O populismo é um rótulo de difícil caracterização. Tradicionalmente está associado a uma conotação polémica e extremista, mas o populista é normalmente bem-sucedido na sociedade atual. A definição pode tornar-se difusa e está certamente desprovida de qualquer ligação filosófica, limitando-se ao apelo emocional, o que a torna quase impossível de refutar.

Não é uma ideologia política. É um modo de fazer política. Urge, perceber as suas raízes. Embora o objetivo seja agregar o maior número de pessoas possível, o populismo começa por identificar um nicho ideológico ligado a um povo de ideias homótonas e irreverente. A necessidade desesperada de alterar o cenário fá-las querer acreditar numa oposição, por mais irracional que seja. Nasce da insegurança e do medo. A história confirma isto mesmo.

Numa fase de crise política, após a 1ª Guerra Mundial, nasce, na Alemanha, o Nazismo, baseada em pensamentos extremistas que se identificam com uma ideologia ultranacionalista e autoritária que faz uso do poder ditatorial. Aos olhos do povo esta solução a curto prazo, capaz de criar mais postos de emprego, recuperar a economia e estabilizar a vida dos que viveram verdadeiros momentos de ansiedade e expectativa durante a guerra, parecia perfeita, longe de imaginar as repercussões sociais do futuro.

O mesmo sucedeu em Portugal, no pós 25 de abril, com o crescimento do comunismo agora associado à extrema esquerda. Qualquer programa de recuperação das liberdades que se haviam perdido na constituição de 1933 parecia ideal, mesmo tendo em conta a catástrofe que melhor adjetiva a recessão económica do ano seguinte.

Em suma, os seus intervenientes acabam por se tornar homólogos, mesmo sendo democraticamente antagónicos. Procuram o sucesso em nome do “povo” e justificam o fracasso através de técnicas de vitimização em relação às restantes entidades políticas.

O populismo é Vladimir Putin e Donald Trump. É deixar-se seduzir por um puritanismo segregacionista da atualidade. Mas a questão que se põe é: será que também há populistas bons, que conseguem gerir estes reflexos irracionais? À semelhança dos praticantes extremistas, o populista bom também caminha lado a lado com o povo. Só que tenta agradar a gregos e troianos para ter a aceitação geral, tornando o modus operandi negativo e desligado de ideias, todavia, surpreendentemente mais atrativo. Muitos consideram-no um elemento estabilizador e confiam na sua liderança sem pensar na falta de capacidade em se afirmar perante a indecisão. Dizem-se apartidários e raras vezes procuram o comentário que possa gerar uma opinião díspar à generalidade.

A única crítica que lhe é feita é o facto de ser pontualmente politicamente correto, algo com que todos nós já tivemos certamente que lidar. Posto isto, são ainda compridos os traços comuns entre o populista bom e o populista mau: a falta de naturalidade no discurso, o vazio crítico, a vida pouco genuína e falsamente próxima dos seus seguidores e uma personagem idiossincrática que personifica tudo isto. Carece então de uma forma para o solucionar.

O combate ao vazio de ideias também se faz com a consciencialização coletiva das pessoas através de estratégias racionais válidas. Há quem caia no erro de combater através de heurísticas emocionais enviesadas em atos semelhantes ao do populista. Há quem argumente que a melhor forma de o vencer é juntando-se a ele, entrando nesta bolha à primeira vista inócua; e persiste nos mais inconformados a vontade do seu afastamento legalmente forçado não o batalhando, mas erradicando-o forçosamente. Deve-se promover a forma certa de pensar, ou pelo menos a que acreditamos ser a forma certa, visto que, a curto ou longo prazo, esta levará sempre avante, não através da limitação das liberdades coletivas, mas na conquista da pluralidade democrática individual. Assim, mau grado o senso comum na necessidade de combater esta tendência anti ideológica são inúmeros os que personificam esta conceito ipsis litteris ele é. O rejuvenescimento de novas ideias e o içar de bandeiras ideológicas antigas tornar-se-ão o melhor e mais válido instrumento na determinação dos princípios em que acreditamos. Valide-se a criação de soluções para os problemas e não de problemas para as soluções.