A Língua Portuguesa percorre, ocasionalmente, árduos caminhos misteriosos e, sem aviso prévio ou sem qualquer explicação etimológica, novos e inovadores sinónimos são criados, vocábulos que escapam ao crivo atento de pensadores, teorizadores e Velhos do Restelo. Fringe é, pois, sinónimo de Arte e o Arquipélago dos Açores estaria bastante mais esvaziado de cultura, e de sentido, sem o Azores Fringe Festival, cujo diretor artístico é Terry Costa.
Este ano, o Festival, democrático por natureza, eclético e agregador, assinalou o seu início com o encontro de autores “Pedras Negras”, que decorreu na edénica ilha do Pico; ínsula que, de tão mágica ser, é fonte de inevitável inspiração. Passo a passo, cronometrados pela passagem do tempo que nas ilhas chega diferente, escritores oriundos de várias paragens do arquipélago, de Portugal continental e, até, do Canadá, foram chegando e foram, energicamente, colocando em marcha um fim de semana de partilha, de discussão, de contemplação e de criação.
Omnipresente, como a própria arte, a montanha impunha-se, imponente, e foram vários os momentos em que os autores dispuseram da oportunidade de partilhar experiências e inspirações, em atividades diversificadas e em contextos distintos, de que serão exemplo os piqueniques multiculturais, as palestras multilingues e os encontros sinergéticos entre distintas manifestações artísticas. Arte brotava de cada encosta, nascia em cada curva da estrada, aninhava-se nos nossos braços. Viveu-se Arte, entranhada nos poros, presente em explosões contínuas e constantes de criatividade. O Fringe potencia aquilo que cada um de nós, artistas, tem em si. Provoca-nos. Incita-nos. Completa-nos. E nem precisamos de falar a mesma língua. Compreendemo-nos.
No Fringe, o escritor narra o fotógrafo, o fotógrafo regista o pintor, o pintor grava o cantor, a música, a energia e a essência da própria vida. Existe espaço para o intérprete, para o blogger, para o músico, para o caricaturador, para o realizador, para o ator, e para tantas outras formas de criação e de expressão. E abraçam-se, todos, irmanados pelo mesmo ideal, pela mesma sede de aprender e pela mesma atitude de doação! É Amor.
O Fringe continuará, fisicamente, ao longo do mês de junho, apresentando atividades originais e abertas à comunidade. Hoje parto, de regresso à minha ilha, mas o espírito Fringe viaja comigo!
Pedro Paulo Câmara