Nestas datas festivas, nacionais ou importadas, entre Halloween, Pão por Deus e São Martinho, assiste-se a um entusiasmo que aquece estes primeiros dias de frio outonal.
Em ambiente de festa é natural libertarmo-nos e cedermos a alguns dos prazeres mundanos da vida, à boa comida e bebida. Aliás, seria uma ofensa à nossa riqueza e património gastronómicos se deles não desfrutássemos. Outra coisa, porém, são os exageros em matéria de álcool a que, por vezes, assistimos no seio da camada mais jovem.
A análise de um estudo do SICAD mostra-nos um evoluir claro de factos, indicadores e dados que atestam contextos e realidades substancialmente diferentes. É sabido que os jovens de hoje são naturalmente diferentes dos de 2008. Dez anos volvidos, constata-se que agora os jovens estão, infelizmente, cada vez mais distantes dos círculos de socialização ditos normais e encaminham-se para a crescente vinculação às realidades virtuais, a um mundo que exibe e premeia comportamentos de risco.
Incentiva-se uma vida por imitação, por “likes”, por desafios cibernéticos absurdos, por uma necessidade de afirmação através de atos e atitudes extremas e fantasiosas, na tentativa de se ser o mais forte, o mais dominante e o mais agressivo.
A substituição ou alienação de sentimentos é uma realidade crescente, enquanto se assiste à procura da satisfação imediata, associada ao aumento do chamado “binge drinking”, e é neste segmento que se registam valores relevantes no estudo do SICAD.
A este cenário alia-se uma realidade familiar cada vez mais exigente, com mais tarefas, funções e deveres e, por conseguinte, com menos tempo de qualidade para a família, para o fortalecimento dos laços parentais através da comunicação, fundamental para a construção de jovens saudáveis.
Devemos todos assistir a isto com receio e reserva e é por isso que considero fundamental o reforço de políticas nesta matéria. Nesse sentido, destaco o esforço feito em termos legislativos, em especial com a aprovação do Decreto Legislativo Regional nº 10/2018/A, sobre o regime jurídico da venda e consumo de bebidas alcoólicas na Região Autónoma dos Açores, publicado no “Diário da República” de 28 de agosto deste ano, e que procura dar resposta a muitos destes aspetos, imprimindo o equilíbrio necessário entre a componente formativa de sensibilização, punição e inibição de comportamentos, através da compra e venda deste produto, diminuição da idade, coimas mais elevadas, etc.
De louvar também os diversos programas em curso nos Açores para a prevenção e combate ao consumo de álcool entre os jovens, como o Plano de Ação para a Redução dos Problemas Ligados ao Álcool e a ação do Fórum Regional Álcool e Saúde. Todavia, a melhor postura é a de cautela, de atenção, de ouvir os silêncios dos nossos jovens, procurando acompanhar e assegurar que estes, apesar de viverem e conviverem neste novo mundo, sabem distinguir o bem do indesejável, do saudável e acessório, do que traz felicidade ou sofrimento, procurando mostrar e apontar um caminho de escolhas para um futuro promissor.
A todos, bem hajam.
Mónica Rocha
Deputada PS, ALRAA