“GOSTAVA DE PISAR TODOS OS PALCOS QUE POSSAM ESTAR AO NOSSO ALCANCE”

Em 2012, Luís Xavier criou FAT of the LAND, uma banda de originais que tenta cantar as experiências açorianas. Em entrevista ao AUDIÊNCIA, Luís falou sobre a música, os FAT of the LAND, próximos projetos e sonhos.

 

Como é que a música entrou na sua vida?

A música entrou muito cedo. Tinha 15 anos. Na freguesia da Ribeira Quente, começamos a ter aulas de violão para integrar o rancho folclórico da ilha de São Miguel. Procuramos, com aquela idade, tocar as músicas dos nosso ídolos e, mais tarde, com uma idade mais avançada e com maturidade na viola, começamos a fazer as nossas próprias músicas. Em 2012, já a viver na Ribeira Grande, decidi apostar nas minhas músicas. Gravei um conjunto de músicas sozinho, mostrei a uns amigos meus e formamos a banda, FAT of the LAND. Já são 6 anos. Temos que ultrapassar muitas barreiras com a música original na nossa ilha porque não é fácil chegar a um determinado sítio e conseguir. Mas nunca desisti. Melhoramos algumas coisas na imagem da banda. O nosso objetivo é apanhar a essência da música açoriana, das vivências açorianas e dar o nosso cunho pessoal num género de pop rock, e incluímos num tema ou noutro a viola da terra. A maior dificuldade é o cachet porque é difícil levar uma banda e originais a palco. Este ano foi um ano muito engraçado. Conseguimos estar em dois dos maiores festivais da ilha de São Miguel. Este ano tocamos para sensivelmente 10 mil pessoas. Se calhar, 70% dessas pessoas nunca tinha ouvido falar de nós e a reação foi incrível. As pessoas já têm algumas músicas nossas que gravamos no nosso mini estúdio que temos em casa. Agora, algumas portas vão-se abrindo para fora da ilha, mas nada em concreto por causa do obstáculo do mar. Estamos a trabalhar para isso, cada vez com mais força. Neste momento, estamos a agravar um tema, que está praticamente pronto, mas, desta vez, não vamos fazer um videoclip, vamos usar imagens de amigos nossos de atividade que se fazem cá. A gravação da música é feita com os nossos recursos. Temos que ser nós a gravar e a mixar e isso tudo atrasa um bocado o resultado final mas vamos fazendo devagar a nossa música.

 

Quem compõe os FAT of the Land?

Eu, Luís Xavier, na voz e na guitarra acústica. Na guitarra elétrica, o Marco Santos, no baixo, o Bruno Carvalho, e, na bateria, o João Paquete. A letra e a base das músicas, sou eu que faço mas pode sofrer alterações consoante a opinião dos outros elementos.

 

Portanto, todos os elementos do grupo têm conhecimentos suficientes para produzir um bom produto final?

Eu tenho a noção de que sou o mais limitado a banda. Tenho essa consciência. Não me considero um cantor. Gosto de cantar. Há grandes bandas que não têm grandes vocalistas mas têm grandes homens à frente da banda. É preciso ter energia suficiente para passar a mensagem às pessoas.

 

Referiu a presença nos dois mais importantes festivais, o que sentiu quando estava no palco a tocar para aquela molde humana?

Estivemos no festival da Povoação, que eu já tinha pisado com bandas de covers há muitos anos atrás, e, este ano, para além daquela audiência, foi um prazer estar lá a apresentar. Estivemos também na festa do Chicharro e, para mim e para a banda, foi o grande momento da nossa curta carreira porque é um dos festivais mais antigos que conseguiu sobreviver na ilha. Muita gente perguntava-me quando é que ia à festa do Chicharro, e eu nunca impinge nada a ninguém. Aparecer nos grandes palcos é sinónimo que estamos a fazer um trabalho bem feito. Fomos lá sem favores. Fomos convidados e agradecemos imenso à organização. Agora, quando subi àquele palco, senti o peso da responsabilidade. A reação das pessoas foi incrível e é claro que mexe connosco. No início do concerto, senti-me frágil fisicamente, e à medida que o concerto ia continuando, uma pessoa liberta-se. Naqueles momentos passa tudo tão rápido. Saí do palco com imenso feedback de pessoas que não conhecia de lado nenhum e nunca tinha sido abordado daquela forma. Foi incrível!

 

Os componentes da banda vivem só da música?

Nenhum de nós vive só da música. Vivemos do nosso trabalho. Já estou há 6 anos e o que ganhei da música não dá para pagar a minha guitarra. Faço isto por gosto, não me canso mas as vezes cansa, porque tentamos bater às portas para divulgação e fecham a porta a quem querem. Nós se lutarmos pela divulgação do nosso trabalho, às vezes, rompe com as pessoas. Tive que ter mais cuidado nesse aspeto, porque temos que ser politicamente corretos, hoje em dia. Quando alguém comunica com alguém com a intenção de obter uma resposta, mesmo que seja negativa, o mínimo que se exige é uma resposta.

Quando foi a altura da Gala do AUDIÊNCIA, eu sei que nessa altura até a própria RTP e RDP estavam a passar alguns temas. Foi passageiro?

Não.A RTP Açores, o Sidónio Bettencourt tem nos apoiado de uma forma incrível e até no tema “Pescadores de Sonho”, pediram-me autorização para passar e eu nem entrei em contacto com eles. Quando eu disse que havia agentes que não olhavam para todos de forma igual, esqueci-me de dizer que há muitos outros que ligam. Tenho que a agradecer a muitas rádios, como a Rádio Nova Cidade,a 105fm,o Canal fm, e a Antena 1 Açores. Também tive outros blogs online que aceitaram divulgar a nossa música. Algumas pessoas do continente chegaram a nós nem eu a saber como. Nós não estamos aqui a obrigar ninguém. Eu acho que estamos a fazer um trabalho que podia ter mais qualidade a nível técnico mas não temos verbas. Gostava de dar o passo a seguir e, se calhar, um dia vamos dar. Não impingindo nada a ninguém, mas toda a ajuda é bem vinda.

 

Quando tem na sua terra o festival de Monte Verde e tem uma banda com as dificuldades que tem, acha que se considera incapaz de pisar um palco desses?

Eu não me considero incapaz de pisar aquele palco porque já pisamos vários palcos. Há-de chegar o dia, quem sabe. Estamos preparados para qualquer palco. Agora, se as pessoas estiverem preparadas para nós, nós estamos aqui.

 

E acha que o público está preparado?

Atualmente, nós temos um repertório transversal. Em 2013/2014 tínhamos um repertório ainda indefinido mas, agora, a nossa música está a ser mais abrangente porque quer os mais jovens quer as pessoas mais velhas identificam-se com a nossa música. Não temos o objetivo de tocar para o público A, B ou C. Fazemos aquilo que gostamos e temos nos apercebido que tem chegado a pessoas de diferentes idades.

 

Quais são os temas que mais o cativaram depois de compostos?

O tema que mais me diz chama-se “Raízes”. É um tema de introspeção e foi composto logo a seguir ao festival Povoação. Ainda não está gravado, mas será lançado no início de 2019. Vamos lançar brevemente “ A bruma” para quem é dos Açores sabe. É um tema dançante e alegre.

 

Projetos para o futuro dos FAT of the LAND?

Vamos lançar até ao final do “A bruma.” Temos desenvolvido contactos no sentido de poder tocar fora da ilha. o objetivo nosso é tocar fora da ilha. Não posso deixar também de falar no trabalho que tem feito o Terry costa da Mirateca na promoção das bandas. Tentamos traçar linhas, traçar palcos mas eu não gosto de bater às portas. Não quero aparecer num determinado palco por imposição. O nosso lema é fazer o nosso trabalho o melhor possível.

 

A Ribeira Grande pode oferecer mais?

A Ribeira Grande até me tem dado concertos. Às vezes, precisamos de apoios financeiros e temos uma barreira e não há apoios para bandas.

 

Qual a mensagem que quer deixar aos leitores do Grande Porto?

Que os FAT of the Land são uma banda de originais, não cantamos em inglês e queremos ver as pessoas felizes.

 

Qual é o sonho do Luís Xavier?

O que eu gosta mais na música é o prazer que me dá e saber que as pessoas estão a gostar daquilo que nós fazemos. Gostava de pisar todos os palcos que possam estar ao nosso alcance. Mas não quero definir nada. Sou muito terra a terra e tenho os pés bem assentes no chão.