“O PODER LOCAL DEU VIDA AOS TERRITÓRIOS”

Maria Amélia Traça nasceu a 27 de fevereiro de 1937, na Freguesia de Freixedas, em Pinhel. Exerceu a profissão de professora durante 17 anos, contudo, por motivos de saúde, teve de pedir a exoneração e, através de um concurso, ingressou, em 1972, no Serviço Nacional de Emprego, hoje Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), no Porto.

Com a abertura do Centro de Emprego de Vila Nova de Gaia, pediu transferência para o seu local de residência, tendo exercido funções de técnica de emprego até 1988, altura em que foi nomeada diretora do Centro de Emprego de São João da Madeira, cargo que ocupou até 1990, momento em que foi designada subdelegada da Delegação Regional do Norte do IEFP. Desempenhou estas funções até 1995, data em que passou à situação de aposentada. Maria Amélia Traça iniciou a sua participação na política local, pouco tempo depois do 25 de Abril de 1974, tendo sido membro do executivo da Junta de Freguesia de Mafamude de 1980 a 1983, de 1986 a 1990 e de 1994 a 2010, assim como da Assembleia de Freguesia de Mafamude de 1990 a 1994.

Mais tarde, foi convidada a integrar a lista da coligação “Gaia na Frente” (PSD/ CDS-PP), liderada por Luís Filipe Menezes, à Câmara Municipal de Gaia, tendo assumido o cargo de vereadora da Ação Social, Saúde e Emprego, até 2013. Após a apresentação da renúncia do então autarca à presidência, a 11 de setembro de 2013, Maria Amélia Traça passou a assumir o lugar de presidente, função que desempenhou até ao dia 21 de outubro de 2013, data da tomada de posse de Eduardo Vítor Rodrigues, atual edil gaiense, como seu sucessor. Posteriormente, foi presidente da delegação da Cruz Vermelha Portuguesa de Gaia, durante cinco anos, e está, atualmente, ligada à Misericórdia de Gaia e à Liga dos Amigos do Centro de Saúde de Soares dos Reis. 

O poder local foi uma das maiores conquistas da Revolução dos Cravos. Como vê a evolução desde então até agora?

O poder local deu vida aos territórios, porque as autarquias passaram a ter melhor conhecimento das necessidades e das aspirações dos seus habitantes e, portanto, as pessoas conseguiam chegar mais depressa ao poder, do que quando era só o poder central. Portanto, eu acho que foi uma conquista, que deve permanecer para sempre.

Desde o dia 25 de Abril de 1974 até à atualidade, quais foram os marcos mais importantes?

Eu ainda me lembro de votar e de me estarem a perguntar em quem é que eu ia votar. Nessa altura, era eu professora, em Castanheira de Pera e, portanto, o direito ao voto das mulheres foi uma das grandes conquistas de Abril, a par da liberdade de expressão, que nos permite manifestar aquilo que pensamos e que gostávamos de ter. Como tal, vivemos num mundo mais aberto.

Enquanto ex-autarca, de que forma é que acha que contribuiu para o engrandecimento da democracia em Portugal?

Eu fui secretária do executivo da Junta de Freguesia de Mafamude durante mais de 20 anos e, entretanto, fui eleita para a Assembleia Municipal e terminei, praticamente, a minha carreira política, depois, como vereadora da Ação Social, Saúde e Emprego da Câmara Municipal de Gaia, de 2009 até 2013 e era a terceira da lista. Portanto, quando, na altura, o senhor presidente da Câmara, Luís Filipe Menezes, resolveu pedir a demissão, para se candidatar à Câmara Municipal do Porto, o número dois, que era o doutor Marco António, também tinha ido embora, então automaticamente eu assumi o cargo. Foram pouco mais de quarenta dias, como tal, a passagem pela presidência não me diz nada, pois eu limitei-me, basicamente, a fechar dossiers e trabalho do quotidiano, porque já estávamos em campanha eleitoral. O facto de ter sido vereadora permitiu-me dar continuidade ao trabalho que eu já realizava nas áreas da Ação Social e da Saúde, na Junta de Freguesia de Mafamude, de forma mais alargada e aprofundada. Eu liguei-me bastante às Instituições Particulares de Solidariedade Social e incentivei-as a desenvolverem atividades. Ao nível da saúde, criei um programa que ajudava as famílias mais desfavorecidas, na medida em que podiam ir a uma das 60 farmácias aderentes adquirir os medicamentos necessários de forma gratuita, mediante o plafond disponibilizado pelas próprias. Este foi um projeto muito importante para a população, porque para além de sensibilizar as farmácias para os grandes problemas da comunidade, através delas ajudamos as pessoas. logo, foi um programa eficaz, que deu muito resultado. Recordo-me que, na Afurada, criei uma creche municipal, que ainda hoje existe. O meu objetivo era aproximar-me das pessoas, resolver problemas que muitas vezes são tão fáceis, mas que a população não tem meios para os solucionar. Já quando trabalhava no Instituto de Emprego, nunca fechei a porta do gabinete, nem as gavetas, portanto sempre tive liberdade de ação e de as pessoas me contactarem. Eu acho que foi interessante e mais uma atividade que eu desenvolvi. Acredito que, no dia a dia, fui capaz de resolver alguns problemas que já vinham de há muito. 

No seguimento dos últimos resultados eleitorais, como vê o futuro da democracia em Portugal?

Eu sou social-democrata, fui sempre e acredito na social-democracia. Aceito que outras pessoas tenham outras ideologias, só não aceito extremismos, porque não levam a lado nenhum. Eu acredito que os resultados só se conseguem com a colaboração de todos. Em pouco tempo, este Governo, liderado pelo doutor Luís Montenegro, já tomou posse, não era hábito em Portugal ser tudo assim tão rápido, mas as necessidades do país também o exigem, e apresentou 60 ideias que afirmou ter ido buscar aos restantes partidos e eu acho isto extraordinário, embora as pessoas achem pouco. Contudo, eu sou da opinião de que não pode ser só falar, é preciso governar. Portanto, eu acho que devemos ouvir, mas não devemos passar o tempo a ouvir e não a executar. Eu estou convencida de que se o Governo mostrar capacidade, o povo vai perceber. Eu, que vivi alguns anos no Estado Novo, acho que a democracia foi uma grande coisa implantada em Portugal.