A elevada carga de biomassa existente nas matas e as políticas existentes, tais como a aprovação pelo anterior governo PSD/CDS da chamada Lei da Eucaliptização, que levou ao aumento significativo das áreas de eucalipto plantadas, com reflexos negativos nomeadamente no futuro próximo, a extinção dos Serviços Florestais, uma nova lei dos baldios visando a sua expropriação aos povos, o abandono da agricultura e o desvio de mais de 200 milhões de euros do PRODER para outras áreas, tornaram impossível controlar qualquer fogo recorrendo apenas ao seu combate.
Por outro lado, não tem havido uma acção correctiva sensata em relação ao incendiário doente, mas também ao incendiário não doente e seus mandantes, para os quais falta a intervenção necessária e eficaz da justiça penal.
O problema não é de agora e, se recuarmos no tempo, certamente nos lembraremos do incêndio na serra de Sintra em 1966 e da morte de 25 militares do Regimento de Artilharia Antiaérea Fixa de Queluz, durante os trabalhos de extinção.
Nessa altura, o fogo também lavrou com intensidade brutal, entre os dias 6 e 12 de Setembro, as chamas irromperam na Quinta da Penha Longa, alastrando à Quinta de Vale Flor, Lagoa Azul e Capuchos e, em diversos momentos, a situação apresentou-se incontrolável, sendo favorecida por elevadas temperaturas e constantes mudanças de vento forte. A presença no ar de corpos incandescentes, originou focos de incêndio noutros pontos do concelho, tais como, Albarraque, Cacém, Colares, Gouveia, Magoito, Mucifal, Pinhal da Nazaré, Praia Grande e Praia das Maçãs, obrigando à dispersão dos meios de combate.
Foram mobilizados todos os corpos de bombeiros do distrito de Lisboa, aos quais se juntaram, ainda, por absoluta necessidade de reforços, pessoal e material de Caldas da Rainha, Elvas e Leiria e também várias forças militares e militarizadas, os quais totalizaram mais de quatro mil homens em acção, sem os meios hoje disponíveis.
Sendo certo que se torna imprescindível uma aposta decidida na prevenção, não é menos correcto afirmar a exigência duma verdadeira política de protecção civil, movida por um sistema eficaz com pessoas devidamente credenciadas e capazmente financiado, a par do reordenamento florestal e territorial e o apoio à agricultura, medidas há anos solicitadas pelo PCP que propõe ainda a valorização dos recursos florestais no respeito pelas diferentes realidades sociais existentes na floresta, nomeadamente a pequena propriedade e a propriedade comunitária, contribuindo assim para travar o abandono e fixar as populações.
Compreende-se perfeitamente os sentimentos de indignação, frustração e insegurança dos portugueses perante tamanha desgraça, derivada essencialmente da negligência deste e dos anteriores governos quanto à forma de acompanhamento do problema dos fogos florestais, mas também é compreensível a revolta causada pelo aproveitamento político dos partidos da oposição, PSD e CDS, os quais lamentavelmente tudo fazem para usar as chamas, as mortes, e a devastação em seu proveito.
É verdade que estamos perante uma acção criminosa, de décadas, de vários governos, em que se insere o actual, ao permitirem que a floresta permaneça desordenada, o abandono das actividades agrícolas, a desertificação das localidades mais pequenas e ao permitirem que as faixas de segurança marginais das estradas continuem por limpar, ou por promoverem uma política de substituição da floresta autóctone por eucalipto sem as devidas medidas de minimização de risco, por promoverem a falta de recursos públicos, financeiros, materiais e humanos, que afectam as corporações de bombeiros e sapadores e a falta de estruturação de uma política de protecção civil adequada e de um serviço de comunicações público e eficiente.
Estamos seguramente lembrados dos suicídios não existentes em Pedrógão, farsa protagonizada pelo líder do maior partido da oposição, Passos Coelho, ultrapassado agora à sua direita por Assunção Cristas com a moção de censura, fingindo-se esquecida das mortes em incêndio ocorridas no seu mandato e, também ela, corresponsável pela situação actual com as políticas que seguiu e propôs como ministra da agricultura.
Esta gente não presta, mas presta-se a atitudes que só revelam populismo, falta de decoro e de sensatez, aliás, a exemplo do que vai grassando por essa Europa fora.