Miguel Torgo tomou posse da direção do Grupo Dramático de Vilar do Paraíso no passado dia 29 de setembro, com o objetivo de continuar o legado, de fazer renascer o teatro amador e de manter o Dramático a funcionar.
O presidente da coletividade salientou, em entrevista ao AUDIÊNCIA, a importância do movimento associativo e os projetos que pretende incrementar.
Qual é a história do Grupo Dramático de Vilar do Paraíso e da sua envolvência nesta instituição?
Esta coletividade nasceu há 97 anos e foi fundada por um grupo de jovens que, através de um ato de beneficência em prol de um amigo que tinha perdido um braço, decidiram realizar um espetáculo de teatro, com o intuito de angariarem fundos para conseguirem colocar uma prótese no braço do jovem. E foi assim que nasceu o Grupo Dramático e Beneficente de Vilar do Paraíso, que anos mais tarde passou a ser Grupo Dramático de Vilar do Paraíso. No que respeita a minha história nesta coletividade, ela começou em 2006, quando me convidaram para fazer parte das marchas. Posteriormente, comecei a inserir-me nas atividades da coletividade, entrei para o teatro e tornei-me sócio do Grupo Dramático de Vilar do Paraíso.
O Miguel Torgo é o novo presidente da direção desta coletividade. O que mudou desde a sua chegada?
A direção anterior do Dramático de Vilar do Paraíso terminou as suas funções no final do mês de dezembro do ano transato e, a partir dessa data, estivemos ao longo de várias assembleias a tentar que alguém apresentasse uma lista para seguir com os destinos da coletividade. Todavia, tal não aconteceu e entretanto surgiram outras dificuldades ao nível da gestão da antiga direção e fomos obrigados a criar uma comissão administrativa, que seria para três meses, mas que esteve cá durante 9 meses e durante este período, o Grupo Dramático de Vilar do Paraíso esteve em funcionamento, não com todas as atividades que poderiam ser desenvolvidas, mas esteve com as essenciais. Eu posso dizer-lhe que estava difícil arranjar 13 elementos que quisessem constituir os órgãos e, neste seguimento, eu tomei a decisão, juntamente com mais 12 elementos, de me candidatar à direção. Eu, principalmente, antes de ser eleito disse que se entrasse para a direção do Grupo Dramático seria para fazer mudanças, porque se fosse para fazer aquilo que já estava a ser feito eu não entrava. Eu não quero com isto dizer que estava a ser mal feito, mas a coletividade não desenvolvia e nós pretendemos que ela realmente desenvolva e que não seja apenas para os sócios, mas sim para todos aqueles que nos queiram visitar. Eu sou um dos elementos mais novos da direção e nós pretendemos inserir pelo menos um jovem em cada órgão, para que os outros possam ver que realmente é possível, para que fiquem entusiasmados e para que se interessem pelo associativismo. Nós temos dois meses de mandato e já organizamos diversas atividades tais como um Encontro de Música Popular Portuguesa e uma Noite de Halloween, porque também é nosso objetivo chamar os jovens para a coletividade e, neste sentido, temos de realizar atividades para os mais jovens e para as pessoas mais velhas, daí nós tentarmos adaptar as atividades a estes públicos.
Quais são os objetivos desta coletividade?
Os nossos objetivos passam por promover a cultura, promover o associativismo e, neste momento, alargar a coletividade não só aos sócios, mas também à comunidade em geral, porque estamos a sentir várias dificuldades na aquisição de sócios e em termos o movimento que pretendíamos, o que condiciona as atividades que desejávamos realizar.
O Grupo Dramático de Vilar do Paraíso tem quantos sócios neste momento?
Neste momento nós temos cerca de 235 sócios.
Quais são as principais atividades desta instituição?
O teatro é a nossa principal atividade, embora, neste momento, esteja estagnado, mas pretendemos retomá-lo no início do próximo ano, pelo que, neste momento, a atividade que temos a decorrer com mais regularidade é proporcionada por um grupo de música popular portuguesa, para além das outras iniciativas que vamos realizando.
Quais são os projetos e ambições que tem em mente para o Grupo Dramático de Vilar do Paraíso?
Nós temos alguns segredos que não podem ser revelados, mas pretendemos, como eu referi anteriormente, reativar o teatro amador no início do próximo ano. Nós realizamos, todos os anos, um Encontro de Teatro Amador, com a duração de três meses, mais especificamente em setembro, outubro e novembro, mas este ano não foi possível fazê-lo, porque tomamos posse no passado dia 29 de setembro e não tínhamos tempo para contactar os grupos, nem tínhamos peça para apresentar, porque a tradição é que a coletividade apresente o último espetáculo e que este seja uma estreia, pelo que, como não tínhamos peça decidimos não realizar o encontro este ano, para que, no próximo ano, em 2019, o possamos fazer com qualidade e com uma peça da casa. Nós, neste momento, também estamos focados nos nossos associados, porque temos uns sócios que pagam e outos que não pagam e pretendemos chegar até eles para perceber o que é que eles desejam, isto é, se querem continuar, se existe alguma dificuldade ou não em realizar os pagamentos, porque se for esse o caso nós também estamos cá para os ouvir e para tentar ajustar a melhor maneira. Outra das nossas ambições é contribuir para a evolução do Grupo de Música Tradicional Portuguesa e criar, sobretudo, atividades para os jovens, para que estes queiram vir à coletividade e a transformem num ponto de encontro.
Esta instituição celebrou 97 anos de existência, no passado dia 5 de novembro, o que representa e o que assinala este aniversário?
Este aniversário assinala, sobretudo, uma grande união e representa o trabalho que muitas mulheres e muitos homens realizam ao longo de 97 anos, com vista a dar continuidade ao Grupo Dramático de Vilar do Paraíso. Eu posso dizer-lhe que as dificuldades são muitas, mas nós tentamos sempre combatê-las, para não permitirmos que elas sejam um obstáculo. Todavia estes 97 anos representam mesmo isso, o trabalho e a dedicação em prol do associativismo, em prol da cultura e do recreio, assim como o amor à casa e o amor à coletividade. Estes 97 anos foram celebrados ao longo do mês de novembro e de uma forma diferente comparativamente aos anos anteriores, se calhar não foi como nós desejávamos, mas em dois meses não nos foi possível fazer mais. Nós começamos com música, mais especificamente com os NUME, que é um grupo que canta os grandes Poetas da Literatura Portuguesa, no dia do aniversário tivemos o hastear das bandeiras, que contou com a presença da Junta de Freguesia de Mafamude e Vilar do Paraíso e da Federação das Coletividades de Vila Nova de Gaia, e fizemos um ato simbólico, que para nós foi muito importante, porque era o dia do nosso aniversário e não quisemos deixar passar essa data em branco. Posteriormente, tivemos a nossa sessão solene, que contou com a comparência da Câmara Municipal de Gaia, do executivo da União de Freguesias de Mafamude e Vilar do Paraíso, da Federação das Coletividades do Distrito do Porto e de coletividades locais e, no dia seguinte, tivemos a Missa, que foi realizada na Igreja Matriz de Vilar do Paraíso e que foi seguida da Romagem ao Cemitério, para homenagear os sócios falecidos, porque é por causa deles que nós aqui estamos. No dia 24 tivemos teatro, que é aquilo que realmente a casa sabe fazer, mas infelizmente não foi com a prata da casa, no entanto foi bem representado pela Tuna Musical de Santa Marinha.
No que concerne os apoios, acha que aquilo que a Junta de Freguesia de Mafamude e Vilar do Paraíso e que a Câmara Municipal de Gaia dão ao Grupo Dramático é o suficiente ou acredita que podiam ir mais longe?
Ora bem, nós achamos sempre que não é o suficiente, mas nós também temos de nos colocar no lado da Junta de Freguesia e da Câmara Municipal. A Junta de Freguesia de Mafamude e Vilar do Paraíso tem mais de 100 instituições e tem de as apoiar a todas. Portanto, nós achamos que tanto a Junta como a Câmara têm estado à altura e têm feito de tudo para que o Dramático esteja ativo. Por exemplo, falando na Junta de Freguesia, nós celebramos o protocolo das marchas e do encontro de teatro, que acabou por não se realizar, mas o protocolo foi celebrado e foi dado um apoio. A Junta também está sempre presente quando nós precisamos, por exemplo, foi preciso um projetor para o concerto dos NUME e a Junta emprestou o projetor, foi precisa a limpeza do nosso espaço exterior e a Junta esteve presente e fez a limpeza, por isso não é só o dinheiro que conta, mas também estas pequenas coisas que fazem toda a diferença.
Quais são os sonhos e as perspetivas para o futuro da coletividade?
As nossas perspetivas passam por durar, pelo menos, mais 97 anos. No que respeita o futuro, nós esperamos que o Dramático volte a estar onde estava, isto é, no topo, com atividades para todas as faixas etárias. O Dramático daqui a 3 anos faz 100 anos e se eu não estiver na direção, estarei fora a colaborar com aqueles que estiverem cá, porque para trabalhar e para ajudar não é preciso estar na direção, pois se nós gostarmos mesmo da coletividade e do associativismo estamos presentes, independentemente de ter ou não um cargo de responsabilidade. No que concerne os sonhos, nós ambicionamos que esta sede um dia seja nossa, porque nós pagamos uma renda, à senhoria, no valor de 500 euros por mês, que apesar de não ser um valor avultado considerando as nossas instalações, no final do mês, para nós que vivemos um bocadinho dos valores que os sócios vão dando, através do pagamento de quotas, e dos apoios da Junta de Freguesia e da Câmara, é muito dinheiro.
Acredita que a Junta de Freguesia de Mafamude e Vilar do Paraíso e que a Câmara Municipal de Gaia podiam contribuir, de alguma forma, para a concretização deste sonho?
Eu acredito que sim, embora seja difícil, porque o valor que estão a pedir é elevado. Todavia, eu acredito que seria mais fácil se todos ajudássemos e se o valor fosse repartido por todos, contudo, para isso, a coletividade tem que mostrar que o investimento vale a pena e tem de ter mais trabalho, tem de ter mais atividades e é isso o que pretendemos fazer.
BI:
Miguel Torgo tem 23 anos, é natural de Vilar do Paraíso e define-se como sendo “um jovem que gosta de cultura, que gosta do associativismo, que gosta de teatro e que declama poemas no 25 de Abril”. Em 2006, o presidente da direção do Grupo Dramático de Vilar do Paraíso começou a frequentar teatro na coletividade e, com o passar do tempo, fez parte de direções e de comissões recreativas.