“FORAM 11 ANOS DE INTEIRA DEDICAÇÃO ÀS PESSOAS”

Em entrevista exclusiva ao Jornal AUDIÊNCIA, o presidente da União de Freguesias de Pedroso e Seixezelo, Filipe Silva Lopes, falou sobre as suas conquistas alcançadas para o território, ao longo dos cerca de onze anos de liderança. Assumindo que foi a paixão pela terra que o viu nascer que o levou a candidatar-se, o edil voltou a frisar que o seu lema sempre foi pouco asfalto, pouco betão e muitas pessoas, ressaltando os inúmeros projetos imateriais que foram desenvolvidos em prol da população, desde a criação da Academia Sénior, à “União dos Sonhos”. A pouco mais de um ano do fim do seu último mandato, o autarca sublinhou que a requalificação da Associação Musical de Pedroso e a construção da Casa Mortuária de Seixezelo foram as obras que marcaram o seu ciclo autárquico, não pelo investimento ou envergadura, mas por darem respostas a décadas de anseios das populações. Assegurando que deseja ver o arranque da construção do Centro de Saúde dos Carvalhos e da obra na Escola EB 2/3 Padre António Luís Moreira, uma vez que são as únicas obras físicas, planeadas, que ainda não foram realizadas, Filipe Silva Lopes afiançou que “a Junta de Freguesia de Pedroso e Seixezelo está muitíssimo bem preparada para o futuro”.

 

Para quem não o conhece, quem é o cidadão Filipe Silva Lopes?

Eu tenho 45 anos, nasci em Pedroso e sou licenciado em Gestão Financeira. Tenho algumas ocupações profissionais e, em 2013, abracei este projeto na Junta de Freguesia e cá estou, ao fim de 11 anos. Ao mesmo tempo, sempre tive, desde muito cedo, uma participação muito ativa na freguesia, quer na área do associativismo, quer no movimento juvenil da igreja, por isso sou uma pessoa que sempre andou por Pedroso e, mais recentemente, por Pedroso e Seixezelo.

 

Quais são as suas maiores motivações e inspirações?

O exemplo que eu tenho é do meu pai que, infelizmente, já não se encontra entre nós, mas foi a pessoa que me levou para a vida associativa, que me incentivou e ensinou. Portanto, para mim, é um exemplo de saber estar, saber ser e saber fazer. Relativamente às motivações, eu acho que todos nós devemos ter as nossas ambições e isto pode ser um contrassenso, mas eu sou uma pessoa que tem uma expectativa sempre muito baixa e é o modo defensivo com que lido na minha vida, porque com as expectativas baixas, nunca temos desilusões. Porém, a minha maior motivação, desde que acordo até que me deito, no dia a dia, é acrescentar valor àquilo que faço, quer seja à minha vida, da minha família ou da minha comunidade. Claro que, nem todos os dias é possível acrescer valor ao que quer que seja, mas pelo menos se não for na comunidade, que seja a uma pessoa próxima e eu acho que a motivação é essa, porque quando se abraça um projeto autárquico, tem de ser mesmo essa motivação e é aquilo que eu faço no quotidiano.

 

O que o levou a ingressar no mundo da política?

Como eu mencionei anteriormente, eu sempre fui, desde muito novo, uma pessoa muito ligada ao associativismo. Fiz, nomeadamente, parte da Direção do Futebol Clube de Pedroso, do Clube Hóquei dos Carvalhos, da Associação Musical de Pedroso, da IPSS Bom Samaritano e eu não fui para estas instituições com o intuito de, 15 anos volvidos, ser candidato à Junta. As pessoas foram-me conhecendo e eu fui criando laços por onde fui passado e eu acho que, ainda hoje, posso dizer que por onde passei sempre deixei uma boa imagem quer pessoal, quer profissional e, em determinado momento da vida da freguesia, um grupo de pessoas, sendo conhecedor do caminho que a Freguesia de Pedroso estava a tomar em 2011/2012, desafiou-me para este projeto autárquico. Não digo que tivesse sido o passo natural, porque o meu pai sempre esteve ligado ao movimento associativo e nunca esteve no mundo político, porque ele tinha as suas opções e preferências, mas nunca teve o bichinho de ingressar na política. Eu sempre gostei muito de servir a comunidade por onde fui passando e olhei para este desafio como uma excelente oportunidade para poder ajudar a minha terra e as minhas pessoas a evoluir, naquilo que eu tendo que é uma evolução que se tem vindo a registar na freguesia. Por isso, eu acho que o que me levou a ingressar no mundo da política local, claramente foi o amor à terra e que eu tenho por Pedroso, porque eu não sou natural de Seixezelo, mas ao longo dos anos fui-me apaixonando também por esta freguesia. Mas, foi o amor a Pedroso que me fez abraçar este projeto.

 

A pouco mais de um ano do fim deste que será o seu último mandato, qual é o balanço que faz até aqui?

Eu acho que o balanço é extremamente positivo, a todos os níveis. Eu acredito que, naturalmente, se calhar se puxasse a cassete atrás, haveria uma ou outra situação que mudaria, porque ninguém diz que tudo foi perfeito, pois a perfeição não existe, uma vez que nós somos imperfeitos. Agora, acho que relativamente a tudo aquilo que me comprometi, saio realizado. Não me refiro a estradas, betão ou de asfalto, mas ao nível de toda a envolvência e predominância que eu penso que a Junta de Freguesia deve ter na vida da sua comunidade. Por isso, nós criámos inúmeros projetos imateriais, dedicados à vida das pessoas e a quem mais precisa, assim como às escolas e envolvemos o tecido empresarial. Eu lembro-me que quando cheguei, aqui, a Junta de Freguesia não tinha nenhuma relação com as empresas, pois havia um muro que separava a Junta dos empresários e eu não tenho nenhum problema em assumir uma relação de proximidade, aliás, basta ver o desempenho que temos vindo a ter nessa relação com as empresas, porque a Junta de Freguesia é a principal beneficiada e se calhar a única beneficiada dessa relação. Por isso, as empresas também sentiram que fazem parte da comunidade, do território, contribuíram e ajudaram nos projetos de âmbito social. Nós criámos, recentemente, o projeto intitulado “A União dos Sonhos” que é 100% financiado pelo tecido empresarial. Não nego que um presidente de Junta gosta de deixar a sua marca, no que fiz respeito às infraestruturas, mas eu acho que a nossa marca fica mais nos projetos imateriais do que nos materiais, mas há uma tentação forte pelos projetos materiais e nós temos a Feira dos Carvalhos, temos a Casa Mortuária de Seixezelo, o Polidesportivo de Seixezelo, também fizemos um conjunto de praças, a Piscina Aurora Cunha, o Estádio do Futebol Clube de Pedroso e a sede da Associação Musical de Pedroso. Portanto, temos inúmeros equipamentos que fomos inaugurando ao longo destes 11 anos, porém eu acho que a marca que fica deste ciclo passou por preparar a Junta para aquilo que eu acho que deve ser o papel de uma Junta. Naturalmente, temos de limpar as ruas, tapar os buracos, fazer construções e penso que isso foi conseguido, todavia eu acho que a Junta, hoje, é olhar como um parceiro ativo da comunidade, quer seja das escolas, das pessoas, das empresas ou das coletividades, que desenvolve e potencia atividade de cada uma dessas partes. Eu acredito que, depois de preparar a freguesia e o território com infraestruturas para os próximos anos, compete a uma Junta de Freguesia, como compete a uma Câmara Municipal, ter as condições para pôr a funcionar os equipamentos que construiu e mais do que ser um construtor, passar a ser um prestador de serviços. Portanto, eu acho que a Junta de Freguesia de Pedroso e Seixezelo está muitíssimo bem preparada para o futuro.

 

Quais foram as principais conquistas?

Ao nível de construção, eu vou dar dois exemplos, um em Pedroso e outro em Seixezelo, que não representam as obras mais caras, mas são aquelas que marcam um bocadinho este ciclo autárquico. Em Seixezelo, foi a Casa Mortuária e, em Pedroso, a sede da Associação Musical, porque eram obras que estavam prometidas há décadas, aliás, eu era criança e fui aluno da Associação Musical durante muitos anos e tínhamos as aulas numas instalações que eram cedidas pelo Lar Juvenil e é de reconhecer esse esforço em ceder, mas que não estavam preparadas para uma escola de música, pelo que era uma promessa de que há muitos anos se ouvia falar na freguesia, mas nunca se concretizou e foi possível realizar no meu primeiro mandato, quer uma obra, quer a outra. Por isso, ao nível de conquistas, não pelo valor, não pela importância, porque a sede da Associação Musical é muito restrita a quem frequenta as aulas, mas pelo significado de que nós não somos todos iguais e quando dizemos que fazemos alguma coisa, fazemos, eu acho que estas duas obras marcam isso. Depois, naturalmente, a Feira dos Carvalhos e a reabilitação da rede viária, que estava imensamente degradada em Pedroso, principalmente, também tiveram o seu impacto. Depois, temos um conjunto de projetos imateriais e ficam sempre, como a Academia Sénior, que é um projeto de que eu falo com muito orgulho, não por ter sido quem teve a ideia de o fazer, mas por ver, diariamente, os alunos motivados, envolvidos, a participarem, a aderirem a novas disciplinas e a quererem cada vez mais. Logo, é um projeto que fica, tal como todos os outros. No total, nós criámos quase 30 projetos e estão todos os eles a funcionar, neste momento, porque não os inauguramos para a fotografia, para depois desaparecerem, não, nós pensamos, criámos, envolvemos parceiros, implementámos e eles têm sucesso e continuam ainda hoje. Eu acho que há sempre espaço para mais projetos imateriais, mas isso requer mais recursos humanos. Neste momento, os recursos humanos da Junta de Freguesia foram substancialmente aumentados, para fazer face a tantos projetos que fomos criando, mas estão esgotados, estão no limite, por isso ter mais projetos obriga a ter mais pessoas e é uma reflexão que quem vier a seguir terá de fazer, pois não me compete a mim. Eu não irei encharcar o quadro de pessoal com pessoas para projetos que eu acho que fazem sentido, quando quem vier daqui a um ano pode achar que não fazem qualquer sentido e eu acho que não é correto fazer aos outros aquilo que não gostava, e não gostei, que me tivessem feito a mim.

 

O que ficará, ainda, por concretizar?

Relativamente ao que fica por fazer, eu espero ir a tempo do arranque da obra do Centro de Saúde dos Carvalhos e da Escola EB 2/3 Padre António Luís Moreira, pois são as duas obras físicas que estão por avançar, pois tudo o resto foi realizado. Estamos a falar de muita obra e de muitos milhões investidos. Também, quero deixar uma palavra à Câmara Municipal de Gaia, que sempre acreditou, nos deu ouvidos e implementou aquilo que fomos sugerindo. Quer a EB 2/3 é um compromisso do Governo, pois é uma daquelas escolas do PRR que vai ser intervencionada, por isso é um dado assumido e independentemente de começar no meu mandato ou no mandato de quem vem a seguir, será uma realidade, e o Centro de Saúde que espero ver começado, já foi adjudicado, em reunião de Câmara, mas uma reclamação de um dos concorrentes suspendeu o concurso, caso contrário já estaria adjudicada. Por isso, há vontade política, há dinheiro para a obra, apenas uma questão legal está, aqui, a impedir. São estes os dois projetos que eu acho que ficam por fazer, se não conseguirmos começar antes de eu ir embora.

 

A seu ver, quais foram as maiores apostas deste executivo nas áreas da educação, saúde, desporto, cultura e ação social?

No âmbito da ação social, nós criamos o projeto “Pedroso e Seixezelo Apoio Solidário”, no âmbito do qual fomos incluindo vários subprojectos para dar resposta aos mais carenciados e aqui tenho, claramente, de realçar o papel dos parceiros que fomos tendo ao longo do tempo, como as farmácias, a ótica, as clínicas dentárias e as próprias empresas da freguesia, que se associaram e patrocinam, nomeadamente, o Cabaz de Natal. Mas, eu costumo dizer que se nós vivemos num país que não consegue dar resposta a todos os pedidos, a freguesia também não, aliás vivemos num continente europeu que não consegue e num mundo que não consegue, por isso nunca conseguimos satisfazer todas as necessidades e todas as “obrigações” que deveríamos ter. Contudo, eu costumo dizer que a nível da ação social, temos uma capacidade de resposta bastante alta e no que concerne à medicação, nós damos a 100 por cento das pessoas que nos pedem, desde que cumpram os requisitos. Por isso, ao nível da ação social, há sempre muito para fazer, mas temos um grau de eficiência e de resposta positiva aos pedidos. Ao nível do desporto eu, se calhar, destacava a Petrus Run, que tem uma dimensão muito grande e este ano foi a corrida com mais participantes de Vila Nova de Gaia, tendo já superado a Corrida da Águas de Gaia. Esta corrida começou em 2015, com cerca de 250 atletas e nesta edição teve 1100 atletas e também tem uma vertente solidária, pois damos uma parte da receita a uma instituição. Na parte da educação, destacava dois projetos, o “Regresso às Aulas” onde damos material escolar gratuito a todas as crianças do 1º ciclo e “A Escola vai à Junta” que, no fundo, é uma simulação do Parlamento Jovem, onde as escolas do 1º ciclo criam listas, votam nas propostas de dentro cada escola e depois tem uma segunda fase, em que cada escola traz a proposta vencedora e há uma proposta que ganha, ao nível da freguesia, tendo a Junta de a implementar e nós já temos um conjunto de projetos concretizados na freguesia, que decorreram deste projeto, como é o caso do rebaixamento de passeios, junto às passadeiras, para as pessoas de mobilidade reduzida e da recuperação do lavadouro junto à Escola da Senhora do Monte. Ao nível da saúde, salientava o Posto de Enfermagem, que está a funcionar gratuitamente quer em Pedroso, quer em Seixezelo e tem tido uma evolução muito grande. Os projetos só têm sucesso e só marcam pela diferença se forem feitos em equipa. Foi assim que criámos o projeto da Academia Sénior e “Um Bebé… Um Futuro”, em 2019, no âmbito do qual realizámos, este ano, o 3º Encontro de Bebés de Pedroso e Seixezelo e convidamos todas cerca de mil crianças que estão inscritas e usufruem do Cartão do Bebé e dos descontos dos parceiros. Esta iniciativa é uma forma de nos reunirmos, vermos, de termos, ali, um pequeno lanche e este ano contou com uma enorme adesão. Para mim, é muito engraçado, porque entregámos os kits às mães, quando elas ainda estavam grávidas e pudemos estar com as crianças, sendo que algumas delas já comem sozinhas, já brincam e jogam à bola. Eu acho que é isto que também faz o sentimento de comunidade.

 

Neste seguimento, podemos afirmar que foram 11 anos a pensar nas pessoas?

Sim, eu acho que mais do que tudo, estes 11 anos foram de muita dedicação às pessoas. Claro que há falhas, coisas que ficaram por fazer, mas quando há uma coisa que ficou por fazer, foi porque optamos por outra. Foram 11 anos de inteira dedicação às pessoas e foi com esse intuito que eu me candidatei, juntamente com a minha equipa, e é com esse intuito e estarei aqui até ao meu último dia.

 

A União de Freguesias de Pedroso e Seixezelo aposta em eventos detentores de um grande impacto social, como é o caso do Festival da Cereja e da Festa do Caneco. De que forma proporcionam momentos de divulgação do território e do concelho?

O Festival da Cereja já existia, nós apenas tentámos melhorá-lo, porque ele decorria num formato muito amador, digamos assim, num terreno e com tendas sem condições, mas, fruto da maior capacidade da União de Freguesias, em detrimento da capacidade da freguesia de Seixezelo, no passado, conseguimos melhorar. Mudamos o recinto para um espaço que pertence à Junta de Freguesia, na Escola das Corgas, criámos umas estruturas com maior dignidade e eu penso que, este ano, mudámos a filosofia do festival, ao nível da estrutura da tenda e, para mim, desde que estou na Junta de Freguesia esta foi a melhor edição, a todos os níveis. Na reunião que realizámos depois do evento, a opinião foi praticamente unânime, apenas uma barraquinha manifestou que preferia a solução antiga, todas as outras afirmaram que preferiam esta solução, que se irá manter para o ano, porque correu muito bem. Em Seixezelo, não há grandes coletividades, pelo que estamos a falar de um festival em que são particulares que estão nas barraquinhas, mas sendo uma festa mais pequena, é um evento do qual as pessoas gostam muito, quer quem vai para uma barraca, quer quem visita, porque o ambiente é muito bom. Por outro lado, a Festa do Caneco ganhou uma dimensão muito grande, são seis dias de loucura completa, com o recinto completamente cheio, independentemente de quem está no palco a cantar. Ali, já existe um impacto social muito grande, porque tirando três ou quatro de áreas muito específicas, mais de 30 barraquinhas são das coletividades. Portanto, estamos a falar de uma festa onde as instituições conseguem a sua sustentabilidade para o ano. Ao mesmo tempo, não nego que a Festa do Caneco potenciou a freguesia, porque colegas meus da Maia e de Gondomar que vêm cá, porque ouvem na rádio ou veem a publicidade e procuram visitar a Festa do Caneco por aquilo que ela representa. Para o ano, a Festa do Caneco também será nos mesmos moldes deste ano, mas eu acho que as Juntas de Freguesia têm de perceber até onde podem organizar estes eventos. Eu acredito que nenhuma Junta é criada para organizar eventos, para isso existem empresas que tratam disso, mas devem potenciar a marca e o nome da freguesia, assim como devem olhar para isto como uma oportunidade para ajudarem as coletividades, mas sem pôr em causa a sua sustentabilidade financeira, isto é, devem criar mecanismos para que o impacto orçamental de uma festa seja praticamente diminuto, porque não podem pôr em causa a atividade da Junta de Freguesia.

 

Qual é a situação atual das coletividades do território?

Depois da Covid-19 e daqueles dois anos de terror que todos vivemos, houve aquela dúvida se as coletividades iriam conseguir reerguer-se. Contudo, na freguesia, felizmente, teve o impacto de terem estado fechadas durante aqueles dois anos, mas quando o país reabriu, as coletividades retomaram a sua atividade, por isso, eu acho que de uma forma global, as coletividades estão bem e mesmo aquelas que tradicionalmente tinham uma Direção com uma média de idades elevada, têm conseguido angariar juventude para os seus órgãos sociais, o que é sempre bom, mas ao nível da atividade, dinamismo, organização e um profissionalismo amador que é preciso, eu acho que as coletividades estão globalmente bem.

 

Com a desagregação à porta, quais são as suas perspetivas para o futuro tanto de Pedroso, como de Seixezelo?

Caso se confirme a desagregação, porque neste momento ainda há dúvidas, eu acho, tal como sempre defendi desde a primeira hora, que para Pedroso o impacto será perder 10% do seu orçamento, mas para Seixezelo será monstruoso, porque perderá 90% do seu orçamento. Por isso, eu acredito que Seixezelo, caso se confirme a desagregação, irá perder muito, não tenho dúvidas nenhumas disso, mas o tempo mostrará se estarei certo ou errado. Porém, estou certo de que perderá, porque basta partir do princípio de que antes da agregação Seixezelo tinha um presidente de Junta e um coveiro, por isso se alguém entende que uma Junta de Freguesia funciona assim, eu não entendo e com os projetos que, neste momento, a União de Freguesias tem, caso se confirme a desagregação, Seixezelo irá perder praticamente todos, não por incapacidade do futuro presidente, mas por incapacidade orçamental da freguesia.

 

Considerando que este é o seu último mandato, quem gostaria que desse continuidade ao seu trabalho? O que espera do próximo presidente de Junta?

Eu acho que, neste momento, o Partido Socialista, que é aquele que eu represento, tem muitos e bons elementos que poderiam, perfeitamente, desempenhar as funções de presidente de Junta, dando continuidade a este trabalho que foi desenvolvido desde 2013. Neste momento, não tenho na minha cabeça escolher uma pessoa, mas continuar a desenvolver o meu trabalho, afincadamente, até ao último dia. Contudo, eu gostaria, acima de tudo, que fosse uma pessoa séria e honesta, em primeiro lugar, e trabalhadora, porque, no fundo, não há patrão e se não for uma pessoa trabalhadora e dedicada, facilmente entra numa espiral de relaxamento que fará com a freguesia não evolua e, depois, acima de tudo, que perceba uma coisa, que quando há uma mudança de protagonistas, não se tem de mudar tudo, porque eu não mudei tudo quando cheguei aqui, mudei o que estava mal e mantive outras coisas, como o Festival da Cereja, a Colónia Balnear, o Passeio Sénior e o Torneio das Velhas Guardas. Eu acredito que é um sinal de inteligência, habilidade política e perspicácia quando se olha para um projeto e consegue perceber que, se faz sentido, se funciona há vários anos e se as pessoas aderem, deve ter continuidade, claro que, depois, pode colocar o projeto à sua imagem ou criar um novo projeto, se calhar até eliminar um e criar outro, mas acima de tudo que não tenha aquela necessidade, independentemente do partido da pessoa que vier, de eliminar tudo o que está para trás e fazer tudo diferente, porque isso não vai correr bem, aliás, basta comparar o que fazemos aqui com outras freguesias do país para perceber que nós temos um volume de projetos e de interligações com a comunidade muito forte, o que é excelente, portanto manter isso é um enorme ganho. Quando se vem para uma Junta de Freguesia em que quem sai deixa dívidas e uma inércia muito grande, se calhar numa semana dá nas vistas, e se calhar foi fácil dar nas vistas e depois ter os resultados que tive, porque a freguesia estava mesmo a descambar. Agora, quem vem a seguir a quem, aparentemente, tem um trabalho consolidado, não é tão fácil dar nas vistas, mas é mais fácil o seu dia a dia, por isso, a pessoa tem de ter inteligência e habilidade política para isso.

 

A pensar no futuro, quais são os seus anseios tanto a nível pessoal como político-partidário?

A nível pessoal, que tenha saúde e algum dinheiro no bolso, para poder continuar a viver a minha vida. A nível político, o meu projeto sempre foi Pedroso e Seixezelo, por isso, quando me candidatei em 2013, o meu objetivo era estar aqui os três mandatos, fazendo os 12 anos. Não vou negar que a política me fascina, que gosto, que poderei ter algum jeito para isto também, mas não tenho expectativas. Eu acredito que, como tudo na vida, temos de dar o nosso melhor no dia a dia e, dando o nosso melhor, aparecem seguramente mais oportunidades do que se não dermos. Se surgir alguma oportunidade, depois compete-me a mim aceitá-la ou não e seguir. Por isso, não nego que gosto da política, não nego que gosto da cidade, nunca neguei e já o admiti em entrevistas anteriores, mas não tenho nenhuma obsessão na minha vida, muito menos com a parte da política.

 

Quais são os seus maiores sonhos?

O meu sonho é viver o meu dia a dia com saúde, junto de quem eu gosto e de quem me quer bem e fazer aquilo que gosto. Felizmente, ao longo da minha vida tenho sempre, profissionalmente, feito aquilo que gosto, quer na política, quer fora da política, porque farei, em dezembro, 25 anos de casa na empresa onde trabalho, onde sempre fui muito feliz e é lá o meu porto de abrigo profissional, apesar das outras atividades que também tenho. Contudo, não há nada que eu diga que me falta fazer. Costuma-se dizer que um homem para ser completo tem de fazer um filho, plantar uma árvore e escrever um livro. Eu filhos já fiz dois, já plantei muitas árvores, logo só me falta escrever o livro, mas também não é um sonho que eu tenha, por isso, muito honestamente, não consigo mencionar nenhum sonho.

 

Qual é a mensagem que gostaria de transmitir?

Eu acho que nós temos uma tentação fácil de criticar tudo e hoje é muito fácil nós dizermos mal de tudo. A meu ver, devemos criticar, sim, mas de uma forma construtiva, não de uma forma destrutiva, apenas por dizer. Eu vejo a sociedade a embarcar nesse caminho e isso deixa-me muito preocupado, porque leva a que as pessoas que têm algum valor e carisma para o desempenho de algumas funções percam o interesse, o que faz com que esses lugares comecem a ficar preenchidos pelos piores e quando os piores vão para esses lugares, é mau. Eu acho que não devemos cair naquele discurso fácil de que está tudo mal e de que temos de mudar, mas sim analisar caso a caso e identificar, corrigir e melhorar o que está mal, pois temos muitíssimas coisas boas em todas as áreas do nosso país e assim irá continuar. O discurso fácil leva a populismos e nós temos exemplos de onde é que isso, depois, nos leva, enquanto sociedade. Eu tenho a sorte de conhecer muitos países, quer em trabalho, quer de férias e eu ainda não consegui ver, muito sinceramente, nenhum país para se viver melhor do que o nosso, que mesmo com as imperfeições que tem e com os vários casos e casinhos que, diariamente, vamos assistindo, eu acho que nós devemos acreditar nas pessoas. Eu acredito que compete a cada um de nós darmos o nosso melhor, naquilo que fazemos, pois devemos fazer a nossa parte.