que eles tenham um envelhecer digno, que acaba por ser, na mesma, um declínio normal, mas que é menos acentuado. E acho que, com estas pequenas coisas, contribuímos para que eles tenham mais qualidade de vida e sejam mais felizes, contrariando o estigma que existe em relação aos lares, acho que é importante e eu tenho feito isso desde que estou cá. Atualmente, nós temos duas animadoras socioculturais, fruto de uma necessidade que foi crescendo, em função daquilo que os seniores exigem de nós. Portanto, é nos trabalhos, é nas festas, nas comemorações, sejam os Santos Populares, o Natal, a Páscoa, os aniversários. Portanto, damos vida, porque eles merecem isso também, de alguma forma. Logo, o lar não é fechado e tentamos envolver a família naquilo que é o dia a dia também deles, por exemplo, no Natal passado, fizemos, pela primeira vez, um almoço de Natal com os familiares, que contou com cerca de 200 pessoas. Mas, foi uma iniciativa que foi importante para eles. Como tal, acho que o lar não tem de ser fechado, tem de ser aberto e é aí que nós ganhamos e que ficamos conhecidos de alguma forma.

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