O EURO QUE NOS DESILUDIU

Faz agora 20 anos que começou um caminho em que se prometia crescimento, estabilidade e convergência para os portugueses e o País, quando em Janeiro de 1999 aderimos ao euro, no entanto, nenhuma destas promessas se confirmou, pois essa adesão não representou convergência com o «pelotão da frente» denominação tão do apreço dos que nos meteram neste compromisso ruinoso.

Existe sim, por exemplo, uma contradição entre os reais propósitos de liberalização, privatização e flexibilização do mercado de trabalho que estavam no cerne da nova estratégia europeia de Lisboa e os proclamados objectivos da criação de mais emprego e de emprego com direitos e qualidade, factores essenciais para mais justiça social.

O euro tem um problema insolúvel, pois os países que agora estão gravemente endividados, se conseguirem libertar-se à custa de reduções de despesas do Estado, previsivelmente endividar-se-ão novamente.

Esta situação acontece porque estes países são vítimas de uma falha fundamental desta moeda, para a qual já antes do seu arranque economistas haviam alertado, ou seja, uma moeda única não pode funcionar senão quando todos os países participantes são economicamente homogéneos.

Por essa razão, o euro é uma moeda muito prática, mas faz milhões de vítimas, não pode funcionar e coloca à consideração dos europeus as vantagens de uma passagem para um sistema de dinheiro do Estado.

Quanto a estabilidade, basta olharmos para os números do desemprego e percebermos o efeito devastador que a adesão à moeda única teve na vida de centenas de milhares de trabalhadores portugueses, pois de uma taxa de 4,4% há 20 anos, o desemprego oficial chegou aos 15% durante os duros anos da troika a que se juntaram todos aqueles que foram obrigados e até convidados a emigrar pelo governo PSD/CDS que ainda pretendeu ir além da troika deixando o País sem os quadros que tanta falta fazem hoje na Saúde, Educação, Indústria, Transportes e demais funções sociais do Estado.

Passados 20 anos sobre o lançamento do euro, a situação da moeda única europeia é paradoxal, pois por um lado o fracasso deste projecto é bem visível e reconhecido por grande parte de economistas competentes, inclusive numerosos prémio Nobel, e por outro lado este assunto agora é tabu em França, ao ponto de nenhum responsável político ousar abordá-lo de frente.

A partir do fim de 2009, a crise da dívida pública da Zona Euro foi de tal forma grave que levou à criação do Fundo Europeu de Estabilização Financeira e à adoção de várias reformas de estabilização monetária.
A zona euro é aquela em que a taxa de crescimento se tornou a mais baixa do mundo e as divergências entre os países membros, longe de serem reduzidas, ampliaram-se fortemente e em vez de favorecer a eclosão de um mercado europeu de capitais, a moeda única foi acompanhada de uma ascensão do endividamento, público e privado, da maioria das nações levando a um notório descontentamento dos cidadãos.

Bem podem os partidários do euro criar um quadro económico apocalíptico relativamente à saída da moeda única que não conseguirão convencer os cépticos agora com as desvantagens bem mais visíveis e aprofundadas.
Por falta de compreensão destas questões reais, muitos europeus ainda mantêm um receio que não desapareceu em relação a qualquer reviravolta na situação actual, enquanto os apoiantes do euro continuam a tentar convencer-nos das mirabolantes vantagens na permanência com razões que a razão desconhece, quantas vezes apresentando o Brexit como argumento máximo.

As ameaças e chantagens da União Europeia voltarão a pairar sobre o nosso País e a «austeridade» voltará a cair sobre os trabalhadores, os reformados e os pequenos e médios empresários, pois o euro é inseparável da matriz neoliberal da União Europeia.

Nas próximas eleições para o Parlamento Europeu importa vincar bem as diferenças que nos separam daqueles que, ingenuamente ou não, continuam a defender uma ilusória «reforma do euro» em «benefício» de Portugal e da Europa, porque não devemos esquecer que «os tratados europeus servem os interesses daqueles que os escrevem».