“NÓS NÃO VAMOS BAIXAR OS BRAÇOS ATÉ VERMOS CONCLUÍDO ESTE PROJETO”

A Ribeira Grande comemorou, no passado dia 29 de junho, no Teatro Ribeiragrandense, o seu 42º aniversário de elevação a cidade. Esta data foi festejada junto da comunidade ribeiragrandense, com um programa recheado de atividades, que decorreram de 25 de junho a 2 de julho e incluíram as tão ansiadas Festas da Cidade, que atraíram milhares de pessoas a este concelho. A tradicional sessão solene, que se realizou no dia de São Pedro, padroeiro do concelho, e do Feriado Municipal, foi um dos pontos altos das celebrações e culminou com a entrega da Medalha Municipal de Mérito ao atleta Rui Cansado, à médica Rosa Ponte, ao músico Jorge Silva e ao investigador Rui Ponte.

 

A celebração do 42º aniversário da elevação da Ribeira Grande a cidade culminou com uma sessão solene, que decorreu no passado dia 29 de junho, no Teatro Ribeiragrandense. A cerimónia ficou marcada pela presença de Sofia Ribeiro, secretária regional da Educação e dos Assuntos Culturais, Alexandre Gaudêncio, presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, José Luís Pontes, presidente da Assembleia Municipal ribeiragrandense, António Miguel Soares, presidente da Câmara Municipal do Nordeste, entre representantes de entidades civis, políticas, militares e religiosas.

A Ribeira Grande afirma-se como sendo uma das principais cidades e concelhos regionais, assim como um caso de sucesso nacional, pelo crescimento e pela sua irreverência, ao transformar-se num local agradável e com plenas condições para se viver, trabalhar ou visitar.

Este que foi um dos pontos altos das comemorações da ascensão da vila criada no reinado de D. Manuel I, a 4 de agosto de 1507, à categoria de cidade, a 29 de junho de 1981, festejado no Dia de São Pedro e do Feriado Municipal, data em que se realizaram as tradicionais Cavalhadas e procissão, contemplou a distinção de três personalidades, que se destacaram pelos seus feitos em prol do município ribeiragrandense.

As intervenções foram inauguradas pelo orador convidado, Rui Ponte, investigador principal no departamento de Atmosfera e Oceanos, na Atmospheric and Environmental Research, Lexington, Massachusetts (EUA), que fez questão de prestar um tributo aos seus pais, porque “é muito por causa deles que aqui estou e lembrá-los é prestar-lhes uma mais do que merecida homenagem”.

Evocando Gaspar Frutuoso, o investigador ressaltou que “o avanço da ciência tem sido simplesmente vertiginoso”, referindo que “antes de tudo é preciso saber ver com olhos de ver, como se costuma dizer, observar”. “Quem diz saber ver, diz saber ouvir e não só, precisamos de sentir verdadeiramente com todos os nossos sentidos. Depois, precisamos de questionar, ser curiosos, querer saber os quês e porquês do que se passa à nossa volta, das coisas que nos dizem respeito e do que nos é importante, o que pode mesmo envolver alguma experimentação, como fazem os cientistas. Ao mesmo tempo, não se pode esquecer o benefício da dúvida, o ser cético quanto baste. É do equilíbrio entre dúvidas e certezas que nasce a tolerância, o espírito aberto, o verdadeiro conhecimento, que implica também saber reconhecer as limitações do próprio conhecimento e, já agora, também é preciso algum deslumbramento, alguma admiração, algum espanto, para o que se vê, ouve e o que se sente e isso só pode ajudar a nos mantermos motivados e curiosos. Todo este conjunto de atitudes tem tido um papel fundamental no desenvolvimento científico e tecnológico dos últimos séculos, mas reforço a ideia de que esta atitude científica não se quer cingida só à vida científica, pode e deve ser praticada por todos nós, no nosso dia a dia”, salientou o cientista.

Asseverando que a luta pelo conhecimento e contra a ignorância deve ser uma preocupação constante, Rui Ponte fez votos para que “a cidade da Ribeira Grande cresça e amadureça ela também de uma maneira ponderada e esclarecida, sabendo sentir verdadeiramente os desejos dos seus habitantes”.

Posteriormente, José Luís Pontes, presidente da Assembleia Municipal da Ribeira Grande, foi convidado a tomar a palavra, destacando que “importa fazer um balanço da atuação da Assembleia Municipal, que tem realizado as suas sessões de um modo descentralizado por todas as freguesias do concelho, promovendo, assim, uma maior aproximação e participação democrática entre eleitos e eleitores”.

Garantindo que a casa da democracia tem o direito de intervir e de participar na discussão de grandes causas, o autarca sustentou que “o nosso partido é a Ribeira Grande e é por ela que continuaremos a lutar. Na última Assembleia Municipal foi aprovado, por unanimidade, um voto de recomendação para que o atual Governo Regional tenha um comportamento diferente do que tem tido até agora, nomeadamente na concretização de um conjunto de infraestruturas primária, essenciais para o desenvolvimento do nosso concelho, nomeadamente nas áreas da economia, educação, saúde, habitação, entre outras”.

Para o presidente da Assembleia Municipal ribeiragrandense, este concelho “foi, durante muitos anos, esquecido pelos sucessivos Governos, não obstante de ser um dos municípios pilares da economia regional, sendo certo que não podemos exigir a concretização de todas as obras elencadas de um dia para o outro, mas é preciso agir e atender já às reais necessidades da Ribeira Grande”.

Por outro lado, foi o discurso de Alexandre Gaudêncio, presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, que roubou a atenção do público. Afiançando que não é por acaso que estas comemorações coincidem com o Dia de São Pedro, o edil referiu que tal como o patrono da cidade, “que fundou uma das mais importantes instituições de todos os tempos, a igreja, também nós queremos deixar a nossa marca como território e como gentes, que têm muito para dar e para vender. Também queremos, daqui a dois mil anos, ser recordados como os obreiros de uma cidade, que soube aproveitar as oportunidades dos vários tempos, sem nunca descurar o que de melhor tem, que é as suas gentes”.

Evocando a nova estratégia para a próxima década, o autarca ribeiragrandense revelou que, com base nos novos fundos comunitários, o município definiu inúmeros novos investimentos, “que podem ajudar a alavancar a economia local”. Assim, no que concerne a área da sustentabilidade e sentido de responsabilidade na preservação ambiental, o edil anunciou o Plano para a Circularidade, “que é inédito e tem ações muito concretas para o reaproveitamento dos resíduos. Ao nível da reabilitação e regeneração urbana, pretendemos continuar a implementar diversas ações para dar uma nova vida a espaços degradados ou em desuso, como é o caso de virar a cidade para a ribeira, onde se pretende a construção de novas zonas públicas e locais de contemplação, mas também estimulando a prática de exercício físico, através da mobilidade suave e, aqui, insere-se a requalificação da antiga escola Gaspar Frutuoso, cujo imóvel será cedido pelo Governo Regional e pretende ser um polo de desenvolvimento em áreas de apoio à sociedade, mas também com a ligação a um troço considerável da ribeira. Ao nível das infraestruturas, a recuperação ambiental da cidade, através da ligação da rede de saneamento básico à Estação de Tratamento de Águas Residuais será fundamental para, finalmente, se limpar a zona ribeirinha da cidade, possibilitando ainda mais a atração de novos negócios e investidores para esta zona do concelho. Tudo isto só é possível com planeamento, visão e ambição, daí ser muito importante o reordenamento do território”.

Na ocasião, o presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande aproveitou a oportunidade para tecer duras críticas ao Governo Regional dos Açores, lamentando “a falta de apoio que temos sentido por parte das entidades regionais nestas obras estruturantes. Falo da reabilitação da frente-mar, que pretende mudar a face da cidade e ser uma porta de valorização de um território que foi há muito esquecido” e reiterando que “nós, ribeiragrandenses, não vamos baixar os braços até vermos concluído este projeto”.

Assegurando que não é compreensível que o terceiro concelho mais populoso dos Açores, que contribui em segundo lugar para o Produto Interno Bruto da região, “tenha sido, consecutivamente, relegado para segundo plano no investimento público e nas decisões políticas”, Alexandre Gaudêncio afirmou que “é por isso que, cada vez mais, acredito que a Ribeira Grande só será devidamente compreendida quando tiver algum dos nossos junto daqueles que decidem”, apelando para que “os partidos com representação parlamentar olhem mais pela nossa terra, fazendo valer os nossos créditos aquando da discussão destes lugares”.

Neste seguimento, o presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande reforçou, ainda, que “apesar de todas estas vicissitudes e da falta de apoio em áreas como as referidas, não viramos a cara à luta e, todos os dias, trabalhamos para deixar a nossa terra melhor do que quando a encontramos”. Admitindo que a autarquia está orientada para os que mais necessitam, o edil sublinhou que “isso não nos tira o foco do desenvolvimento sustentável, a pensar nas novas gerações e na qualidade de vida que queremos deixar para os nossos filhos. No final de contas, seremos avaliados pelo nosso legado e não pelas conquistas que fomos conseguindo ao longo da vida, essa é a grande missão, tudo o resto é acessório”.

Por fim, foi Sofia Ribeiro, secretária regional da Educação e dos Assuntos Culturais, quem encerrou as intervenções, em representação do presidente do Governo dos Açores, frisando que “hoje, celebramos a Ribeira Grande e o seu 42º aniversário de elevação a cidade. São 42 anos de afirmação de uma identidade, de envolvimento de uma comunidade e da dignificação de um concelho. A Ribeira Grande merece, efetivamente, o reconhecimento da sua história e conta com o envolvimento de todos na planificação do seu futuro”.

Aludindo que, para a região, a Ribeira Grande destaca-se não apenas como uma cidade ou município, mas também como uma comunidade em desenvolvimento, com uma economia em progresso capaz de gerar riqueza, a secretária regional da Educação e dos Assuntos Culturais alegou que “este Governos dos Açores que acredita na conjugada importância do agir e do reagir. Definimos como prioridade atuar pelo desenvolvimento das pessoas no seu contexto individual, mas também na sua dimensão comunitária. Importa promover, por isso, o reforço das políticas sociais e culturais que alicerçam o desenvolvimento da economia. O Governo dos Açores reconhece que a notabilidade da Ribeira Grande se assegura também pela boa cooperação e desenvolvimento de todas as instituições do concelho e das pessoas que as fazem diariamente, ancorada numa prioridade socioeducativa em parcerias, voluntariado e solidariedade intergeracional, que tanto prestigia esta cidade, este concelho, a Ilha de São Miguel e os Açores como um todo”.

Respondendo ao repto lançado por Alexandre Gaudêncio, Sofia Ribeira confessou que, “efetivamente, não é possível correspondermos de um dia para o outro a todos os anseios de uma comunidade e de um concelho, mas é um trabalho que estamos a fazer em progresso”.

Após as mais diversas exposições, decorreu um momento, que brindou os presentes com as homenagens da Câmara da Ribeira Grande às individualidades que se destacaram ou contribuíram para o desenvolvimento do concelho e das suas gentes. Assim, Jorge Silva foi agraciado com a Medalha Municipal de Mérito, pelos 50 anos de carreira como músico. Neste seguimento, também a médica e antiga delegada de saúde da Ribeira Grande, Rosa Ponte, foi distinguida, assim como o investigador Rui Ponte e o atleta Rui Cansado, atual detentor do 3º lugar no ranking mundial de ginástica artística, uma recompensa que foi recebida pelo seu pai, José Ribeiro.

Depois do tributo às individualidades que contribuíram, inequivocamente, para a comunidade, promoção e prestígio da Ribeira Grande, o público foi presenteado com um momento musical, protagonizado pelo projeto Arquipélago Cromático, que encerrou a sessão.

No final, todos se reuniram no foyer do Teatro Ribeiragrandense para brindarem e comemorarem os 42 anos da elevação da Ribeira Grande a cidade.