O populismo caracteriza-se essencialmente por um conjunto de práticas políticas que procuram uma relação directa entre as massas e uma liderança política, um líder ou um caudilho, sem a mediação de instituições políticas representativas como os partidos ou até mesmo insurgindo-se contra eles e geralmente usando uma retórica que apela para figuras como os pobres e os descamisados.
Aproveitando-se habilmente da permissibilidade dos defensores do liberalismo político e económico, mas também dos apologistas das políticas seguidas pela social-democracia, o populismo de hoje vai ganhando terreno, como nos tempos que antecederam a II Guerra Mundial com o nacional-socialismo, leia-se nazi-fascismo, hitleriano e os respectivos ramos desde o Japão, passando pela Itália e desaguando na península ibérica, com os resultados de todos conhecidos.
Ainda há pouco tempo em França o País do iluminismo, ouvíamos Marine Le Pen da Frente Nacional, sucedâneo do fascismo, afirmar «Éramos um partido de protesto, agora somos de governo, esquerda e direita deixaram de fazer sentido».
O ultra-reaccionário norte-americano Steve Bannon anda em viagem pela Europa, para construir, a dar crédito ao New York Times, «uma vasta rede de populistas europeus a fim de demolir o establishment político europeu».
As forças políticas que Bannon anda a visitar não são, como sucede em Itália, os pequenos bandos de fascistas que se assumem como tal e desempenham igualmente um papel nestas águas turvas, no entanto uns e outros são hoje reflexo de um fenómeno que tende a acompanhar a crise sistémica do capitalismo: a ascensão do lúmpen enquanto porta-voz do nível mais degradado da ideologia burguesa. Os populistas que Bannon contacta são escolhidos a dedo, tanto na União Europeia como nos antigos países da europa de leste, ou seja, de França, Itália, Suíça, Alemanha, Hungria, Polónia até mesmo ao Vaticano.
No nosso rectângulo à beira mar plantado, o populismo também assenta arraiais a coberto do partido mais próximo do regime fascista derrubado com o 25 de Abril, o CDS, que alberga os que por vocação ou inspiração cristã pertenceram à defunta União Nacional, cuja sigla mais apelativa era «Deus, Pátria e Família», trilogia que, pelo menos desde os tempos do Estado Novo, tem guiado a direita conservadora portuguesa, não tanto na forma como vive, mas sobretudo na representação exterior que as classes dominantes tentam dar de si próprias.
A presidente do CDS, Assunção Cristas, na senda do actual populismo, afirmou há dias no congresso do seu partido que «Eu vejo-me como primeira-ministra, se o centro-direita tiver 116 deputados somos nós que governamos», na expectativa de que a intensa cobertura mediática de que é alvo consiga branquear o rasto de desgraças que o seu partido causou no anterior governo PSD/CDS.
Mas não se ficou por aqui a presidente e sem corar até já concluiu que «a prática constitucional mudou em 2015» certamente pretendendo trazer para a ordem do dia a contínua oposição do seu partido à Constituição actual e dar conhecimento da necessidade da respectiva revisão, assim aliciando os partidos mais permissíveis a esta ideia.
Sem conta nem medida, eis que se embrenha, numa atitude de profunda hipocrisia, pelos locais do interior mais fustigados pelos fogos e causadores de mais de cem vítimas mortais, facto nunca anteriormente visto, assim procurando esconder o papel da política de direita, executada por PS, PSD e CDS, que desprezou as pequenas explorações e promoveu a monocultura do eucalipto e do pinheiro.
Este populismo já vem de longe, sendo conhecido sob a denominação de «Pão e Circo» e foi largamente utilizado por governantes como Tiberius Gracchus, Julius Caesar e Caesar Augustus, ou seja, um sistema de acções políticas utilizado para o aliciamento das classes sociais mais pobres, estabelecendo com elas um vínculo emocional, mas tratando-as como categoria abstracta e daí resultando sempre uma dominação imperceptível para quem é dominado. Estejamos, pois, em alerta máximo para não sermos surpreendidos.