Numa entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, Eduardo Matos, ex-autarca afuradense que volta agora, depois de 12 anos, a candidatar-se à Junta de Freguesia de S. Pedro da Afurada, deixa duras críticas ao atual executivo, que o sucedeu. “A minha opinião é muito clara, e espero estar enganado, mas acho que este presidente e atual executivo deixarão a situação financeira da Junta pior do que encontraram.” Afirmando que o rigor nos orçamentos para as Festas de S. Pedro da Afurada, a volta do Festival da Sardinha ou a construção de um Centro de Dia para os idosos são alguns dos principais objetivos, Eduardo Matos garante que a população pode esperar dele “trabalho, dedicação, muita proximidade e muita paixão”.
12 anos depois, o regresso. Porquê?
Pela Afurada, desde logo, por aquilo que se perdeu nestes 12 anos, fundamentalmente, pela proximidade que se perdeu e também por acreditar que eu, com a equipa que estou a constituir, posso facilmente ser diferente para melhor.
Que diferenças espera encontrar, para melhor ou para pior?
Diria que para pior, acho que sinceramente, e digo isto sem qualquer ironia, nunca imaginei que, passados 12 anos, a Afurada estivesse como está hoje. Ou seja, não consigo encontrar alguma melhoria naquilo que efetivamente a Afurada e os afuradenses estavam habituados. Exceto algumas coisas que esta União de Freguesias trouxe de diferente, mas são coisas muito pontuais, como os cabazes de Páscoa, de Natal, os brinquedos que se dá às escolas no Natal… exceto estas coisas pontuais, não consigo encontrar nada que possa ser melhor do que o que era. Tudo está pior.
O que é que a população pode esperar desta candidatura?
Pode esperar trabalho, dedicação, muita proximidade e muita paixão pelo que irei fazer e irei propor aos afuradenses.
O que anseia concretizar no primeiro mandato, caso vença as eleições?
Um centro de dia para os idosos, devemos ser das poucas ou talvez a única freguesia do município que não tem um centro de dia para os idosos, algo de grande importância para os dias de hoje. Também preocupar-me-ei muito pelo ordenamento a todos os níveis, nomeadamente no que diz respeito à Afurada de Baixo, ou o que a Afurada de baixo, antiga, o que ela hoje é sob do ponto de vista da realidade da restauração, a forma como cresceu e de que forma podemos olhar para isso no futuro. Tenho também em mente uma preocupação muito forte de por isso na ordem do dia, que se perdeu, como a proximidade, foi a Afurada enquanto freguesia e núcleo perdeu influência e peso junto da Câmara Municipal.
A propósito disso, S. Pedro da Afurada, há 12 anos, era conhecida como os olhos bonitos do Menezes. Prevendo-se o regresso de Luís Filipe Menezes às lutas eleitorais, qual o caderno de encargos para a freguesia que irá apresentar ao município?
Como disse, o Centro de Dia, uma acessibilidade ou um estudo de uma acessibilidade diferente do que a Afurada hoje tem à cota alta, nomeadamente o que fazer à Rua Abílio de Azevedo, famosa rua do semáforo que está completamente com os níveis de fluxo de transito brutais. A questão do ordenamento da freguesia com as pessoas e os restaurantes, de que forma podemos melhorar o espaço público. O estacionamento também é uma preocupação porque a Afurada hoje é um polo turístico de gaia fortíssimo, não só de Gaia mas da região, e há que pensar quais as alternativas, e não há muitas, e terá de passar sempre pelo município, mas há pelo menos uma que vai ser apontada por nós para minimizar a questão do estacionamento. A questão também muito importante que é a Afurada ainda tem um setor muito importante e queremos estar ao lado dele que é a pesca, reorganizar todo o cais de pesca, nomeadamente no que diz respeito a área que os pescadores têm e deve ser protegida e deve ser a parte que resta ordenada de forma diferente para que possamos rentabilizar mais este espaço e que a pesca possa conviver com ele e que as pessoas possam usufruir, sendo certo que, para nós, a pesca e os pescadores que dela vivem continuam a ser a nossa prioridade para criarmos condições para continuarem com a sua atividade. Eu acredito que passado 12 anos, o Dr. Menezes continua a ter um carinho pela Afurada, aliás, como tem por Gaia no geral e acredito que assim continuará.
A eventual nova ponte vai ter influências para o planeamento para a freguesia?
Sei que ela passa em território da Afurada, ficará no limite da fronteira entre a Afurada e Santa Marinha, mas não creio que seja por aí que se criem acessos. Estudar de alguma forma a circulação toda ela seja pela rua Abílio de Azevedo, seja pela rua de s pedro, seja pela rua do cavaco, que são as três alternativas que existem, de que forma se vai reorganizar esse transito passa mais por aí.
Que equipa vai querer reunir à sua volta para levar avante os objetivos?
Uma equipa, desde logo, em 85 a 90 por cento toda nova, pessoas que nunca tiveram envolvidas nestas lides. Depois, jovens, uns mais do que outros, mas todos, sem exceção, com alguma experiência em áreas que acredito que são fundamentais, seja a nível do ambiente, das acessibilidades, da mobilidade e já agora nessa questão, a rede de transportes também é muito importante para a Afurada. É preciso definitivamente regularizar os horários e fazer com que a entidade que está neste momento com a concessão, a Unir, que cumpra os horários porque diria que se perdeu muito do que era o passado para hoje. E de alguma forma, como já foi noticia, colocarmos na ordem do dia, com o apoio do município, que tenho a certeza que teremos, com o apoio do município do Porto, porque foi o Dr. Rui Moreira que pôs esta situação em cima da mesa, que é retomarmos a travessia fluvial que a Afurada teve durante décadas e que deixou de ter há 5 ou 6 anos a esta parte e que é um transporte fundamental para a freguesia, bem como que a cota baixa possa ter um período alargado, nomeadamente, noturno, ligada também por rede de transporte que não tem atualmente. A Afurada é hoje muito forte a nível de quem nos visita, ligada à vertente do turismo, que é fundamental para a atividade da restauração que existe, portanto, é muito importante a questão dos transportes.
A propósito do transporte fluvial, existindo uma marina em luta armada em Canidelo com a Afurada, que proveitos é que a freguesia em si e a população pode tirar ainda mais da existência desse ponto?
Isso também se perdeu. A marina quando nasceu, nasceu com um compromisso forte entre a administração da marina com a comunidade e a freguesia da Afurada. Lembro até, à época, um protocolo que existiu de cooperação, mas mais que isso, o compromisso com que vieram e ao dia de hoje não vejo isso. Sinceramente, o que espero da marina, e que procurarei logo falar com eles, é que possam honrar o compromisso feito no dia em que começaram a obra da marina e mais, passados estes anos, até podemos revisitar esse compromisso e evoluir para outras parcerias saudáveis que, nomeadamente, o setor da pesca necessita, mas tem de existir também vontade, quer da pesca em poder de alguma forma abraçar essa mais valia que é a marina, mas mais importante a marina poder honrar o compromisso de estarem para cooperar, é verdade que estão ligados a uma atividade muito especifica, marítima turística, mas podemos colaborar com o setor da pesca. É isso que procuramos fazer.
Na sua última passagem, deu uma atenção especial à parte desportiva. Recordemos os famosos veteranos do Futebol Clube da Afurada… O que tem na manga para essa área?
A questão do desporto, desde logo, poder resgatar e solicitar à Câmara Municipal, que nos transfira o polidesportivo que existe na Afurada de Cima para a esfera da Junta de Freguesia. Que a Junta possa com este equipamento promover atividades várias desportivas e jovens que se perdeu há anos. Mais, pior que isso, é a freguesia ter um equipamento que custou dinheiro, que a Câmara investiu, e está fechado há anos. E depois, falou dos veteranos, foram coisas muito interessantes, sinto até alguma nostalgia a falar disso, foram anos espetaculares, e em certa medida é reinventarmos porque a nível de associativismo, nestes últimos 12 anos, a Afurada também perdeu muito. Perdeu o Futebol Clube da Afurada, que era uma coletividade histórica que a freguesia tinha, perdeu o grupo desportivo do bairro, e digo perdeu porque entronca nessa história rocambolesca de tirar uma coletividade de um espaço que tanto lutou para ter e colocá-la num contentor junto a este polidesportivo que está fechado há anos, acenando à direção da coletividade a exploração desse polidesportivo. Sabemos bem qual a intenção do município para aquele espaço, mas eu quero anunciar aqui que é nossa intenção junto da Câmara resgatar também esse espaço para lá colocarmos e transformar esse espaço que tem todas as condições no centro de dia da Afurada.
E em relação às outras coletividades, há algum projeto para as revitalizar, ou estão bem e recomenda-se?
Há um projeto sempre para fazer mais e melhor. Procuraremos ir ao encontro das associações que existem, a casa do porto, o próprio grupo desportivo que agora tem outro nome, bem como o rancho que teve agora uma transformação é uma união afuradense que ainda não entendi muito bem.
Talvez falta de dirigentes?
Sim, em geral já não é o que era e sofreu um revés, mas isso não significa que vamos baixar os braços e resignar ao que existe. É verdade que há um défice a esse nível de pessoas para se chegar à frente, mas não desistimos e vamos procurar com essas instituições que são as forças vivas da freguesia procurar fazer diferente e melhor.
As festas de S. Pedro são já um ex-líbris marcante no plano cultural e turístico da freguesia. No passado, chegou-se a comentar que se cometeram algumas asneiras que terá provocado uma derrocada nas contas da própria autarquia. Qual o projeto que tem para que as festas não percam a importância que têm, não só para a população que já não vive sem elas, mas para os turistas que visitam a Afurada, como pretende sensibilizar a Câmara para que esse esforço financeiro não recaia, totalmente, sob a Junta de Freguesia?
A questão das festas, que também é uma associação, também aqui o que vi nestes 12 anos foi sob o ponto de vista do que é uma Junta de Freguesia para uma Comissão de Festas, que só é as maiores festas do município, exceto o São João, e também se perdeu, à luz dos meus olhos, proximidade, algum controlo sob do ponto de vista da organização a nível logístico que é preciso ter numa festa como estas. Uma Junta de Freguesia não existe para estar metida numa Comissão de Festas, nada disso. A Junta de Freguesia existe para ser o elo mais forte sob o ponto de vista institucional mais próximo das festas e da própria Comissão de Festas. Claro que depois acima disso só a Câmara, mas a Junta pode e deve acompanhar todo o processo que é alicerçado nas festas. E, se formos nós, como eu espero, não nos vamos deixar de fora mas sim estarmos ao lado nas decisões que têm de existir, responsáveis, ou seja, a Junta de Freguesia quase que funcionará como um Presidente da República funciona para um governo, é o garante de que as coisas funcionam, é o garante que o caminho que as festas seguem é o melhor, desde logo, para que não se perca as características da festa, embora também estejamos abertos a que haja evolução. Por exemplo, este ano, haverá um modelo diferente, com um palco secundário, e vamos ver como vai correr, espero que corra bem. Haverá também uma feira de artesanato e estamos abertos a coisas diferentes.
Mas este é um ano diferente porque estamos em ano eleitoral, por isso, dinheiro não deve faltar…
Esse é que é o ponto! O papel de uma Junta de Freguesia é importante, mas claro que não podemos chegar a uma direção de uma Comissão de Festas e dizer não gastem 20 porque só têm 10. Não os podemos obrigar a isso, agora, podemos e devemos ter capacidade de influência para que eles percebam que o caminho não é esse, que nos pode levar a situações menos agradáveis como aconteceram no passado. E essa é uma realidade premente. Por exemplo, olhei para o programa e, não tenho acesso ao orçamento, mas faço uma pequena ideia daquilo que poderá custar. É verdade que há uma empresa imobiliária e esta, talvez seja a divergência maior que tenho tem a ver com isto, que é o facto de as festas de S. Pedro precisarem de dinheiro para ser feitas, mas não podemos ir ao ponto de transformar isto num cartaz em que a coisa mais importante não seja mesmo as festas de S. Pedro. Eu defendo que o caminho tem de ser responsável, com os pés bem assentes no chão, com contas certas, ou seja, avançarmos para uma festa, para um programa, que envolve vários itens, seja a nível da ornamentação, do fogo de artificio, do cartaz, mas também a segurança e várias coisas para as quais é preciso haver dinheiro. Por isso é que é preciso contas certas no sentido de fazer-se um orçamento e chegar-se ao fim da festa, seja no lado da receita ou da despesa, e o orçamento bater certo. E nem sempre é assim, o que não é bom para as festas.
Até porque, um dos motivos por que o turista estrangeiro vai a essas festas não é tanto pelo cartaz mas pela procissão, por exemplo.
Para mim é o ponto mais alto das festas.
Diz-se que a Junta de Freguesia de Santa Marinha e S. Pedro da Afurada só utilizou ou dinamizou no centro da Afurada o edifício da Junta de Freguesia, porque o de Santa Marinha está a cair. Quer comentar?
Com o devido respeito, eu não gostava de dar mais para esse peditório. Mas estamos a quatro ou cinco meses de acabar este mandato e este ciclo e espero que haja mudança, e irei trabalhar para isso. A minha opinião é muito clara, e espero estar enganado, mas acho que este presidente e atual executivo deixarão a situação financeira da Junta pior do que encontraram. É verdade que a Junta de Freguesia de S. Pedro da Afurada deixou um défice, fruto destas situações que referimos das festas, mas também é verdade que a Junta de Freguesia de Santa Marinha deixou muito dinheiro nos cofres da Junta. Quando há um casamento herdamos o bom e o mau, da mesma forma, quando nos divorciamos, ou separamos, que é o caso, também vamos herdar o bom e o mau. E eu acho que o que vai acontecer, espero que não, é que estas duas freguesias vão, no cômputo geral, herdar uma pior situação financeira do que o que encontraram. Concretamente sobre o edifício, o que sei é que houve um protocolo, há uns anos, aliás, foi chacota política do Dr. Paulo Lopes, a questão de quando entrou na Junta há 12 anos, com o então presidente Joaquim Leite que tinham deixado um buraco no teto, etc. O Joaquim Leite deixou um protocolo pendente para o arranjo dessa situação do teto. Mais tarde, já com Paulo Lopes, esse dito protocolo veio a concretizar-se, a Câmara deu o dinheiro, para fazer esta obra. Eu não sei onde foi feita essa obra, onde foi gasto esse dinheiro, mas há uma coisa que sei, é que no telhado da Junta é que não foi! Tanto que há agora, passados estes anos todos, um segundo protocolo de apoio que de 35 mil euros passou para 150 mil euros, e que espero que, ao menos, este seja cumprido e que até ao fim do mandato algo que foi de chacota contra o então presidente Joaquim Leite, passados 12 anos, que, ao menos, essa obra o presidente da Junta atual seja capaz de concretizar.
Qual a mensagem que gostaria de deixar aos cidadãos de S. Pedro da Afurada?
Antes da mensagem em si, lembrar que é nossa intenção voltarmos a ter um Festival da Sardinha Assada, puro e duro, mas com um novo modelo que passará por incluir toda a restauração nesse festival e fazer dele uma marca para o futuro. A mensagem é muito simples, as pessoas sabem com o que podem contar com o Eduardo Matos, conhecem-me, o Eduardo Matos conhece muito bem a freguesia onde nasceu e cresceu, conhece muito bem as carências que a freguesia tem, conhece muito bem o que se deixou de fazer nestes últimos 12 anos. Portanto, com compromisso, com envolvimento, nos bons momentos, mas, sobretudo, nos maus momentos, porque não podemos estar só nos bons momentos, vir à procissão, às festas, é importante estarmos presentes nesses momentos, mas mais importante é estar nos maus momentos, nas cheias que, infelizmente, a Afurada tem probabilidade de as ter, estarmos desde a primeira hora no terreno ao lado das pessoas. Para isso é preciso compromisso a 100 por cento, foco, envolvimento e paixão. E o Eduardo, como as pessoas sabem, só aparece novamente porque correspondeu àquilo que foi vendo ao longo destes anos. Ao longo destes anos, embora me tenha afastado até para que a Afurada pudesse respirar sem mim, mas estive sempre presente, seja por via das redes sociais, das pessoas, do contacto permanente, e as pessoas sempre tiveram um carinho especial por mim. Uma vez fui à Afurada com o meu filho mais velho, e as pessoas tratavam-me como presidente, e o meu filho, que não se lembra muito bem de mim enquanto presidente, achou isso curioso e eu expliquei que isso acontecia, talvez pelo carinho que ainda sentem e por não esquecerem o que o pai foi. Mas também porque sentiram bem na pele aquilo que foi uma má decisão, por sinal do meu partido, alicerçado num processo mal conduzido, e que pagou cara essa fatura. O povo da Afurada pagou muito caro, nestes 12 anos, e é por essa razão que também volto para puder, de alguma forma, retribuir o tempo que, efetivamente, as pessoas pagaram com esta fatura e fazer recuperar o orgulho afuradense.