Fábio Matos, de nome artístico Dwish, é um cantor, compositor e dançarino que se inspira numa mescla de géneros musicais que passam pelo R&B, Kizomba e Dance.
Fábio, qual é a origem deste projeto?
Este projeto visa os ritmos mais africanos, mais da parte da minha mãe, que é angolana. A minha mãe veio de Luanda há muitos anos atrás e, desde então, a parte africana sempre esteve muito presente no meio familiar. Nós sempre cantamos em casa, por brincadeira, e eu admito que tinha muita vergonha de o fazer, por isso cantava sempre quando estava sozinho. Acontece que, um dia, a minha mãe chegou ao meu quarto, no qual eu estava a cantar, e disse-me que me ia levar a um karaoke e foi assim que eu fui começando. Entretanto conheci o filho de uma amiga da minha mãe, o G-Spot, que já cantava hip-hop, comecei a compor e a cantar alguns refrões para as músicas dele. O bichinho pela música cresceu a partir daí, o que me levou a começar a escrever e a conceber as minhas próprias músicas. Eu, na altura, fiz 12 faixas, mas tive vergonha e guardei-as para mim durante algum tempo, porque na vila onde eu vivia, em Benavente, as pessoas não estavam habituadas a este tipo de atividade e, como eu jogava futebol, era muito estranho eu querer ser cantor. Lembro-me de, na época, ter deixado de compor, na altura da escola, e de ter sido incentivado por um colega de estágio, que foi buscar os trabalhos que eu realizei com o G-Spot, a investir e a transformar os meus trabalhos em algo real. Foi a partir daí que nasceu o projeto “Dwish”, em parceria com Bibito, no qual eu fazia a junção entre o género hip-hop e o pop. Posteriormente, fomos à TVI, à SIC e formamos uma academia de dança. Depois larguei este projeto, porque o Bibito era bem mais novo do que eu e eu precisava de algo mesmo sério, e comecei a fazer trabalhos a solo, mais à base do estilo R&B. Mais tarde interpretei algumas personagens de novelas da TVI como “Morangos com Açúcar” (Temporada 5), “Fascínios” e “Deixa-me Amar”. Contudo, nunca dei muita importância à representação, porque era a música o que eu realmente queria. Ulteriormente, criei um novo projeto, o ADN S7 Project, que teve a duração de cerca de 5 anos. O grupo era muito ligado à dança e ao hip-hop e era constituído por mim, pelo Ntk e pelo S7. Mas, acabamos por nos separar porque tínhamos objetivos diferentes. A partir daí voltei, novamente, ao solo, no entanto, mais ligado ao Kizomba. Por conseguinte surgiram as músicas “Nha Piquena”, “Atrevido”, “Colada Na Mi” e, mais recentemente, os temas “4Paredes” e “Vem Cá”, que foram produzidos pela BlackRose.
Fábio, apesar de teres 31 anos, já tens um percurso artístico bem recheado e com várias variantes, que fazem de ti um artista com outra bagagem e outra capacidade. O que é que os espetadores podem encontrar quando assistem a um espetáculo teu?
O que eu tento proporcionar às pessoas é o sentimento de que fazemos todos parte de um grupo de amigos, que vai sair à noite. O meu papel é animar. Eu gosto de fazer com que as pessoas sintam que fazem parte do espetáculo e, por isso, faço os possíveis para interagir com público. Eu não sou quem eu sou, se não tiver as pessoas comigo e este vai ser sempre este o meu pensamento. Eu não sou mais do que ninguém e, no que respeita os espetáculos, o que eu quero é que as pessoas interajam comigo e com aquilo que eu faço e que sintam que fazem parte do meu clube, porque são elas que fazem o concerto acontecer. Na minha opinião, se não houver interação, o espetáculo não é bom. Eu tenho grandes exemplos de locais que me orgulharam, porque as pessoas interagiram comigo, como é o caso do Ibiza Club, do Seven Club e do Bokas Bar. Posso dizer que não consigo apontar um ponto negativo do que eu tenho feito, uma vez que eu interajo com as pessoas, chamo-as para o palco e convido-as a fazer parte do espetáculo.
E como é que é conciliar a música com o teu trabalho profissional no exército?
Nem sempre é fácil. Às vezes há momentos em que é preciso saber conciliar, por exemplo eu ainda não tirei férias, vou usufruindo de um dia ou outro, porque eu não consigo dizer que vou tirar 15 dias de férias. Aliás, eu não posso fazer isso, uma vez que eu preciso desses dias para atuar. Por isso eu tenho o meu trabalho diário de segunda-feira a sexta-feira e, se tiver de atuar, tiro dias. Por norma atuo sempre nas minhas férias. O facto de estar de férias, nos Açores, de 29 de setembro a 11 de outubro, foi uma opção minha, mas, por exemplo, são as únicas férias que eu vou ter. É complicado porque tenho algumas responsabilidades, devido ao cargo que exerço no exército e depois ainda tenho de pensar na música, tenho de compor letras e de desenvolver o instrumental. Posso dizer que chego a dormir entre duas a três horas por dia, o que não chega. Muitas vezes chego a quarta ou a quinta-feira completamente de rastos, mas continuo sempre, porque, lá está, quando nós gostamos daquilo que estamos a fazer, não é o cansaço que nos pára.
Em termos de discos, como é que estás?
Oficialmente, ainda só gravei um CD, denominado ”Part-Time”, em parceira com o Bibito. Posso dizer que, neste momento, estou mais preocupado em lançar músicas que são escritas e compostas por mim, na medida em que o produtor concebe mediante o que eu lhe vou pedindo. O meu produtor, Wonder Beatz, tem sido fantástico, assim como o meu manager, Diogo Filipe, que tem conseguido agendar muitas datas e a Melissa, que me tem ajudado muito nesta zona dos Açores. Portanto, estas são aquelas pessoas importantes. Eu tenho 17 anos de música e já não me deslumbro facilmente com as pessoas. A meu ver, não foi o meu espetáculo no Estádio Nacional do Jamor, nem a minha presença na SIC ou na TVI que fizeram de mim uma pessoa importante, porque é o trajeto que nós vamos fazendo que nos torna importantes.
Em 2000 deste o pontapé de saída no campo musical e em 2017 tens a tua posição assumida, no campo artístico, com este novo projeto. Podes dizer que aquilo que idealizaste em 2000 é o que está a acontecer hoje? Contavas chegar mais rápido ou nunca ter chegado onde chegaste?
Eu nunca pensei que fosse demorar tanto tempo, mas também ainda não cheguei onde pretendo e sei que tenho um longo caminho a percorrer. Algo que me acontece com regularidade é o facto de as pessoas conhecerem as minhas músicas, mas não saberem que são minhas e quem eu sou, ou seja não me reconhecem como interprete. Posso dizer que se eu pudesse cantar com máscara, cantava com máscara, porque eu não preciso da fama, não preciso de ser reconhecido nem presencialmente e nem fisicamente. O que eu quero é que as minhas músicas cheguem às pessoas e que as pessoas se identifiquem com aquilo que eu estou a dizer. É esse o meu fundamento. Admito que, quando iniciei a minha carreira musical, o meu desejo era criar algo grande, daí ter saído de Benavente muito cedo. No entanto, sei que ainda não cheguei a esse ponto, que há muito a fazer para lá chegar e que estou no caminho certo. Este projeto surgiu há quatro anos atrás, e permitiu-me reunir tudo o que eu tinha feito até à data, com o objetivo de alcançar o meu objetivo.
No campo musical é muito mais fácil vencer, ou ser reconhecido, aquele que não constrói, do que aquele que constrói? Tem sentido alguma dificuldade pelo facto de ser o autor das suas músicas?
Sim, eu vejo muitos trabalhos de outros autores e acho que toda a gente tem o seu valor. Contudo, faz-me um pouco de confusão, quando se fala de um determinado artista, que nem sequer escreve as próprias letras, nem compõe as próprias músicas, uma vez que se limita a dar voz, o que nem sempre é bom. Claro que chegamos a pensar que se calhar não estamos no sítio certo e que não é a hora certa, que se calhar não era para ser. Isto pode acontecer um dia e se acontecer que seja para o melhor.
Acaba de estar nos Açores, onde esteve no Ibiza Club, e em Vila Nova de Gaia, onde atuou no Redondos. Estas duas presenças significaram muito para si?
Significaram muito, porque eu sei que as pessoas começam a reconhecer e a ver o meu trabalho a ser reconhecido. Eu acho que as pessoas começam a identificar o meu esforço e que já não sou aquele que queria cantar, nem aquele que queria fazer alguma coisa ligada à música. Na minha opinião, o facto de eu ter vindo de onde vim e de ter chegado a este ponto, fez com que as pessoas passassem a olhar para mim de outra maneira e pensassem que eu não estou a brincar, nem a fazer isto só porque sim.
No que respeita a tua passagem pelos Açores, podemos afirmar que, tirando o mar que é mais forte, as diferenças entre Benavente e São Miguel não são muito grandes.
Sim, é verdade, aqui o nível de vida é parecido, é calmo, mas a forma como as pessoas me olham é diferente, porque eu não sou daqui, eu sou de Benavente. Por exemplo, já cheguei a ter um público de mais de 1000 pessoas a ver-me em Benavente, que não interagiam comigo, em contrapartida já cheguei a estar em Guimarães com um público de 300 pessoas que interagiu comigo e quis fazer parte do espetáculo. A diferença é que, aqui, a população conhece-me apenas a nível musical e em Benavente eu não sou novidade para as pessoas, elas agradecem-me e dão-me os parabéns por tudo o que eu tenho feito até hoje e dizem-me que nunca se esquecem de onde eu vim. Eu sou e gosto de Benavente, mas apenas vou lá ver a minha família.
Depois desta vinda a São Miguel e depois desta entrevista, o que é que esperas que os açorianos tenham perante a tua música?
Espero que a ouçam mais vezes, que a vejam de outra maneira e que acreditem naquilo que eu estou a fazer, porque eu sei que tenho valor, eu sei que tenho talento para estar aqui.
Estamos a três meses da 13ª Gala Audiência e já fizeste questão de confirmar a tua presença. O que esperas levar ao palco daquele teatro, que é um dos mais bonitos dos Açores e talvez do país? Com o que é que os convidados podem contar?
Com a minha irreverência, felicidade, alegria e dança. Eu vou presentear o público com os meus cinco grandes sucessos, pelo menos mais recentes, “Nha Piquena”, “Colada Na Mi”, “4Paredes”, “Vem Cá” e “Selfie”. Posso dizer que aqueles que estiverem sentados vão-se querer levantar de certeza absoluta.
Qual é o seu maior sonho, agora que passou aqui pelos Açores?
O meu sonho é cantar no Pavilhão Atlântico, eu sempre pensei nisso.
Fábio Matos, de nome artístico “Dwish”, nasceu em julho de 1986, em Benavente, em Santarém, e vive em Oeiras. Atualmente dedica-se à música e às Forças Armadas.