João Soares é um homem de todos os ofícios, que ajudou a população da freguesia do Pico da Pedra. Tem 40 anos, é natural do Pico da Pedra e exerce, há 8 anos, a função de presidente da Junta de Freguesia do Pico da Pedra.
Contudo, antes de ser presidente foi, aos 24 anos, secretário da Junta e, posteriormente, membro da Assembleia de Freguesia. João Soares descreve-se como sendo um “filho da terra” que ama a freguesia onde nasceu.
Senhor presidente, está a chegar ao fim de mais um mandato, aliás do segundo consecutivo que leva à frente do destino desta freguesia. Como é que se sente?
O presidente da junta é um homem de todos os ofícios que se dedica muito à população e se quisermos ser um presidente ativo isso implica dedicarmos 80% das nossas 24 horas diárias não só à sede como à freguesia no seu todo. Mas agora está na altura de parar um bocadinho. Vou parar durante quatro anos, não só para dar uma oportunidade à juventude de entrar, mas também porque há outros objetivos profissionais e pessoais aos quais também tenho de me dedicar, como a licenciatura que tenho para terminar.
Sente-se arrependido do tempo que deu ao Pico da Pedra?
Eu gostei, aliás nunca me arrependi do tempo que me dediquei ao Pico da Pedra. Quando entrei aos 24 anos de idade, nunca pensei como seria, mas ao fim de 16 anos vividos aqui na junta de freguesia sei que amo a freguesia. Isto é algo que nem todos os presidentes sentem. Apaixonei-me pela minha freguesia do Pico da Pedra e é isso o que um presidente da junta deve sentir, pois deve amar a freguesia e não possuir apenas interesse em ocupar um determinado lugar por um determinado partido. Eu nasci aqui, a minha freguesia é esta e nós temos de a amar, pois é esse o caminho para o sucesso da freguesia. Não estou nada arrependido e nunca me arrependo, porque para mim foi uma honra ter passado por aqui.
Apesar de a Ribeira Grande ser um dos concelhos mais jovens do país não é muito fácil angariar jovens com 24 anos, por exemplo, pois foi a idade com que o senhor entrou para a política em termos autárquicos, nem sensibilizar os jovens para isso, porquê?
Não é fácil porque os jovens estão cada vez mais afastados da política. Os políticos e a política possuem a imagem de que é tudo monótono e os jovens querem tudo ativo, querem que seja tudo renovado. Podemos pensar na Câmara Municipal e no Governo para atrair os jovens, pois hoje em dia temos de ser dinâmicos e inovadores. Nós temos de inovar todos os anos porque a própria juventude e a própria população já exige isso da Junta de Freguesia e da Câmara. Nós temos de dar a oportunidade aos jovens para eles se envolverem. Eu consegui ter jovens na minha lista que fizeram parte da minha equipa durante os meus dois mandatos como presidente e consegui ter jovens a fazer parte dos trabalhos que desenvolvi na freguesia. Eu acho que temos de ser nós a convidar os jovens, não podemos ficar à espera que eles nos venham bater à porta pois temos de tomar a iniciativa e ir ter com eles. É preciso encaminhar a juventude e dar-lhe ideias, contudo, quando os jovens dão sugestões é preciso saber aceitá-las e trabalhá-las, porque quando a juventude vê uma ideia sua a ir para a frente é meio caminho andado para eles se sentirem concretizados. Os jovens precisam de se sentir realizados e nós temos de trabalhar nesse sentido.
Aos 24 anos, João Soares entrou para estas frentes autárquicas. Aos 24 anos tinha sonhos, aos 40 disse que tem. O mundo que acabou por encontrar, quer na assembleia de freguesia quer depois no executivo e nas relações entre poderes, desiludiram-no ou fizeram-no sentir-se mais confiante?
Aos 24 anos quando entrei para a política não tinha a mesma forma de pensar que tenho agora. Quando entrei para a Junta de Freguesia entrei na desportiva, porque sempre gostei da freguesia por isso aceitei o desafio para ver no que ia dar. Ao fim destes anos todos posso dizer que esta passagem foi esplêndida para mim e que aprendi muito. Eu faço muitos atendimentos na junta do Pico da Pedra e a população procura-me não para pedir objetos materiais mas para pedir conselhos e opiniões e isso para mim é uma honra. O povo procura-me para desabafar e para conversar sobre os seus problemas familiares e profissionais e isso para mim é uma honra. A população confia em mim e eu, como presidente da junta, tenho uma grande responsabilidade. A responsabilidade que eu transmito foi conquistada ao longo destes anos. Ter 24 anos é diferente de ter 40 e foi com o tempo que eu fui conquistando a tal responsabilidade, o tal conhecimento, o tal amor à freguesia e a tal visão das coisas. Para mim é tudo isto que fica marcado.
Que meios possui a junta de freguesia para ocorrer às carências e às necessidades da população? Pergunto-lhe também se são suficientes e pergunto-lhe também se não forem suficientes o que falta?
Todos os apoios nunca são suficientes, falta sempre alguma coisa. Uma pessoa sendo independente às vezes ajuda a freguesia. Eu dou a cara pelo PSD mas não me arrependo. Existem muitos problemas sociais, alguns deles ligados à toxicodependência, e habitacionais no Pico da Pedra, tal como noutras freguesias, mas a Junta de Freguesia não os resolve, a Junta trabalha no sentido de os resolver e é através do Governo que vamos conseguindo ajuda para resolver os problemas sociais e de emprego. Nos últimos 8 anos que exerci a função de presidente da junta fizemos uma coisa que eu considero um êxito e que nós trabalhos muito nisso que foi investir na mão-de-obra. É importante ir buscar as pessoas que estão desempregadas para fazerem parte dos programas de emprego. Nos anos que aqui estive já me passaram cerca de 300 pessoas no âmbito destes programas de emprego. Sempre concorri a todos os programas possíveis e imaginários com o objetivo de ajudar as famílias, isso é algo que sempre fiz e consegui ajudar.
Eu nunca faço promessas porque um político não deve fazer promessas, na medida em que é algo que não depende de nós, por isso não devemos prometer mas sim dizer que vamos sugerir e trabalhar nesse sentido. Contudo eu fiz uma promessa há 8 anos atrás que foi relacionada com o transporte de crianças, porque era algo que faltava na freguesia. Eu cumpri o que prometi, mas sabia que a junta tinha de trabalhar, e durante 8 anos consecutivos fizemos o transporte das crianças para a escola. Nós também criamos um projeto pioneiro no Pico da Pedra em parceria com o Diretor Regional com o objetivo de ajudar os idosos. Mas é importante referir que as habitações da freguesia possuem problemas sérios que precisam de uma aposta muito séria do governo regional em parceria com a Câmara.
A nossa freguesia é uma freguesia com programas e é uma freguesia muito desenvolvida em comparação com as outras, nós temos infraestruturas novas como o Lar de Idosos, a Casa do Povo e prestamos serviços aqui na freguesia que nenhuma outra freguesia tem e a realidade é essa, é por isso é que a população aumenta e é por isso que muitas pessoas vêm morar para cá.
Em 16 anos, quantas vezes foi aliciado pelo Governo Regional para mudar de lista?
Já fui aliciado pelo Governo Regional e por outras Câmaras. Já me disseram que se mudasse que as coisas podiam ser diferentes para o Pico da Pedra. Mas temos de pensar em questões éticas e como sou uma pessoa séria preferi seguir o meu caminho. O PSD foi-me buscar quando eu tinha 24 anos de idade para pertencer a um executivo. Eu penso, se o PSD viu o meu potencial, porque é que na altura os outros partidos não fizeram o mesmo. Por isso nunca aceitei.
O facto de Pico da Pedra fazer fronteira com Rabo de Peixe tem alguma influência no desenvolvimento e nas características da sua freguesia? Há pouco referiu que um dos flagelos que atinge o Pico da Pedra é a droga e a toxicodependência, isso tem alguma coisa a ver com a localização geográfica da freguesia ou a boa relação quer com Rabo de Peixe quer com Calhetas é uma realidade.
Não temos nenhum problema com as freguesias vizinhas. Eu acho que cada freguesia tem a sua maneira de viver e tem o um ADN próprio e o Pico da Pedra sempre teve o seu ADN, por isso não é por estar ligado às Calhetas ou estar ligado a Rabo de Peixe que vai mudar o seu ADN. Em termos de problemas de toxicodependência é importante referir que é um problema presente em todas as freguesias. O presidente de junta deve trabalhar, não necessariamente a níveis práticos, com a PSP, com o centro de saúde e com a ação social que é o que temos feito. O presidente da junta deve fazer isso e esta interligação. Uma freguesia para ser desenvolvida tem de ser o elo de ligação e deve assegurar a união entre todas as instituições.
Quando se dirige aos poderes hierárquicos, no poder autárquico nomeadamente na Câmara Municipal e no Governo Regional encontra orelhas moucas ou são bons ouvintes e executantes?
Em termos de Câmara Municipal este executivo encabeçado por Alexandre Gaudêncio tem feito um trabalho excelente e tem apoiado muito a freguesia. Já se sabe que pedimos mais do que aquilo que nos dão, a realidade é essa, mas a Câmara tenta arranjar uma solução para o que é pedido e tem havido uma boa parceria por parte da autarquia para connosco e isso vê-se. Antes eu não tinha esse apoio. No que respeita o Governo Regional sinto um pouco de retração da parte do mesmo em termos de apoio. O que eu vejo e que está mal é em termos de distribuição das verbas pelas freguesias, porque parece que estas são distribuídas, pelo Governo Regional, apenas para determinadas freguesias tendo em consideração as cores do seu presidente.
A freguesia do Pico da Pedra tem sido alvo de grande destaque nas notícias nomeadamente pelas iniciativas ou pelos acontecimentos que aqui se têm verificado, um último dos quais foi o Parque Maria das Mercês Carreiro que orgulha a freguesia do Pico da Pedra, fale-me sobre objetivo que foi alcançado.
O parque recreativo que foi criado em frente à escola foi um auge assim como um trabalho diferente que a freguesia realizou em termos ambientais e de espaços vocacionados para o convívio e descontração. O parque Maria das Mercês Carreiro é sem dúvida um espaço diferente. A Câmara, a Junta de Freguesia e a própria população do Pico da Pedra devem esse espaço à família Carreiro, nomeadamente ao professor José Carreiro de Almeida e às suas irmãs Susana e Luísa, que já tinham doado um espaço para que pudesse ser feito o Lar do Pico da Pedra e doaram também aquele espaço com o intuito de ser dedicado às crianças e de homenagear memória da mãe Maria das Mercês Carreiro. Nós não tínhamos meios mas a câmara fez um trabalho esplêndido na construção do parque, portanto agradeço tanto à Câmara como à família Carreiro.
Como é que deixa o Pico da Pedra em termos de infraestruturas sociais?
O Pico da Pedra tem 3500 habitantes e é uma freguesia que está bem equipada com infraestruturas sociais como um Lar de Idosos equipado para 42 camas, a Casa do Povo do Pico da Pedra com um Centro de Dia e um Centro de Convívio para os idosos, a creche, o CATL da Casa do Povo, o CATL da Escola Primária e a Escola Primária. A freguesia tem também muitas instituições ativas como a Filarmónica Aliança dos Prazeres, a Associação Cultural Recreativa Desportiva Pico da Pedra, o Vitória Clube Pico da Pedra, temos os grupos sediados na freguesia, como os grupos religiosos, o grupo coral, os escuteiros do Pico da Pedra. O Pico da Pedra tem dois jardins, o da Casa do Povo e o das Mercês, e muitos equipamentos que muitas freguesias gostavam de ter, mas é preciso sempre mais e as precisam de mais. O Pico da Pedra é uma das melhores freguesias para viver.
Recentemente houve a inauguração dos balneários do campo de futebol José da Silva Calisto.
A Junta de Freguesia tenta trabalhar em várias áreas e os balneários já tinham sido pedidos pelo Clube de Futebol Vitória Clube Pico da Pedra. O campo de jogos José da Silva Calisto não possuía balneários próprios. Nós conseguimos concretizar o pedido e os balneários foram inaugurados no dia 17 de julho, no dia a seguir ao Dia do Pico da Pedra. Os balneários são mais um equipamento que dá força à nossa freguesia e que motiva os atletas dos mais diversos escalões que o Vitória Clube possui. Um clube desportivo como o Vitória Clube Pico da Pedra tendo o campo de futebol e os balneários preparados pode pensar em alcançar outros sonhos, a realidade é essa, não pode é deixar de apostar nos mais diferentes escalões.
Senhor Presidente, para além do desporto e das camadas de formação do Vitória, que infraestruturas infantojuvenis a freguesia tem para a sua população?
O Pico da Pedra tem equipamentos para direcionados para os jovens, como a creche com cerca de 30 crianças que está incorporada na Casa do Povo Pico da Pedra, o CATL da Casa do Povo para 60 crianças, o CATL da escola primária para cerca de 25 crianças e os escuteiros.
Há um evento que é marcante nesta freguesia e que é alvo de notícia a nível nacional que é o Carnaval do Pico da Pedra.
O Corso de Carnaval já se realiza há cerca de 40 anos, no mês de fevereiro. Este Corso, que é organizado pela instituição Casa do Povo Pico da Pedra, atrai milhares de pessoas à freguesia e é considerado um marco no Carnaval de São Miguel.
A importância da Casa do Povo Pico da Pedra é significativa na freguesia.
A casa do Povo Pico da Pedra é uma instituição muito ativa e uma instituição muito grande que envolve várias áreas. No que respeita a parte cultural o que a Casa do Povo organiza, entre outros eventos, o Corso Carnavalesco e o Campeonato de Fut 5.
Com que é que as instituições podem contar da Junta de Freguesia do Pico da Pedra?
A tarefa e o trabalho da Junta de Freguesia passa, como já disse anteriormente, por fazer a ligação entre as várias instituições assim como por manter as tradições da freguesia. O Pico da Pedra é umas das freguesias que possui muitas instituições ativas. Como tal, o papel da junta é fazer o elo de ligação entre todas as instituições porque se houver uma ligação entre as instituições e a Junta, o desenvolvimento da freguesia é muito o maior. Temos de trabalhar todos em equipa.
De uma forma sucinta o que é que leva atravessado na garganta, se é que leva alguma coisa, e o que é que lhe deu mais gozo fazer?
Como presidente da Junta há coisas que eu levo na garganta mas também há coisas que me orgulham e que me fazem sentir orgulho por ter passado por aqui.
Nunca sentiu nenhuma injustiça ao longo destes 16 anos de atividade autárquica?
Há sempre injustiças. O que me fortalece é sair e pensar que saio feliz, porque tenho consciência de que tentei e de que consegui ajudar as pessoas. Fiz o que tinha a fazer e vou continuar a ajudar no que estiver ao meu alcance. O objetivo é esse, ajudar o máximo que se pode e ajudar as famílias. Passamos de há 7 anos para cá um tempo crítico, um tempo de falta de emprego e de muitos problemas sociais, e nós tentamos ajudar as famílias que passaram dificuldades. Tentei ajudar e saio de consciência tranquila porque fiz o que tinha a fazer, claro que há mais coisas para serem feitas e é preciso trabalhar nesse sentido. O meu mandato acaba agora no final de setembro, e vão entrar outras pessoas que vão dar seguimento ou não à tarefa que aqui foi feita nos últimos 8 anos.
O que é que espera do seu sucessor ou sucessora que vai estar à frente dos destinos da freguesia do Pico da Pedra.
Espero que o próximo sucessor ou sucessora continue com o trabalho que nós fizemos, que passou por desenvolver a nossa freguesia, tanto em termos culturais como em termos sociais, habitacionais e nas mais diversas áreas. Espero que quem venha a seguir chegue com o espírito de continuar a desenvolver a freguesia e com uma coisa principal que eu disse no início da nossa entrevista, isto é, que venha disponível para Amar o Pico da Pedra.